Whisner Fraga
Flagraram o deputado com o dedo no iPhone. O dedo no iPhone bolinando os peitos de uma atriz pornográfica durante uma sessão na câmara.
Ah, estou inventando. Não sei se era um iPhone. As imagens que vi do episódio estavam borradas. Propositalmente borradas. Também não sei se ele acarinhava, com a ponta do indicador, os peitos de uma atriz pornográfica. Não sei sequer se ele assistia a um filme pornográfico. A imprensa não foi muito convincente a respeito.
Mas o deputado olhava para a tela de um celular. Isso sim. E depois este deputado convidou para perto outros companheiros parlamentares, que atenderam ao chamado. A julgar pela atenção que dispendiam ao que passava na tela do telefone, podia se tratar sim de um filme pornográfico.
O assunto que era discutido pelos políticos era, de fato, enfadonho. Reforma política. Talvez os nossos representantes pensassem que se tratava de um jogo de cartas marcadas. Talvez nossos deputados estivessem cansados dessa brincadeira suja a que denominam política. Talvez nossos deputados sejam viciados em filmes pornográficos, só isso.
Parecia haver algo mais interessante para se fazer do que ouvir políticos se divertirem com reforma política. E se havia algo mais interessante para se fazer: ora, por que não?
Flagraram o deputado encarando a tela de um telefone celular. Ao que tudo indica, assistia a um filme pornográfico. Em vez de se aprofundar sobre o tema em votação, talvez de relevância para a sociedade, o repórter preferiu se ater a um filme pornográfico a que um deputado assistia. Me veio a curiosidade: o repórter que registrou a cena já viu algum filme pornográfico em seu horário e local de trabalho?
Flagraram um deputado rindo de Marin e da CBF, mas não do futebol, porque é torcedor devoto do Corinthians. A imprensa não noticiou.
Flagraram o deputado confundindo o botão do painel de votação com um botão do sistema operacional de seu celular. Dizem que o engano é frequente, dada a complexidade tecnológica dos aparatos da casa.
Flagraram o deputado confraternizando com seus amigos, enquanto Eduardo Cunha, que não congraçava com ninguém, mandava e desmandava na câmara. O assunto era desimportante: reforma política. Como foram desimportantes outros assuntos que passaram triunfalmente pela assembleia: maioridade penal e a lei das terceirizações.
Enquanto flagravam o deputado assistindo a um filme supostamente pornográfico, a câmara aprovava o fim da reeleição e a doação de empresas a partidos políticos. Eu acho que a imprensa apenas conseguiu, com a ajuda do deputado que via um filme pornográfico, desviar a atenção do povo para o assunto verdadeiramente irrelevante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário