segunda-feira, 28 de abril de 2014

Crônicas de Maria Adelina







MATÉRIA-MATERIALIDADE até quando?



Nesse redemoinho rodopiante, que envereda o existencialismo concreto, observamos forças vitais exaurindo adoecidas, por não habitarmos um mundo onde a consciência faça de fato, parte vital da vida.


Onde a integração entre a harmonia do universo,ainda não entrelaça significativamente com a vida humana.

Onde distorções são colocadas para confundir céu e abismos...
Onde  respiramos fumaça poluentes, sobrecarregadas de materialismo ao derredor, e por toda parte,como haverá  fundamento lógico para SER e ESTAR conscientemente ?

Como poderemos evidenciar a verdade inserida, e estagnada na consciência, se preferimos  não pensar na inclusão da totalidade do ser?
Se  ainda não conseguimos integrar nossas forças vitais etéreas por desconhecimento da transcendência ,que é  proposta Divina para vida?

Como poderemos mudar o mundo intimo e o mundo aparente, sugerido pelas forças cósmicas,se descartamos a intuição,as emoções,os sinais?
Como sobrevivermos patinando sobre a matéria densa ,que toma forma, e envereda por  caminhos  confusos?

Porque ainda não aderimos ao espírito, que é o condensador do "circuito de todos os significados"?
Se o mundo trafega afoitamente sobre a matéria, e para a matéria  exclusivamente, onde iremos chegar?

Assim vamos nos perdendo por labirintos confusos,  sem volta, ainda que a vida anuncie todos os dias, e em  todas as horas ,que tudo existe em função da evolução e transcendência.
Matéria porque absolutamente,  toma todas as formas, e todos os lugares iludindo o tempo e  o espaço?

Se  não permanecerá, não acrescentará a essencialidade, que clama por nós?

Maria Adelina - ALAMI
www.cronicatijucana.com.br  






quinta-feira, 17 de abril de 2014

Histórias do nosso futebol



                   Quem viu, viu!
Enio Ferreira  

Muita saudade daquela turma, os craques do ”Três Coqueiros Futebol Clube”. O time durou somente o tempo da nossa juventude e foi uma época muito boa. 

Não chamo a atenção para o nosso singelo e empoeirado campinho, nem para as camisas verdes tão bem cuidadas pelas mães; nem tão pouco para a beleza das moças que floriam na beira do campo, muito menos para o Dudu que jogava na posição que queria por que era o dono da bola. Falo do goleiro, não do Pancho que era o titular, mas do goleiro reserva o Mancado. 

Também não falo do Mancado só por que tinha uma perna mais curta e por isso balançava ao caminhar e daí o apelido. Falo do Mancado que estava na turma desde o início e por isso tinha vaga garantida no time, mas se fosse pelo futebol coitado... Na linha não dava pra ele, então tentava ser goleiro.           

Mancado ficou famoso jogando no gol, mas não pelas grandes defesas, foi mais pelos frangos memoráveis que tomou. Imaginem que certa vez num jogo contra o... Agora não me lembro se foi contra o Guarani do Progresso, ou o Palmeiras da Praça 13 de Maio ou, ainda, o Cruzeiro da Junqueira... Ou foi contra o Córrego da Chácara? Acho que foi um desses aí. Lembro que ganhávamos de 4 a 0 quando, aos vinte minutos do segundo tempo, o nosso goleiro se machucou. Na reserva estava o Mancado. Aí complicou. Ninguém confiava nele e, eu mesmo fui um que se ofereceu para ficar no gol, mas o Dudu disse que o jogo tava fácil e tínhamos que dar uma chance para o Mancado... É difícil de acreditar, mas foi isso que aconteceu: aos 42 minutos já estava 4 a 4 – o Mancado tomou 4 gols em 24 minutos. E, ainda, aos 45, terminando o jogo, aconteceu uma falta contra nós. Eu, que estava perto do gol, falei: “Mancado, o empate ainda serve pra nós, pega essa!” Mas infelizmente não deu outra, o atacante chutou lá da intermediária, Mancado foi na bola, escorregou e a bola entrou! O Neneco quis reclamar, mas ele saiu com essa: “À lá Zico, uai! Pegar como?”                

Certa vez estávamos o time quase todo, passando um fim de semana na praia lá da cidade de São Simão. No sábado á tarde nos convidaram para um racha contra um time de jogadores profissionais goianos que, também, estavam por lá à passeio. Foi a primeira e a única vez que enfrentamos um time profissional e, por incrível que pareça, ganhamos! Quem estava no nosso gol era o Mancado. Nesse jogo ele pegou tudo! Até pênalti defendeu! O time deles ficou tão impressionado que o seu técnico quis contratar o Mancado:  

Mancado, à proposta, respondeu com as mãos erguidas para o Céu: “Essas defesas quem viu, viu, quem não viu, nunca mais!”                               
                                           

                

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Crônica do Saavedra



 

A CEGUEIRA DO HOMEM MODERNO –
Saavedra Fontes                                        
                
Às vezes nos perguntamos por que pessoas de extraordinário valor, exemplos de vida em sua época, têm menos notoriedade e são menos reconhecidas do que astros e atletas, que nada fizeram de importante para a Humanidade a não ser diverti-la, embalando-a no mundo dos sonhos e da fantasia. Seriam a vaidade e a ingenuidade inatas no Homem, sempre dispostas a iludi-lo, impedindo-o de ver que somos frágeis passageiros em fase de evolução, as razões dessa insensatez? Seria o Ser Humano tão recalcitrante nos seus erros, a ponto de não haver eliminado as raízes de sua queda do Paraíso? É característica nossa reconhecer as boas obras, enaltecê-las, aplaudi-las quando resultado de sacrifícios, mas sempre a colocamos como sendo normais e próprias do dever a ser cumprido. Tomamos conhecimento, gravamos na memória por imposição escolar, mas as esquecemos quase que em seguida, não as trazendo para o dia-a-dia.
Entretanto uma performance esportiva ou artística vence o tempo, atravessa os séculos através da memória histórica, sendo reprisada com relevância. Principalmente agora, modernamente, em função da mídia, transforma-se em algo inesquecível para ser imitado. É assim que homens notáveis como Oswaldo Cruz, Einstein, Sabin, Madre Tereza de Calcutá, o casal Curie e muitos outros são menos lembrados em nosso cotidiano, como exemplo para as crianças, do que o artista de cinema ou TV,  o astro de futebol ou qualquer outro esporte, que são eternamente endeusados. O homem de hoje só reconhece a fama e o dinheiro, o resto é tolice na sua concepção de vida.
Não há nada de ruim no fato de procurarmos racionalmente os prazeres da vida, mas não podemos ignorar a morte. Se não vejamos: o homem de fé tem consciência de seu futuro espiritual e acredita saber o que lhe espera depois de sua passagem pela vida; o materialista tem a certeza, como ateu que é que tudo acaba aqui mesmo, todavia entende por convicção e raciocínio lógico que tudo que fizer de bom ou de mau irá refletir no mundo do qual faz parte, atingindo-o por consequência.
A dedução correta é que devemos trabalhar para o bem comum, esquecendo nossas ambições pessoais, renovando a todo instante nossos ideais fraternos de aspirações de paz e de proteção ambiental, visando a nossa sobrevivência e a de outras espécies, que conosco habitam este planeta por enquanto exuberante e lindo. Não podemos continuar cegos ao que acontece em nossa volta, precisamos compreender que para nos salvarmos teremos antes que salvar nosso habitat, o ambiente em que vivemos, erradicando de nossos hábitos a tradição das guerras, a destruição das florestas, a poluição crescente, a pobreza nos países subdesenvolvidos, as desigualdades sociais.
Em mais de dois mil anos de civilização não houve um único momento de trégua ou paz duradoura no mundo em que vivemos. Andamos criando as nossas próprias tragédias, que para serem evitadas temos que estabelecer  uma mentalidade nova dentro de um código universal que una todos os povos, todos os credos, todas as raças num único projeto, o de mudar o mundo modificando as pessoas.
Fatos assustadores são reincidentes em todas as partes do globo terrestre, atingindo principalmente as crianças. O desemprego, o sistema educacional falido, as drogas, um verdadeiro inferno onde impera a violência e a perversidade, transformando nossos jovens em bandidos precoces. Podemos culpar a incompetência e falta de sensibilidade dos governos, mais preocupados com a rotina política que mantém os governantes no poder. Podemos acusar a omissão da família, entregue ao egoísmo e comodismo, não apontando os caminhos pelos quais os filhos devem manter-se atentos e firmes. Não podemos negar a frustração e o imobilismo do setor educacional, entregue às teorias ultrapassadas e sem o incentivo de um ideal latente.
Uma análise sincera nos colocaria todos no banco dos réus, pois na realidade somos todos culpados, permitindo a mudança de valores infectada pelos exemplos contínuos de corrupção e impunidade; pela disputa de mercado consumidor evidente nas religiões de massa, fazendo-as incapazes de manter a fé e a esperança nos seus adeptos; porque somos irresponsáveis toda vez que aplaudimos e permitimos o livre acesso às obras de alto poder corrosivo da moral, seja ela nos livros, nos jornais, nas revistas, nos filmes e na televisão; e permitimos o mau exemplo para os nossos filhos toda vez que agimos como animais num cio interminável; ou quando deixamos de oferecer uma palavra de conforto ou um gesto de solidariedade àqueles que precisam.
Enquanto tudo isso acontece exemplos de valores menores ganham destaque em detrimento dos de maior amplitude, graças aos interesses comerciais dos meios de comunicação com alto poder de penetração, explorando o sensacionalismo e o escândalo como forma de superar a concorrência. A vida passa a ser um espetáculo de vaudeville, aparentemente alegre, sem sentido, banal, para simplesmente ser levada enquanto o coração e os pulmões a suportarem. Alternam-se os atos com a mudança da moral e dos costumes, como se a experiência particular de cada autor refletisse uma verdade única insofismável, que vai atingir acintosamente a maioria simplória, triste e despreparada da população. ###

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Crônicas de Neusa Marques Palis

17 de setembro de 2012 |
 
Bem nesses tempos de campanha, ao comentar sobre o assunto, não raro, ouço essa frase.
Até entendo, pois estamos acostumados a pensar em política como sistema de governo, poder, e acá, no nosso país, como uma sucessão infindável de maracutaias, roubalheiras e a praga da corrupção.
Que cidadão de bem se anima com  isso?
Quem está feliz em saber que o ex- presidente, em dois mandatos, angariou com seus rendimentos no cargo, a modesta fortuna de dois bilhões de dólares?
E infelicidade é só um detalhe, o que preocupa mesmo é o exemplo aos jovens,  que assim, aprendem que passar a perna, enriquecer de maneira ilícita e rápida é o caminho a seguir. Será que algum professor brasileiro, um médico, um dentista, um engenheiro, já ganhou dois bilhões de dólares em apenas oito anos?
E é bom lembrar que segundo as estatísticas, e a realidade, trabalhamos cinco dos doze meses do ano só por conta dos impostos.
É dinheirama demais.
Não fosse a roubalheira descarada, os hospitais teriam leito para todos; as escolas públicas estariam equipadas com computadores, a questão da merenda escolar já seria coisa do passado, o tal índice de educação, há muito já estaria resolvido.
Gostando ou não gostando, é preciso saber que, desde que nos organizamos em sociedade, desde os tempos mais remotos, a política está presente;  até nos namoros, na economia doméstica, nos habitantes do quarteirão e seus arranjos da boa ou má vizinhança, na administração da empresa, na cortesia do restaurante, na prestação dos serviços… enfim, é impossível viver em comunidade sem ser politizado.
O século passado, com o advento do individualismo e seus preceitos, até nos deu a ilusão de que pudéssemos se ater ao Eu, ao egocentrismo, mas não deu certo, e ser político é preciso.
E político não é só o vereador, o presidente, o prefeito, o senador. Políticos somos todos nós que escolhemos os que irão nos representar,  e sendo minimamente politizados, termos capacidade de organização e exigir que deixem o cargo quando o mesmos demonstram que estão lá apenas para benefício próprio.
Os apolíticos não exercem cidadania; e se reclamam, não passam de resmungos tolos, pois que, pelo comodismo, pela ignorância, já atestam que preferem a subserviência, o porão social, e todas as suas mazelas.
 
 * Neusa Marques Palis
nmpalis@yahoo.com.br

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Terra Fértil




TERRA FÉRTIL


Enio Ferreira

* Dedico essa à Adelaide Pajuaba Nehme (importante cronista - acadêmica da ALAMI)



Na viagem para as ÍNDIAS na qual Pedro Álvares Cabral, no ano de 1.500, acabou foi descobrindo o Brasil, uma das suas treze caravelas recolheu uma senhora que estava num pequeno barco à deriva em alto mar. Ela estava há muitos dias sem se alimentar, com insolação, bem fraquinha, quase morrendo. Os marinheiros cuidaram bem dela e já estava quase recuperada quando chegaram a terra firme. Na alegria e na confusão da chegada ninguém se lembrou daquela senhora. 

A senhora desceu com dificuldades da caravela, se misturou aos índios, foi bem aceita por eles e, recuperada, construiu uma casinha e ficou morando nessa terra que se chamaria Brasil.     

Ela, muito esperta, ia se virando para viver, e de um abacateiro que havia na frente da sua casinha colhia as frutas para se alimentar e trocar por outras coisas de sua necessidade. Vivia sossegada esperando a vida melhorar, mas só uma coisa a deixava nervosa: os indiozinhos subiam no abacateiro e lhe comiam os abacates. As frutas serviam para serem negociadas, não gostava de ser roubada.
         
Uma noite bateu-lhe à porta um velho índio em busca de socorro; fora picado por uma cobra e estava mal. Pediu que ela corresse até um local determinado e colhesse duas folhas de certa planta e fizesse um chá para cortar o efeito do veneno. A senhora obedeceu e fez tudo o mais rápido possível para assim salvar o velho índio. Ele acordou no dia seguinte curado. Despedindo-se, disse que era o Feiticeiro da sua tribo e que ela lhe pedisse o que quisesse.        

Só peço que a pessoa que subir no meu abacateiro não possa descer sem a minha ordem – respondeu a senhora.          

- Se esse é o seu desejo, assim será! – respondeu o índio-feiticeiro.    

Na manhã seguinte encontrou cinco indiozinhos em cima do abacateiro.    

- Oh! Senhora perdoe-nos! Salve-nos, nos deixando descer!   

 Ah! Pois vocês diziam que não eram ladrões dos meus abacates! Por esta vez, vá! Se subirem aí de novo hão de ficar para sempre! Os indiozinhos desceram e nunca mais voltaram ao abacateiro.    

Um dia de manhã entrou em sua casa uma mulher bem feia, nariguda, com uma foice na mão, dizendo: - Sou a Morte e estou aqui para buscar-te!

Já? Estou ainda muito nova e com saúde. Dá-me pelo menos mais um ano! – disse a senhora.   

Não pode ser – respondeu a Morte.

Faça-me ao menos um favor: suba no meu abacateiro e colha-me um abacate. Quero comê-lo visto ser o último! – implorou a senhora.    

A Morte subiu no abacateiro e colheu a fruta, mas não pode descer, pôs-se a chamar a senhora. Esta respondeu: “Não tenha pressa, aí ficarás para todos os séculos. És má e tens feito a tristeza da humanidade...”    

E a Morte ficou em cima do abacateiro.    

A Morte, presa no alto do abacateiro, para conseguir a permissão para descer, teve que fazer um trato com a senhora: Poupar-lhe a vida enquanto ela morasse no Brasil, caso ela saia das terras brasileiras o trato poderá ser desfeito.  

O nome dessa senhora proprietária do abacateiro é Dona Corrupção e quanto mais o tempo passa mais viçosa ela fica.      

Por isso enquanto não for colocada num barco à deriva no meio do mar, como fizeram com ela antigamente algum país decente, Dona Corrupção viverá cada dia mais saudável no nosso Brasil.  

 (Texto adaptado de Tia Miséria - antigo conto português)       

 


 
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