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RESGATANDO O AFETO
Estamos vivenciando uma época de
relações transitórias e superficiais. O ser humano está sozinho, embora rodeado
de pessoas.
Houve um tempo em que ninguém tinha
onde se colocar a sós. Sempre havia alguém disposto a narrar histórias
mirabolantes e crianças interessadas em ouvi-las, com um brilho especial no
olhar, para posteriormente tecer fantasias eternas em suas mentes descansadas.
Os indivíduos sentiam desejo em
visitar, levando em sua bagagem um abraço ou uma palavra de conforto a quem,
geralmente recebia com alegria, sentindo prazer em abrir a porta para os que
chegassem, mesmo sem aviso prévio.
Havia disponibilidade para ouvir o
outro, sem preocupar-se em dispor de escasso tempo livre para si mesmo e a
solidariedade para auxiliar o próximo, sem aguardar retribuição.
As pessoas freqüentavam igrejas para
orar, não visando solicitar bênçãos para um grupo tão restrito.
Há uma crise existencial na
sociedade contemporânea. O cidadão está inserido em um ambiente letrado e
tecnológico, porém estão prevalecendo as relações tumultuadas e traumáticas.
Nunca os consultórios psiquiátricos foram tão requisitados como na atualidade.
A família que serviu de espelho para os civilistas não existe mais.Os pais possuem
direitos e deveres para com os filhos, no entanto na exercem mais o controle
sociocultural e ético religioso deles. O mercado, a mídia, “os games”, a
informática estão provocando o chamado pensamento acelerado. Os programas de
televisão, a moda, os vícios estão ocupando as mentes, deixando-as poluídas,
sobrecarregadas, cansadas!
A família está se dissolvendo
gradualmente, o organismo familiar se esfacelou, parecendo ter perdido os
padrões de referência e se tornando vulnerável aos novos conceitos psicológicos.
Os pais demonstram estarem confusos como seres humanos, perderam a
instabilidade das relações conjugais. Os filhos, por sua vez, sem controle, não
vislumbram a direção.
Para compensar a falta de tempo, os
progenitores buscam de todas as formas, mesmo sacrificando-se, satisfazer as
exigências da prole, sem perceber que objetos de destaque na mídia jamais
preencherão a lacuna da falta de carinho, atenção e de diálogo. Aquele que não
consegue atender aos incessantes apelos dos filhos, pela ânsia do consumismo,
sente-se angustiado, frustrado e até culpado diante da esdrúxula competição
atual.
Este novo cenário doméstico tem
criado adultos com dificuldades de impor limites. Crianças e adolescentes
passam a maior parte do tempo diante do computador, da televisão ou conectado
ao celular... Sozinhos! Egoístas! Não querem ser incomodados.
Ninguém consegue olhar fixo no olho
do outro, quiçá por receio de visualizar a sensibilidade alheia. É quase
inexistente quem se sinta feliz em receber e ser um bom anfitrião, pois em seu
parco tempo de lazer, não quer ser perturbado. Até as igrejas têm sido alvo de
buscas por recompensas pessoais, que, quando não satisfeitas, provocam
ausências.
Urge uma reflexão e uma
conscientização por parte de pais e demais educadores para a necessidade de uma
nova visão: a formação do caráter, a sensibilização dos sentimentos, a
potencialização das virtudes, resgatando o afeto – que demonstra ser a mola
propulsora das ações – o diálogo, o olho no olho, o respeito mútuo, a ética,
procurando salientar esforços, elogiando, estimulando, motivando, descartando
prováveis emulações e elevando a autoestima.
O indivíduo precisa ser olhado de
forma holística e sentir-se acolhido, para que as relações nasçam no respeito
ao espaço e ao papel de cada um em um ambiente equilibrado e, acima de tudo,
feliz.
“Acima de tudo, porém, esteja o
amor, que é o vínculo da perfeição.”
(Colossenses 3:14)
Marleida Parreira Rocha - Educadora
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