segunda-feira, 8 de agosto de 2016

A “salinha” – Arth Silva



Quando eu era muleke, por volta dos meus 8 a 12 anos de idade, eu ia lá na locadora de fita de vídeo da minha cidade (Soft Vídeo) e as vezes passava do lado da salinha dos filmes pornô. Sem que ninguém percebesse, eu me aproveitava enquanto meu pudor se descuidava e, sorrateiramente lançava meu olhar periférico, mais conhecido por aqui como “rabo de olho”, nas capas das fitas pornô dentro da salinha; pela eternidade de 2 segundos eu apreciava o relance do pecado. Aquilo era fascinante. Mas eu não tinha coragem de entrar lá; só olhava de longe. Eu era o muleke mais tímido que existia na América do Sul; morria de vergonha de alguém me ver lá dentro. Se eu percebesse que me viram só olhando eu já iria desistir da vida e querer tomar leite com manga (suicídio letal dos anos 80/90)

Mas eu morria de vontade de entrar lá. Entre as prateleiras de filmes de aventura eu só me imaginava um dia entrando na salinha pornô! Pra ter uma ideia, naquela época o máximo que eu via de uma mulher seminua era na banheira do Domingo Legal do Gugu.

O tempo foi passando, a vontade aumentando e uma vez fiquei lá na locadora por horas a fio fingindo procurar filmes de terror, esperei não ter mais nenhum cliente e o atendente ir no banheiro pra que ele não me visse entrando na salinha... Daí, quando eu já ia entrar pensei: vai que eu entro, ninguém me vê, mas e quando eu for sair? Já pensou se dou de cara com a minha mãe? Com algum colega da catequese? Ou pior, dou de cara com a menina que eu era apaixonado na escola? Fiquei ali tanto tempo tecendo medos e obstáculos que quase 10 anos se passaram.

Quando eu tinha já lá pelos meus 17 anos de idade finalmente, já com barba na cara, estufei o peito, criei coragem e entrei na cobiçada salinha pornô da locadora. Quando entro lá, dou um suspiro de alívio por ter vencido o desafio, limpo o suor frio da testa, olho pro lado e quem eu vejo? A guria que eu era apaixonado durante a infância, exatamente aquela que eu temia que me visse saindo da sessão pornô em meus devaneios absurdos da meninice. Olho pra ela, ela me olha, damos um rápido cumprimento um pro outro e eu saio da salinha.
... Chega, desisto, essa vida não faz mais sentido algum...


Arth Silva é escritor, desenhista, designer e redator publicitário, especialista em perder canetas azuis.
Autor do livro "Contos à Queima Roupa" e da coletânea de memórias dos idosos de Ituiutaba "Gavetas da memória" e "O tempo e a vida"
Seus trabalhos literários podem ser lidos na página "Sonhando a Deriva".
fsarthur@yahoo.com.br

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Crônicas da Adelaide Pajuaba

 




“AMIGOS PARA SEMPRE”

Comemorou-se nesse mês de julho, com muita expressividade o “Dia do Amigo”. Quanto adjetivo, quanto vocabulário para identificar um grande amigo… Desnecessário… Amigo é amigo e pronto…!!! A própria palavra diz tudo, se é amigo, o será sempre sem meio termo… Quando se destaca uma pessoa como tal, é fim de linha… Sem duvida uma das coisas mais sérias que existe. Não se brinca de amigo; pelo menos na concepção daqueles que sabem sê-lo sem reservas. Trair a confiança, menosprezá-lo, magoá-lo, substituí-lo é inadmissível… Só o amigo sorri e se empolga com sua felicidade… Sem aparato e rodeios. Segundo um palestrante, só pessoas boas e éticas têm “amigos”… os outros são conhecidos e concorrentes; diz ainda que “aqueles” que se dizem amigos, não suportam o sucesso, a felicidade e as conquistas do outro… Será verdade ?! Há quem concorde… E ele completa:” Basta olhar nos olhos daqueles que se acercam, quando você está feliz”… “A vida nos dá os irmãos, mas o coração escolhe o amigo” “Amigo não se procura, o coração encontra” “Fazer amigo é um dom; ter um é uma graça; Conservá-lo é uma virtude”…”Único sentimento maior que a amizade é o amor de Mãe”. São tópicos em evidência pelo dia, e que devem ser observados, pela importância… Afinal trata-se de “AMIGO”… O cantor e compositor Osvaldo Montenegro, na música “A Lista” assim se expressa com relação ao assunto:
Faça uma lista de grandes amigos, quem você mais via há dez anos atrás; Quantos ainda vê todo dia, quantos você já não encontra mais… Faça uma lista dos sonhos que tinha, quantos você desistiu de sonhar Quantos amores jurados para sempre, quantos você conseguiu preservar?
Onde ainda se reconhece, na foto passada e no espelho agora, Hoje é do jeito que achou que seria. Quantos amigos você jogou fora… Quantos mistérios que você sondava, quantos conseguiu entender? Quantos segredos que você guardava, hoje são bobos ninguém quer saber…
Quantas mentiras você condenava, quantas você teve de cometer Quantos defeitos sanados com o tempo… Eram o melhor que havia em você… Quantas canções que você não cantava, hoje assovia pra sobreviver, Quantas pessoas que você amava, hoje acreditam que amam você…
Que se tenha sempre bons e grandes Amigos…Aqueles que sorriem e chorem juntos…
Adelaide Pajuaba Nehme- ALAMI -



 
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