EVENTO SUPRAPARTIDÁRIO
Uma crise de âmbito nacional levou a classe
política a convencionar um momento de trégua, nos embates por interesses
partidários e regionais, e a criação de uma comissão mista, formada por
representantes de todos os partidos políticos e de todos os estados da
federação.
Acordados quanto à pauta da reunião, ao dia e ao
local, onde realizá-la, para lá se dirigiram políticos de todos os Estados.
Em virtude do horário, que já se avançava noite
adentro, exaustos e convencidos da impossibilidade de esgotar a pauta, às 23
horas, suspenderam a reunião para uma pausa, acordado seu reinício no dia
seguinte, às 8 horas.
Todos restabelecidos, bem trajados, com ares de
quem dormira um sono repousante e reparador, dirigiram-se ao local da reunião.
Entretanto, a aparência dos representantes da
comissão do Estado de Minas Gerais despertou a atenção dos demais. Os mineiros
estavam com olheiras, barba por fazer, cabelos desalinhados e a mesma roupa
amarfanhada do dia anterior.
Logo, logo, foram tomados por intensa preocupação
no sentido de se precaverem em relação aos mineiros. Tudo indicava que, em vez
de descansar, capciosos e velhacos como são na política, passaram a
noite, trabalhando, elaborando estratégias, para lograr alguma vantagem para
Minas, em prejuízo dos demais Estados.
Este consenso fez com que um dos participantes, que
desfrutava de relativa liberdade junto aos representantes de Minas, se
aproximasse de um deles e, em conversa ao pé do ouvido, perguntou: O que
a bancada de vocês ficou fazendo a noite toda, que não tiveram tempo para
descansar, fazer a barba e se trocar?
Também ao pé do ouvido, o mineiro respondeu:
Lá em Minas, quando um grupo de pessoas se encontra para conversar, o primeiro
que deixar o grupo é “queimado” pelos demais. Em razão disto, ninguém foi
dormir.
*Jarbas W.
Avelar
Advogado e
Escritor