terça-feira, 28 de junho de 2016

Crônicas de Whisner Fraga






 Domingo, de manhã

Whisner Fraga - ALAMI


Nasci num domingo, o que talvez explique um pouco essa melancolia levemente pragmática e esse vazio indômito e persistente. Corro ao calendário: Helena veio à luz em uma terça. Preocupo-me com o que deixarei para a menina, porque aquela utopia de mundo melhor e pessoas mais civilizadas caiu por terra, como esperado. Pergunto a Ana se o fato de termos tão poucos amigos não seria muito prejudicial para uma filha única. Aparentemente seria. Mas o que fazer?
Apelo para a memória e não consigo encontrar o momento em que a timidez me forçou a essa convivência limitada. Não que eu não goste do silêncio e da solidão. Até porque todos concordam que o isolamento é muitas vezes necessário, para que consigamos raciocinar longe do ruído recriminador e moralista dos outros. Helena aprenderá isso, mas espero que saiba dosar essa necessidade.
– Você não quer que busquemos a Duda para ficarem aqui em casa?
Dá de ombros a menina e sai em disparada para o quarto. Pouco depois traz alguns bonecos e pede para que brinque com ela. Sou ruim de brincadeiras infantis, mas cedo. É quase um sacrifício abandonar o livro, mas ela já não me deixava seguir a leitura.
– Papai, não é verdade que as folhas parecem pássaros?
Helena e sua curiosidade nos arrastam para outras suposições, para outros desdobramentos. Então está frio e, uma criança, o apartamento fechado, os gatos indóceis e a poluição são ingredientes certeiros para a rinite. Helena chega com o nariz entupido e decido que precisamos sair. São Paulo não é boa com as crianças: tudo é longe e demorado. Mas devemos passear: a casa se enjoou de nós e também precisa de solidão.
Vamos para o parque da Água Branca. Lá, a feira de alimentos orgânicos, as copas das árvores, o cheiro de bosta de cavalo, a companhia dos pombos, pavões, patos e gansos nos trazem de volta uma harmonia quase desesperada com a realidade. Tomamos um café supostamente mais puro, comemos um ovo mexido supostamente livre de antibióticos e outras ameaças. Em determinando instante, não temos escolha: o que havia para ser feito foi feito e precisamos voltar para o ar insalubre de nossa sala.
– Papai, você me ajuda a escolher outra meia, que esta molhou?
Não há meias o bastante no baú: esta não serve, esta também não. Ela quer uma antiderrapante com o desenho da Marie. Só que essa não existe, talvez nunca tenha existido. Se ela tivesse alguma amiga por perto talvez pudesse falar de sua frustração por não ter uma meia antiderrapante com o desenho da Marie. Decidimos que vamos ligar para a mãe da Duda e que buscaremos uma companhia para nosso domingo. Vamos contar a novidade para Helena, mas ela está encostada em uma almofada. E dorme.


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segunda-feira, 6 de junho de 2016

Crônica de José Moreira Filho

     
















          Máximo e mínimo

Na vida, muitas vezes, vivemos entre dois extremos: o máximo e o mínimo. A busca pela tal da otimização, em algumas situações, acaba levando o indivíduo à angústia, ao se sentir incapaz de cumprir determinadas metas exigidas pelo trabalho. Mas, na verdade, o dono de seu tempo é você mesmo, portanto só você pode determinar prioridades em sua vida. E essas prioridades dependem de sua valoração. Procure identificar o que é mais importante para você. Por exemplo, talvez levantar-se da cama meia hora mais cedo e fazer de seu simples cafezinho uma refeição, que aliás, segundo especialistas é a mais importante do dia. Dizematé que se deve tomar o café da manhã como um rei, almoçar como um príncipe e jantar como um mendigo. Pedagogia popular, mas que reflete um ensinamento nutricional que nossa saúde agradece.
Na verdade, eu costumo dizer que todo extremo é perigoso. Não se organizar e deixar as obrigações sempre para a última hora, obedecendo a lei do menor esforço, dispensando o mínimo de energia em suas obrigações, também não é nada produtivo e acaba conduzindo-o no final, ao mesmo estresse indesejado e maléfico produzido pela otimização extrema. Assim, o melhor mesmo é procurar selecionar seus compromissos, descartando aqueles que estão em excesso e desnecessários, seguindo a norma latina: In mediovirtus -no meio está a virtude. Pois urgente é tudo aquilo que não foi providenciado no tempo certo.
Nas grandes empresas hoje, o Calcanhar de Aquiles tem sido conseguir equilibrar a otimização do tempo com a qualidade de vida de seus colaboradores. E mesmo na vida pessoal é muito importante que se tenha o chamado foco. Pois aí há concentração de esforços e o resultado é garantido. Isso de se admitir a multifunção, pode levar à fragmentação de energia o que conduzirá fatalmente à perda de qualidade na tarefa.De acordo com Ricardo Barbosa, Project Manager Professional e diretor executivo da Innovia Training &Consulting “O ritmo alucinante das mudanças, a avalanche de dados e informações, a pressão do mercado para se produzir mais, com menor custo e tempo possíveis, reforçam a necessidade de gestão compartilhada e produtiva do tempo para garantir lucratividade, empregos bons e estáveis com qualidade de vida”, explica ele.
Por outro lado, não faz mal lembrar que, esse descontrole entre o máximo e o mínimo de atividades na vida, leva as pessoas a não saberem usar seu tempo livre quando esse lhe é facultado. Quem é exageradamente dedicado ao trabalho, não sabe lidar com o ócio. É comum ouvirmos dizer de tal pessoa que adoeceu após a aposentadoria. Para muitos, feriados ou dias de folga é motivo de pânico.
O conselho que se tem de psicólogos é tentar não se render aos apelos da tecnologia e querer usar todos os aplicativos de seus eletrônicos, que lhe roubariam um precioso tempo, que poderia ser usado para uma meditação, por exemplo, ou para uma sessão de “jogadas de conversa fora”, que com certeza lhe desopilaria o fígado com muito mais sucesso.


José Moreira Filho - ALAMI
moreira@baciotti.com
 
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