quinta-feira, 29 de maio de 2014

Crônicas de Saavedra

          



VAMOS FALAR DE AMOR? - Saavedra Fontes -                                                                             


Ocorre-me falar de amor, um fenômeno difícil de ser descrito.  Afinal, o que é o amor? Só posso afirmar que é algo que acontece com todos, mas de maneira diferente em cada um de nós... A definição que faço do amor não é a mesma dos outros, cada um o diferencia de acordo  com os sonhos íntimos, anseios, formação religiosa, estágio cultural e muitos o creditam às funções hormonais. A maioria o tem como Eros, a simbolização dos desejos dos sentidos, mas há os que o imaginam  como Psiqué, a personificação da alma.
O amor, como toda necessidade básica de todo Ser Humano, não mudou muito no decorrer dos tempos. Isto porque o Homem não teve modificada a sua estrutura química e menos ainda seu inconsciente psicológico. As formas de atenderem essas necessidades é que sofreram mudanças, acompanhando os modelos de evolução em cada época. Isto fez dos amantes os seres mais diversificados do mundo animal. Dito isto é possível ver românticos e platônicos emaranhados na mesma teia dos lascivos práticos e incontroláveis.
Como explicar o amor de Dante por Beatriz, jamais concretizado, mas eternizado pelas ideias do grande escritor, que viu no sentimento a força inspiradora de seu pensamento, imaginando-o eterno e perfeito, contrapondo-o com o real e finito. Como não idealizarmos romântico o primeiro encontro de Abelardo e Heloisa, graças à inusitada trama do destino, que fez o vento levar o chapéu dela até os pés de seu futuro e trágico amante.
Queiram ou não queiram o romantismo é sempre presente na atração que une o homem à mulher. Isto vem sendo demonstrado  em verso e prosa, tal como a famosa peça de William Shakspeare, Romeu e Julieta. Esta sensação do espírito, este tipo de emoção pode não ser bilateral, não fazer parte do sedutor, mas está sempre presente no seduzido. Quando o amor simplesmente não prevalece e explode a paixão, a emoção é descontrolada, insana, frustrante e perecível. A mitologia grega explica o fato em Eros e Tânatos - amor e morte - já que a paixão não dirigida para o amor pode chegar à tragédia e levar à morte.
Não é difícil diferenciar o amor da paixão. Amar é admirar o ser amado pelo que ele é com suas virtudes e defeitos. É aceitá-lo como parceiro e cúmplice no viver a dois, vencendo obstáculos, superando o egoísmo, derrotando o orgulho, plantando e colhendo respeito mútuo. O amor é simples, intuitivo, natural, compassivo e belo.
Já a paixão é uma caudal de formas ilusórias de prazer, prenhe de sentimentos angustiantes e emoções avassaladoras, que transforma o objeto do desejo em
algo mágico, supradivino, de insuperável poder de atração e fantástica irrealidade. Por isso mesmo de curta duração, onde deduzimos que transformar gradualmente a paixão em amor é processo racional e feliz, o inverso é doentio e perigoso.
Pela impossibilidade de ver o amor de forma única, igual em todos, fica impossível descrevê-lo com perfeição. Ele muda com a experiência. Podemos explicar como ele se passa em nós, no nosso íntimo, mas não é certo universalizá-lo. Quando num desses raros momentos ele é semelhante entre duas pessoas, surge espontâneo e rico de afinidades um sentimento especial, próprio de almas gêmeas, dizemos que este é o amor que julgamos verdadeiro e o pleiteamos para nós mesmos. Felizes aqueles que o conseguem. Pessoalmente acredito que em se tratando de amor “há os que sabem amar, e há os que não aprendem nunca. E posso afirmar com toda a certeza que “amor é sentimento e sexo é complemento”.


terça-feira, 27 de maio de 2014

 




   INESQUECÍVEL



Nunca cansava de dizer:   
Toda tarde o sol recolherá seus raios, espalhados pelos quatro cantos,para encaminhá-los a outras paragens.
Determinadamente fará ao roteiro delineado pela 
admirável PROVIDÊNCIA...             

As árvores verdolengas,nunca se cansam  de admirar, a poética transição.
Observa com atenção, que sempre haverá um pássaro contumaz, gorjeando, equilibrado na haste tenra de Lis. Mesmo que lá fora perdure misérias,guerras,dissenções,contradições que tecem     
a violência,a natureza sábia,convicta,abrirá dias e encaminhará noites  escuras elucidativas...

Mesmo assombrando os  sentidos,ameaçando a harmonia do universo, quebrando o sagrado silêncio que emana do céu,do sol,do ar, da lua,o mal será sempre combatido em todo tempo,por todos os lugares,porque a violência é inversa aos preceitos que regem  a vida.

Resguardada pela convicção da fé sagrada, esperava pelo  esplendor de cada amanhecer.
Esplendor encaminhado pela sabedoria Divina para salvar o dia da escuridão...
Nesse estado de absoluta paz, e discernimento,suavemente tocava a face, com a esponja polvilhada de pó de arroz translúcido...

Seu rosto  resplandecia, preenchia  todo espelho do velho toucador.
Inesquecível.

Maria Adelina
Maio 2014


terça-feira, 20 de maio de 2014

Crônicas de Hairton Dias

 Lurdinha – 
A varredeira da cidade
Hairton Dias

Por muito e muitos anos, o povo desta cidade teve a oportunidade de assistir a uma cena que a todos comovia e que se repetia dezenas de vezes: Lurdinha, de vassoura em punho, ora na Rua 20, na 22, na 15 ou na Av. 17. Na Praça da Prefeitura, não importa onde, sempre ali ela estava, quem sabe, varrendo o que as pessoas passam e jogam, sujando a rua, enfeando as calçadas, sujando a cidade, porém, Lurdinha ali estava limpando a vereda que por certo, um dia lhe serviria de estrada, para ir ao encontro de Deus, na sua outra morada. “Lurdinha”, assim era conhecida e por todos era chamada. Pessoa simples, de família muito humilde, porém de uma generosidade tamanha, com sua vassoura de coqueiro, cedo ou de madrugada, lá ia a Lurdinha mais uma vez cumprir sua jornada, sem nada pedir em troca, naquela tarefa danada. 

Varria, varria, de cabeça sempre agachada, se alguém chamava seu nome, ela não respondia nada, porém continuava sua sina, que era sua alegria, chegar ao final da rua com mais uma tarefa cumprida. Voltar à noitinha para casa era o que ela mais queria, e rezar para sua santinha, a nossa mãe Virgem Maria, para que cuidasse dela e não há deixasse ao relento, para que tivesse força nos braços e também no pensamento, que Jesus se lembrasse dela, nem que fosse por um momento. - (Foi o que aconteceu na quinta-feira Santa, 20 de março de 2008), Jesus veio buscar aquela que na terra soube os seus males limpar e a todos perdoar. 

Acometida por uma pneumonia e com essa explicação, teve uma parada cardíaca que venceu o seu coração, partindo desse mundo de dor, sofrimento e ilusão, mas foi ao encontro de Deus receber seu galardão. Lurdinha nasceu em Ituiutaba em 1924, tinha mais três irmãos, inclusive um deles vive nesta cidade, Mário, conhecido por Tigrilo; possui ainda sobrinhos e primos. No dia 24 de março de 2008, completaria 84 anos. Ela viveu seus últimos dias no Lar do Idoso “Pe. Lino José Correr”, onde era muito bem tratada.  


Agora, a nossa Lurdinha, com sua vassoura de “Luz” irá varrer as avenidas do céu, ao lado dos anjos e do nosso mestre Jesus. – Aquela que em vida por ninguém foi esquecida, pelas pessoas, pelas autoridades, foi uma exemplar trabalhadora, pois durante muitos anos, às ruas dessa cidade varreu, sem receber um salário se quer, sem mover qualquer ação trabalhista contra ninguém, sem reclamar de nada, ao contrário, nasceu, viveu e morreu na simplicidade, como simples são as grandes almas, assim como era a de Lurdinha.

Hairton Dias
imprensahd@gmail.com 

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Crônicas de Hairton Dias

Tributo à Jaci de Almeida
Hairton Dias

Dizem que a morte não existe, o que existe é apenas a passagem de um plano para outro. Acreditando nessa hipótese, podemos afirmar que o amigo Jaci continua vivo e fazendo o que sempre gostou de fazer, trabalhar com muita eficiência montando suas chapas gráficas para produzir com letras garrafais o slogan: “para ser feliz basta apenas amar ao próximo, como a si mesmo e Deus sobre todas as coisas”. Assim foi a vida de nosso grande companheiro Jaci, por mais de 36 anos trabalhou como Gráfico na Egil e ultimamente desempenhava a atividade de gráfico, como monitor na Fundação Cultural de Ituiutaba, onde ensinava aquilo que aprendeu a garotos que buscavam nessa atividade uma profissão. Com muito zelo e carinho, manuseava a pequena gráfica ali existente e ensinava com muito amor seus pupilos. Só que agora, o nosso grande mestre gráfico está em um plano superior, ao lado do mestre amado Jesus fazendo as impressões daquilo que o messias ensinou. É com Deus que o nosso Jaci agora está, deixando para nós, o seu exemplo de amor, do grande profissional que sempre foi.  Ao amigo, irmão e companheiro, a nossa homenagem, receba, pois amigo, do fundo dos nossos corações, as nossas preces de luz, e que seu exemplo de bom filho, bom pai, bom esposo, e acima de tudo, de bom amigo e companheiro, fique para sempre gravado nas páginas da eternidade e em nossos corações.
Como existe apenas um pequeno intervalo entre viver e morrer transcreveu aqui, mensagem psicografada, pelo médium Chico Xavier, para homenagear a sua memória Jaci. Gráfico por mais de 40 anos e monitor das oficinas da Fundação Cultural.
Se eu morrer antes de você:
Se eu morrer antes de você, faça-me um favor, chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por Ele haver me levado. Se não quiser chorar não chore. Se não conseguir chorar, não se preocupe. Se tiver vontade de rir, ria. Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão. Se me elogiarem demais, corrija o exagero.  Se me criticarem demais, defenda-me. Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam. Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo. Espero estar com Ele o suficiente para continuar sendo útil a você, lá onde estiver.
E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase: “foi meu amigo, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus”. Ai, então, derrame uma lágrima. Eu não estarei presente para enxugá-la, mas não faz mal. Outros amigos farão isso no meu lugar. E, vendo-me bem substituído, irei cuidar da nova tarefa no céu. Mas, de vez em quando, dê uma espiadinha na direção de Deus. Você não me verá, mas eu ficarei muito feliz vendo você olhar para Ele. E, quando chegar a sua vez de você ir para o Pai, ai, sem nenhum véu a separar a gente, vamos viver, em Deus, a amizade que aqui Ele nos preparou.
Você acredita nessas coisas? Então ore para que nós vivamos com quem sabe que vai morrer um dia, e que morramos com quem sabe viver direito. Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura aqui mesmo o seu começo. Mas, se eu morrer antes de você acho que não vou estranhar o céu... “Ser seu amigo... já é um pedaço dele!”


Hairton Dias
imprensahd@gmail.com 

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Os Super-Heróis existem - Gladiston Junior

Os Super-Heróis existem


“O heroísmo não consiste em não ter medo, mas sim em superá-lo” – Roberto Gómez Bolaños
Tudo aconteceu na segunda metade do ano de 1928, numa noite que poderia ser uma noite qualquer... poderia. Ao tentar se curar de um resfriado, Elsa Bolaños Cacho viu-se diante da morte ao tomar um remédio ‘abortivo’ que havia sido receitado pelo seu cunhado – e médico – que não sabia de sua gravidez. Nessas circunstâncias nasceu meu único super-herói. Nasceu Chespirito.
Antes de tornar-se Chespirito, Roberto Gómez Bolaños tentou ser jogador de futebol, mas pela sua estatura física não conseguiu. Tentou formar-se em Engenharia, mas preferiu brincar com bolinhas de gude a estudar. Após estes ‘fracassados’ sonhos Roberto descobriu sua vocação... seus super poderes. A escrita, a atuação e a direção no mundo cinematográfico. Apelidado de ‘Shakespearito’ (diminutivo de Shakespeare) na época pelo diretor Agustín P. Delgado, Roberto adotou o nome em uma versão mais castelhanizada – ou seja, Chespirito.
Nos episódios de Chaves, Chespirito não só nos presenteava com humor, mas também com imagens engraçadas e várias lições: encontrar a felicidade em coisas simples da vida, o erro e as consequências que uma mentira pode causar, os exageros dos pais que mimam seus filhos, pessoas que se preocupam com problemas da sociedade, mas não se mobilizam para ajudar a resolvê-los e a necessidade de assumir seus próprios atos. Sem violência, sem desrespeitar a sociedade, sem menosprezar os telespectadores... esse era o tipo de humor que Chespirito trazia para a gente. Um humor engraçado, básico, simples e com muitas lições de vida. Lições essas que só um super-herói de verdade pode transmitir. Lições essas que me transformou no Homem que sou hoje, no caráter que eu tenho... lições essas que transformaram pessoas de todo o planeta.
Como todo super-herói, Chespirito também era um homem comum. Roberto Gómes Bolaños perdeu o pai cedo, enfrentou diversas dificuldades financeiras com sua família. Apaixonou-se, sofreu por amor e pelos fracassos do cotidiano. Sonhou, como todo mundo sonha. Sonhou em ser jogador de futebol – era uma promessa quando jovem – mas era magro e pequeno demais. Quis ser engenheiro, mas não foi possível. Diante das tentativas que o transformou num belo Homem de caráter, Roberto tornou-se Chespirito. Sendo assim deixou-se de ser Roberto. Deixou-se de ser Gómez. Deixou-se de ser Bolaños. Passou a ser Chaves, Chapolin Colorado, Dr. Chapatin... menos Roberto Gómez Bolaños.
Deixo aqui minha breve, curta e simples homenagem ao meu primeiro e eterno grande herói. Alguém que eu tive, tenho e sempre vou ter a vontade de abraçá-lo e agradecê-lo pelas lições básicas que ele me proporcionou, lições importantes para a vida de uma pessoa. Foram anos rindo da mesma coisa, dos mesmos personagens, das mesmas histórias. Mas a maturidade – ou a falta dela – não permite pessoa nenhuma aprender tudo de uma só vez as lições dadas por Chespirito. Foi preciso um ano de cada vez para aprender que a felicidade vem do simples e do básico como o do barquinho de papel ou do carrinho de rolimã. Acima de tudo, Chespirito nos ensinou o que é a verdadeira felicidade. E por trás de Chespirito, Roberto Gómez Bolaños nos ensinou que o heroísmo não consiste em não ter medo, mas sim em superá-lo.

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Crônicas do Saavedra



PARA QUE SERVEM AS LENDAS 
Saavedra Fontes


Toda lenda é um disfarce da verdade. Da mesma forma que a parábola ela encanta pelo imaginário poético, ensina e nos ajuda a viver. Recordo-me de uma história que ouvi não sei onde, contada não sei por quem, que retrata com fidelidade nossa relação com o destino, com os anos, com os séculos, com os milênios...

“ERA UMA VEZ um velho rei de um lugar distante, que ambicionava ampliar seu reino, que estava ficando pequeno para os seus súditos que nasciam todos os anos. Das ameias da muralha de seu castelo olhava diariamente a linha misteriosa do horizonte e sonhava. Debilitado pela idade não se aventurava a enfrentar mares desconhecidos e só possuía duas filhas, que sendo mulheres não poderiam fazê-lo. Precisava encontrar terras além-mar, para gozar a glória da conquista enquanto ainda vivo fosse. Suas filhas, entediadas com a vida na corte, convenceram-no a confiar-lhes a perigosa missão.
Mandou construir enorme veleiro para elas, incluiu-os na velha frota, hasteou no mastro a bandeira com arma e brasão real. Exigiu que pintassem no casco o nome escolhido para a nova embarcação: TEMPO. Imaginou que batizando o navio com tal nome influenciaria a marujada a correr. A filha mais velha, bela, altiva e corajosa chamava-se ESPERANÇA, e já dera provas de seu valor. A segunda recebera no batismo o nome de FÉ, era também formosa, apenas um pouco tímida, recorrendo muitas vezes ao amparo da irmã. Venceram com facilidade a primeira etapa da longa viagem. Notaram que o barco era forte, resistente e muito veloz.

Depois de ultrapassarem vagas enormes, tempestades e calmarias enfrentaram doenças e tragédias, ameaças de motins e constantes períodos de desânimo, pois a rota era desconhecida e a viagem longa, muito longa... Os suprimentos foram ficando escassos, muitos morreram e poucos chegaram ao destino. Ao desembarcarem tomaram posse da terra em nome do rei, seu pai. Seduziram o gentio e fundaram colônias.
Ao tentarem voltar para comunicar ao velho rei o sucesso da empreitada verificaram que o grande veleiro, fundeado a certa distância, recusava-se a voltar. Solta as amarras escapou ao controle do timoneiro e seguiu a corrente, que o afastou lentamente dos olhos de todos. Como um navio fantasma penetrou  na penumbra marítima e desapareceu de vez.

E o velho rei, alquebrado e doente, morreu sem saber que havia perdido o TEMPO e suas diletas filhas ESPERANÇA  e FÉ. Esta, às vezes indagava se o navio havia afundado, mas sua irmã ESPERANÇA dizia que não, que o tempo não fora feito para naufragar, apenas para navegar. 

Perdemos o TEMPO, dizia a mais velha, mas podemos construir um novo. E ficaram famosas pela determinação. Que seja sempre assim, que o tempo passe, vá embora, mas nos deixe a esperança e a fé. Para isso é que servem as lendas...###



 
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