domingo, 27 de julho de 2014

OLHARES - Arth Silva

Olhares
[Arth Silva]

Sorrir com os olhos é encontrar alguém que não te desperte um amor a primeira vista, e sim um amor a todo instante.
Quem já teve alguém assim a ponto de gostar mais dos seus próprios olhos quando tinha os dela ou dele refletidos nos seus, sabe do que estou falando... 

Olhos de decote que não te deixam tirar os olhos...
Olhos de ressaca, que te embriagam e viciam.
Olhos de semáforo, que por segurança ou costume te fazem olhar atentamente até que mudem de repente e, com a língua do olhar, te dizem tudo que você deve ou não fazer. 
Olhos de bola de gude, olhos emoldurados por óculos... Olhos castanhos que te dizem tudo aquilo que sua boca nunca conseguiu pronunciar...

Olhos que sorriem mais do que a boca e a sua pupila morde cada palavra escrita por ela...

Quem já teve a esperança verde dos olhos de alguém sabe do que falo...



Arth Silva é escritor, desenhista, designer e redator publicitário, especialista em perder canetas azuis.
Autor do livro "Contos à Queima Roupa" e da coletânea de memórias dos idosos de Ituiutaba "Gavetas da memória".
Seus trabalhos literários podem ser lidos na página "Sonhando a Deriva".
fsarthur@yahoo.com.br

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Crônicas de Saavedra




FÉ, VIDA E MORTE             
Saavedra Fontes
                                                                                   
Vida e morte são os dois maiores mistérios que a humanidade tem que enfrentar. A não ser através da fé religiosa ninguém pode explicar porque nascemos e morremos ou de onde viemos e para onde vamos. Em algum momento, inconformado com o nosso destino, que nos leva inevitavelmente ao fim da vida depois de inúmeros transtornos, alguém entre os bárbaros da gênese, com o cérebro já evoluído, teve a brilhante ideia ou falsa convicção de criar a “fé”. E deveria ser uma coisa tão fortemente aguardada pelo homem, de forma intuitiva ou trágica, que acabou no decorrer dos tempos a fazer milhares e milhares de adeptos, que a introduziram na sua época cada um à sua maneira, para benefício próprio ou coletivo. E serviu para transformar em ilusões o medo, que transcende toda expectativa de conformismo e compreensão.
Os gregos, no ocidente, foram talvez os que melhores trataram do assunto, através de metáforas e símbolos mitológicos, impondo à superstição um ideal político, depois imitado por muitos outros povos. Se Hades reinava sobre os mortos, Tânatos era a personificação da morte, e como seu irmão gêmeo Hipnos, o sono, era filho de Érebo, as trevas e Nix, a noite. Morte, noite, sono e trevas eram figuras que se aproximavam do grande mistério sem explicá-lo.
Na opinião do cético uma simples equação matemática interpretaria melhor o fenômeno, que recusamos a entender: Nada = Vida + Morte = Nada. Todavia, toda e qualquer obra do pensamento é criação humana, permitindo que os termos da citada equação possam ser mudados, sem que isso venha a alterar sua incógnita fundamental. Nossa busca pela verdade, nosso anseio intuitivo pelos valores espirituais não nos permitem aceitar a morte como um fim, mas como um meio de prosseguir uma jornada rumo à evolução. È uma percepção natural de todos os homens, do mais inculto ao mais erudito, embora este por vaidade se rebele contra a idéia de submeter-se.
Daí o valor da FÉ. Fundamentá-la no poder histórico da Bíblia não é apenas uma ousadia, mas a consumação da nossa intrigante capacidade de busca eterna, que poderá um dia nos trazer a Verdade do jeito que ela é. Por que não crer com toda a disposição de nossa alma, se o contrário é triste, diminui nossa esperança, ameaça nossa paz de espírito e nos leva ao sarcasmo e à desilusão. Quantas vezes sentimos a presença daqueles que nos anteciparam no caminho de volta, mesmo sabendo da impossibilidade de que isso aconteça? Mas é uma sensação impossível de ser negada, que só não é corriqueira porque o nosso envolvimento com o mundo material nos absorve totalmente. Ao nascer abrimos os olhos para o mundo à nossa volta, só mais alguns poucos olham para dentro de si mesmos, para se surpreenderem ao descobrir impressa em nosso espírito a chama atávica da fé imorredoura. A vida é uma passagem, deixemo-la passar, mas continuemos na procura de sua origem. E a melhor ferramenta para tal é esta minúscula palavra de peso incalculável.###


quarta-feira, 16 de julho de 2014

Crônicas de Maria Adelina



NAQUELE TEMPO (1959)


Naquele tempo infância tinha conotação diferente, de hoje em dia.
Carrinhos feitos rusticamente de caixotões no fundo do quintal,
patinete, estilingue eram brinquedos escolhidos pelos meninos.
As meninas adoravam as bonecas de pano, o fogãozinho de barro,
feito pelo avô atencioso, para brincar de casinha.
O balanço improvisado, amarrado no galho da mangueira apinhada de frutos tão doces, alvo dos estilingues dos meninos que saboreavam sob a sombra generosa, o fruto de graça, com graça...
Depois do jantar frugal, assentávamos no alpendre para apreciar 
o parco movimento da rua, observando atentamente, a volta dos trabalhadores pedalando energicamente,
suas velhas bicicletas, suspirando pelo  jantar.
Não tardava chegar os vagalumes para cintilar a noite...
Naquele tempo a graça estava na simplicidade, na espontânea paisagem, no embalo do vento indo e vindo, correndo parelha com o tempo...
Naquele tempo as manhãs ficavam interessantes no  debruçar nas janelas para apreciar os meninos entregando jornais, o verdureiro vendilhão pesando abobrinhas, mandiocas e limões,
no meio da rua.
Naquele tempo ouvíamos extasiados pelo rádio, a narração das novelas.
Aquele tempo ficou guardado, as melhores lembranças, sem páreo para substitutas lembranças...
Naquele tempo portas e janelas estava sempre aberta a espera do sol, ou de algum parente ou amigo, para trocar conversa, tomar café com pão de queijo, comer goiabada cascão com  queijo flamengo fresquinho. Naquele tempo receber, e ser recebido eram dádiva de DEUS.
Naquele tempo sentar-se  ao redor da mesa, para compartilhar pão e queijo, era ideal de vida.
Hoje o tempo veloz apressa, empurra, emperra tudo, fecha portas e janelas de medo. Naquele tempo, agregação familiar, amizades solidificadas pelas décadas, eram bênçãos preferidas pela  vida, feito raro nos dias de hoje, infelizmente. Naquele tempo.
Rendo-me aquele tempo, à aquele tempo!...  


Maria Adelina Vieira Cardoso e Gomes

Acadêmica da ALAMI

terça-feira, 15 de julho de 2014

Crônicas do Saavedra



 

O HOMEM PASSA E A HISTÓRIA FICA –
Saavedra Fontes        
                      
Nós, que alcançamos o século XXI e vivemos a parafernália de uma época globalizada, sentimos certa saudade do mundo menos conhecido do início do século passado. Havia o mistério, a magia do desconhecido, as notícias chegavam atrasadas, mas com impacto verdadeiro. Hoje não, a gente acompanha in loco e até mesmo na hora exata as coisas que estão acontecendo. Dramas e tragédias ficam banalizados pela variedade e quantidade de ocorrências a tal ponto, que ninguém mais se surpreende. . Já não há testemunha viva dos fatos ocorridos em 1900, claro que não. Ou há? Como deve ter sido a recepção dos leitores pelo livro “Os Sertões” de Euclides da Cunha, contando a saga de Antônio Conselheiro e a guerra de Canudos? Que confusão deve ter sido no Rio de Janeiro a política sanitarista de Oswaldo Cruz de combate à varíola e à febre amarela, gerando polêmica e incompreensão? E o voo de Santos Dumont com o seu 14-Bis, o que não deve ter dado o que falar? Mais ainda o alvoroço que deve ter causado Einstein com a sua Teoria da Relatividade, revolucionando as noções vigentes de tempo e espaço. E o pioneirismo e genialidade de  Henri Ford introduzindo a linha de produção industrial de seus carros ou o naufrágio do Titanic, matando mais de mil e quinhentas pessoas. Tudo isso e mais a guerra de 1914, a invenção do sutiã que substituiu o espartilho tradicional, a descoberta das ondas curtas que permitiram a radiodifusão internacional, a queda da bolsa de Nova Iorque gerando crise econômica internacional e pânico indescritível; a chegada dos antibióticos, todas essas coisas publicadas com entusiasmo e moderação para um público que começava a perceber que ainda veriam muito mais.
Era uma época de expansão extraordinária, tanto mais notável quanto menor era a nossa capacidade de imaginar o que estaria por vir. A aprovação do novo Código Eleitoral brasileiro, que instituía o voto secreto e o direito das mulheres votarem e serem votadas; os dias maravilhosos da organização da primeira Copa do Mundo de Futebol; o cinema de Mae West, a dança do Charlestown, a orquestra de Glen Miller, a Aquarela do Brasil de Ari Barroso, Pablo Picasso e as diabruras de Salvador Dali. Os horrores da Segunda Guerra Mundial com a invenção mais trágica do Homem, a bomba atômica, que arrasou as cidades japonesas de Nagasaki e Hiroshima, oferecendo à Humanidade uma síntese de sua crueldade.
O tempo é formador de notícias e estas fazem a história para a posteridade. O Homem foi à lua, inventou a minissaia e enquanto o ditador Franco morria na Espanha a ditadura era instaurada no Chile, na Argentina e no Brasil. E se dermos um salto maior chegamos a Bill Gates e Paul Allen que fundaram a Microsoft, a maior empresa de software do mundo. Nasce o primeiro bebê de proveta, cai o muro de Berlim e como pesadelo maior surge o vírus da AIDS. Isto é só o que o meu pobre cérebro pôde lembrar em algumas poucas horas de compromisso com os leitores. Poderíamos também falar da dengue, da gripe suína, das mudanças climáticas, mas trata-se de coisas mais recentes. O que pretendo mostrar é que o tempo passa rápido e com ele vamos nós, como participantes e testemunhas da História, a única coisa que sobrevive às nossas alegrias e tragédias.###




terça-feira, 8 de julho de 2014

Crônicas de Maria Adelina






OUTRO DIA OUVI NO RÁDIO.

Outro dia ouvi no rádio,uma canção que dizia assim:
"Eu não nasci pro trabalho.Eu não nasci pra sofrer."
Pensei instantaneamente:Então nem deveria  ter nascido.
Os que não nascem para o trabalho,não cumprem  missão.
Não estabelecem o progresso,a  proposital evolução.
Se estivéssemos nas mãos, dos que não nascem para o trabalho, estaríamos ainda, morando em cavernas.
Estaríamos cobrindo  o corpo com folhas. DEUS nos livre desse desconforto,desconcertante.
Quanto a nós, não nascemos para ficar atoa,é um tédio ficar de papo pro ar.
Não nascemos pelas vias do acaso.
Não estamos nesse plano por  nenhum descuido.
Por isso em pleno outono, continuamos semeando a primavera.
Não  cansamos de viver a vida, oportuna, por todos os ângulos.
A vida é dádiva,para  os que tem olhos para VER,ouvidos para OUVIR,sentidos para SENTIR.
O que   aborrece nesse viver são os ruídos contrários,contraditórios ,da verdade MAIOR.
Contraponho: Nasci para o trabalho.
Quanto ao sofrimento,é questão pessoal,mas pensamos, e afirmamos que não há sofrimento sem fim.
E normalmente sofre indefinidamente,quem tem vocação pra sofrer.
Tudo no Universo induz a alegria, a paz, a harmonia,o bem estar...
Por fim, acho mesmo que os trabalhadores foram sorteados ,designados, para salvar o mundo do NADA.
Viva os trabalhadores.
Viva todos os trabalhadores...



Maria Adelina
Inverno 2014


quarta-feira, 2 de julho de 2014



O HOMEM E O TEMPO
Saavedra Fontes
                                                                                         
Feito borboleta de vôo incerto, levando nas asas filigranas de sonhos coloridos, imaginando-se belo, forte e eterno apesar da vida efêmera, lá vai o Homem - pobre Ser Humano -  tecendo um  roteiro a seu modo, como se o tempo fosse escravo de seus caprichos e não o inverso, essa triste verdade. Das criaturas é a mais perversa, a mais teimosa, a mais cheia de orgulho e presunção. Dotado de inteligência ele pode e deve reconhecer os seus erros e acertos, mas não é capaz manter estes e evitar a repetição daqueles. Tolhe-o no bom senso o egoísmo inato e nunca se dá conta de que não é o tempo que passa, mas simplesmente ele, viajante de muitas vidas, herdeiro de inúmeras experiências.
A maldição de Abel e Caim persiste até nos dias de hoje nas guerras fratricidas, na inveja que gera o ódio, na ambição que destrói a paz e a compreensão entre irmãos, na teimosia latente de anjo caído. O homem percebeu até hoje, que o tempo é convenção humana, criado para posicioná-lo dentro do processo histórico geral e particular, na defesa de sua identidade. Caso contrário o ele não seria o ator principal neste enorme teatro que é a vida, mas um simples coadjuvante sem nenhuma participação importante e deliberada. E se deixa levar pelas ilusões...
Mas há um momento em que tudo para e ele passa de ingênuo e tolo aventureiro a grave e circunspecto observador da vida. É quando envelhece. Não me refiro à decrepitude normal dos seres vivos, à deterioração da carne, dos músculos e dos órgãos vitais. Tampouco estou falando sobre a perda do viço da juventude e consequente tristeza, que deixam marcas reveladoras.  Quero lembrar que existe no Homem algo que sobrevive a tudo isso, e que ele vai naturalmente reconhecer através da intuição e da maturidade de seus pensamentos: a existência de seu espírito, de sua alma.

No ato de tomar conhecimento de sua vida interior, ele pode se deixar subjugar pela revolta ou crescer pelo entendimento, adquirindo aos poucos a noção de sua fragilidade. Procurando fortalecer-se, gerando para si estruturas morais condizentes com a  vontade de reerguer-se, para suportar a morte de todas as ilusões e pode defrontar-se com a realidade. É a maturidade que não nos chega obrigatoriamente com a idade, mas com as experiências diárias no exercício de viver. Não é próprio de o Homem retroagir nos conhecimentos adquiridos, mas é comum a sua rebeldia que o torna recalcitrante, tolo, pasmo e indefinido  na fase de crescimento interior. A felicidade está em compreender a finalidade da vida, que é passageira, mas maravilhosa se soubermos usufruí-la bem. E o tempo é mestre.
 
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