domingo, 30 de março de 2014

VIII Concurso de Contos do Tijuco - Arth Silva


O princípio da incerteza de um jurado literário
- VIII Concurso de Contos do Tijuco - 

- Arth Silva -

No fim do ano de 2013, Enio Ferreira, o Presidente da ALAMI, como um grande amigo das letras e por saber da minha paixão pela leitura, me convidou pra ser um dos jurados do “VIII Concurso de Contos do Tijuco”, concurso esse que, uma vez inclusive (2007), fui selecionado pelo miniconto “O pipoqueiro”.

Honrado pelo convite, aceitei.

Pois bem... Minha tarefa árdua, juntamente com mais duas juradas, Tereza Martins e Maria Tereza Moreira era ler atentamente todos os contos enviados ao concurso, contos esses que vieram de quase todos os estados brasileiros e de países como Suíça e Japão, e selecionar os 9 melhores textos, além de, é claro, escolher o conto premiado.

Legal, eu estava preparado! Que começasse a leitura!
Porém, fazer a leitura de tantos textos de qualidades distintas seguidamente, e diante de um prazo corrido é uma situação que me fez lembrar e temer o Princípio da Incerteza de Heisenberg, e fazer um equivalente literário dele. Pra quem não sabe, esse princípio diz que é impossível medir ao mesmo tempo a velocidade e a posição de uma partícula subatômica, uma vez que fazer essa medição altera a realidade observada. (entenderam? Não? Educação brasileira é mesmo um caos!)
Um equivalente literário desse princípio anunciaria a impossibilidade de medir talentos em concursos literários. Só que nesse caso essa medição altera não só a realidade do objeto observado (texto), mas também a do próprio observador (jurado), já que esse tem de ler inúmeros textos de boa qualidade seguidos por dezenas de textos com qualidade tão baixa que me pergunto como alguém teve coragem de enviar tal texto pra um concurso (suspeito que seja apenas pra sacanear os jurados)...  Enfim, essa quantidade de textos de baixa qualidade lidos em sequência, dá ao jurado uma angustia e um pessimismo quanto às próximas leituras, que altera o seu estado de consciência diante de cada próximo texto avaliado, podendo atrapalhar no julgamento de um conto.

Por isso, muitas vezes uma pergunta me pousou à cabeça: Será que eu saberia qualificar o texto de um novo Luiz Fernando Veríssimo, um novo Carpinejar ou até um novo Machado de Assis sem saber o nome dos autores e após ler  tantos textos de qualidade tão ruim?
Talvez enfrentar esse Princípio seja um mal de toda mesa julgadora de concursos literários, mas que deve ser encarada com profissionalismo e dedicação em busca dos contos realmente bons que participam dos concursos para que a apresentação de resultados não decepcione.

Quando finalmente consegui ler todos no inicio do mês de fevereiro, pra minha surpresa e alegria, 98% dos textos que selecionei como bons batiam com os resultados da Tereza Martins, e foram confirmados pela Maria Tereza. Inclusive, o texto que eu selecionei como o melhor, "Salto sem barreiras" de autoria do escritor Celso Antonio Lopes, também estava no topo da lista das duas juradas.

Como mineradores, nós jurados tivemos que garimpar ao máximo em meio a muita coisa sem tanto valor até encontrarmos lá no fundo as preciosas pepitas de ouro literário. Muitos eram tremendamente banais, já outros obras, eu gostaria de ter tido a ideia pra escrevê-los como “Encontro no Bistrô” do gaúcho Danilo Silvio Aurich e “Anjo” do paulista André Telucazu Kondo; contos que eu, particularmente, gostei muito e que estarão no livro “VIII Concurso de Contos do Tijuco”, publicado em breve pela ALAMI.  Livro que com certeza será bem recebido por todos aqueles apreciadores do “Princípio da boa literatura”.




Arth Silva é escritor, desenhista, designer e redator publicitário, especialista em perder canetas azuis.
Autor do livro "Contos à Queima Roupa" e da coletânea de memórias dos idosos de Ituiutaba "Gavetas da memória".
Seus trabalhos literários podem ser lidos na página "Sonhando a Deriva".
fsarthur@yahoo.com.br

sábado, 22 de março de 2014

A graça está na diferença - Arth Silva



A graça está na diferença
- Arth Silva -

O nosso maior erro é querer achar ALGUÉM PERFEITO. Alguém cujos gostos musicais, políticos, cinematográficos, sociais, futebolísticos, gastronômicos e filosóficos sejam idênticos aos nossos e por isso acreditamos que essa pessoa é a nossa “Alma gêmea”.

Quer alguém idêntico a você? Dê um beijo de língua no espelho.

Ao querer buscar uma personalidade igual a nossa no outro, deixamos de aprender com a diferença.
É a diferença que trás o novo; é diante do desconhecido e como lidamos com ele que surge nosso amadurecimento. 

O ideal é uma relação perfeitamente complementar. Em que você sobre onde nela falte, e ela supra todas as suas falhas, e, mesmo assim, os dois ainda tenham defeitos.

Sei que isso não é fácil, saber reconhecer a diferença de alguém e, o mais importante, aceitá-la, é ser um artista cotidiano. 

Antes de conseguir aceitar o próximo, é preciso aceitar a si mesmo. Uma pessoa que não aceita com facilidade diferentes opiniões ou estilos, é uma pessoa que ainda não se aceitou. É uma pessoa que teme mudar os próprios gostos se ficar próximo a alguém que tem atividades distintas das suas.  Em um relacionamento, quem tem certeza de si não declara ódio ou briga tentando provar o porquê sua própria ideologia, seja ela qual for, é superior às outras; apenas aceita a diferença ou é indiferente a ela, ou ainda, simplesmente se afasta discretamente. 

“Ah, mas meu namorado odeia filme romântico e eu adoro”. Ué, e os pontos bons que vocês têm em comum? Eles não deveriam contar mais do que um mero detalhe desses? Afinal, acho que uma relação não deveria se orientar apenas por gêneros de filmes, músicas e toda aquela lista que citei lá em cima.

Nessas horas devemos colocar tudo em uma balança e constatar se os pontos negativos são maiores que os positivos.  Muitas vezes vale a pena abrir mão de uma ideologia nossa pra ganharmos algo bem mais valioso.

“Ah, Arth, mas a diferença é grande, não iremos durar muito tempo”. Ai está outro erro grande: ter a utopia de que o amor é eterno e tem que durar pra sempre como nos contos de fadas. Acorda garota, você não é uma princesa Disney. E garotão, fica de boa, quando te beijarem você irá continuar sapo. Aquele papo de “E viveram felizes para sempre” é tão verdadeiro quanto as histórias que tem esses finais. 

Amores não tem data marcada. Já tive relações triviais que sobreviveram por anos e amores perpétuos que duraram a eternidade de alguns dias ou meses.

Mas pra saber aceitar o defeito alheio, pra saber sorrir diante dos heterogêneos é necessária certa experiência de erros e acertos que derrubem essas teorias utópicas do amor imortal e das pessoas “iguais” a nós.

Muitos dizem: “Nossa! Vocês eram um casal tão lindo, porque deu errado?”
Eu respondo: Não deu nada errado, deu tudo certo, foi perfeito, completo pelo tempo que durou. É claro que houve problemas, problemas sempre existiram e sempre existirão em todo relacionamento; Mas como lidamos com eles e aprendemos a fazer com que não se repitam, isso vale muito pra sua vida. Hoje sou um vitorioso por ter passado tanto tempo do lado de pessoas tão maravilhosas e com quem aprendi tanto.

Já notou o quanto amadurecemos com o passar do tempo? É isso! É a forma como lidamos com as diferenças, com os problemas do dia a dia que nos amadurece, nos caleja pra podermos enfrentar a vida. 

Só o coração calejado é capaz de amar.

Comece aos poucos, vá aprendendo e aceitando devagar os defeitos alheios, afinal você também é cheio de defeitos e muitos terão que aceitá-los.


Arth Silva é escritor, desenhista, designer e redator publicitário, especialista em perder canetas azuis.
Autor do livro "Contos à Queima Roupa" e da coletânea de memórias dos idosos de Ituiutaba "Gavetas da memória".
Seus trabalhos literários podem ser lidos na página "Sonhando a Deriva".
fsarthur@yahoo.com.br

segunda-feira, 17 de março de 2014

História do nosso futebol



 

                  Amor à camisa 

Enio Ferreira – ALAMI 

     *Dedico essa ao Arinos Luiz Carvalho (grande amigo!)     

No meu tempo de jogador de futebol quem não tinha cacife para jogar na Associação Ituiutabana ou no Ituiutaba Esporte acabava indo para os times da periferia. Juntava-se uma turma de jovens fominhas por bola limpava algum espaço de terreno desocupado, arrumava paus para montar os gols, alguém sugeria um nome e pronto, aí já estava montado um time. O meu era o Três Coqueiros Futebol Clube.

Nesse esquema os jogadores, além de jogar, colaboravam com algo a mais. O Dudu, mais riquinho, doou a bola, o Pancho com os irmãos doaram o jogo de camisas; eu era o secretário, fazia as fichas.

Fazer as fichas era fácil, eu sabia o nome de todos ali e, se não sabia escrevia o apelido mesmo. Não sei se isso é coisa só de periferia, (onde sempre morei) mas o que não faltava era nome difícil de falar ou de escrever, muito K, Y, W, que no fim acabava mesmo em apelido: Kaká, Zoínho, Rebite, Galego, Trombinha, Carlim Neném, Bezerro, Tão, Neneco, Pelé não, esse não tinha.  
   
Um dia treinou com a gente dois rapazinhos que chegaram da fazenda e o Jovino (ele era quem organizava as coisas no time) os mandou falarem comigo e fazerem a ficha. Todos quiseram saber o motivo deles mudarem para cidade numa época em que rapazes sonhavam com a vida rural, essas coisas de nadar em rio, andar a cavalo, muita fruta, leite no curral... (na enxada e no sol quente ninguém pensava). Disseram que vinham por ser aqui uma cidade de ponto facultativo: Eu não devia, mas perguntei – ponto facultativo? “É, meu pai falou que tá vindo muita faculdade pra cá!”.     
   
O primeiro rapaz se chamava Welklysson e na hora de escrever na ficha avisei pra ele:   - Acho que vai ser difícil pra turma grudar esse nome na memória, vai lhe pintar um baita apelido! - Apelido eu não gosto! - ele me disse.
- Então é melhor você colocar uma plaqueta com seu nome no peito! – lhe  disse.
Contando ninguém acredita, mas não é que o Welklysson no dia seguinte chegou ao treino com uma plaqueta no lado esquerdo do peito em que o nome dele estava bem visível? (e a mãe dele devia ser boa no artesanato, pois a plaqueta estava bem feitinha)
Mas ali, no meio daquela turma e ainda com um nome complicado era difícil escapar do apelido: No domingo de manhã, antes do jogo, nosso técnico ao distribuir as camisas gritou: - Plaqueta! Você joga com a 8!

Daquela turma muitos eu não vi mais. O Plaqueta sei que foi estudar fora. Muitos hoje são doutores, empresários, fazendeiros e até políticos. Certa vez viajando de carro pelo sudoeste mineiro ouvi pelo rádio, no horário político: - “Para vereador vote em Plaqueta!” Lembrei-me do Welklysson.

(Num tempo em que se jogava por amor à camisa, o “Três Coqueiros” não fez feio, chegando, inclusive, num torneio, receber a Taça de Campeão. Já contei essa?)


        

quarta-feira, 12 de março de 2014

Crônicas do Saavedra


 










A HORA É DE MUDANÇAS
Saavedra Fontes                                                                                                     

Chegamos a mais um milênio com a mesma curiosidade e impotência de dois mil anos atrás. Percorremos o tempo com muitos avanços técnicos e quase nenhum progresso espiritual. Somos totalmente omissos às Divinas e reveladoras palavras do Cristo e dos grandes profetas da cristandade. A genialidade de Milton e Descartes legou-nos a herança do racionalismo como fonte da única verdade. A cada efeito físico, a cada reação da matéria triplicam-se os gastos das grandes potências com as pesquisas científicas e seus delírios bélicos, fontes de interesse comercial e de poder.
As velhas indagações continuam sendo vãs curiosidades dos pobres e humildes adeptos da espiritualidade: “de onde viemos? Para que viemos? Para onde vamos? São perguntas eternamente sem respostas, porque não há pesquisas sérias a respeito e ficam confinadas aos chamados mistérios indecifráveis. Enquanto a vaidade humana sugere que a sede de nossos sentimentos é o cérebro, a ingenuidade poética a tem como endereço o coração, e o Homem viaja num mundo de fantasias e superstições sem chegar a lugar algum.
Aplaudimos a possibilidade das viagens interplanetárias e esquecemos deliberadamente o nosso universo interior, rico de respostas para a nossa origem Divina. Chegaremos um dia a fabricar chips que permitirão a fabricação de robôs para fins pacíficos e guerreiros, mas nunca fomos suficientemente hábeis e inteligentes para dissecar nosso íntimo, extraindo das profundezas de nosso espírito as deficiências do pensamento que bloqueiam nossas intuições Divinas e deduções lógicas. A natureza do Ser Humano é acomodada, contraditória, imperfeita. Tenta minimizar suas agressões ao meio ambiente  promovendo o reflorestamento inadequado e segue construindo represas, permitindo a invasão e a descaracterização de sítios ecológicos de notável importância para a fauna e para a flora, para servir ao turismo comercializado. Como todo aporismo, sem solução, por que só o dinheiro interessa. O vírus do HIV, o flagelo do século, revelou o despreparo moral de educadores e cientistas, que ao tratarem da conscientização da juventude usou de contemporização, vulgarizando o sexo e incentivando a promiscuidade com o aval da irresponsabilidade.
À medida que os anos passam novos tempos vão surgindo com novas formas de medir a capacidade de mudanças no Homem, fazendo-o refletir sobre a necessidade da evolução moral. Convocar aqueles de boa vontade, envolver o seu espírito de idéias novas e sentimentos restaurados que falem de paz, amor, solidariedade e compreensão para a construção de um novo Homem, deveria ser a meta principal de toda educação. Para isto é necessário ensinar através do exemplo, convencendo-nos e ao nosso próximo de que a luta não pode ser maniqueísta, pois não é um duelo entre o bem e o mau, mas é o bastante para a preservação da espécie humana e da herança Divina de nosso espírito.  Ver o Homem como viajante no Cosmos e conquistador do Universo é uma visão tola e sem propósito, pois este é infinito para as nossas possibilidades e jamais será totalmente conquistado. Quem o tentar não deverá ultrapassar os limites de nossa galáxia. Devemos lutar sim para o nosso reencontro com Deus, nosso Criador, procurando respostas para: de onde viemos, para que viemos e para onde vamos. Este é o caminho da felicidade. ###

sexta-feira, 7 de março de 2014

Crônicas de Neusa Marques Palis





A boneca do Sr. Geraldo


O sr. Geraldo não era e nem nunca foi candidato a nenhum cargo político nessa vida, mas permanece em minhas lembranças, de maneira negativa, por causa de uma promessa.
A história é curta, as consequências emocionais é que foram imensas.
Eu tinha lá meus quatro anos e morava com meus pais na fazendo do meu avô. Sr Geraldo era o leiteiro, que em seu caminhão, vinha recolher o leite todas as manhãs e ao me ver,  apertava minhas bochechas e me cobria daqueles elogios que se fazem a uma garotinha daquela idade, me chamando de princesa, essas coisas…
Um dia, em meio aos elogios, inconsequentemente, disse: – Quando eu voltar, vou te trazer uma boneca.
É impossível descrever a alegria, a expectativa, mas posso garantir que na minha vidinha inocente e despreocupada, inaugurou-se a primeira ansiedade.
A cada manhã eu me preparava para o grande momento. O barulho do motor do caminhão do Sr. Geraldo parando lá na porteira era o bastante para que eu corresse timidamente para a varanda do casarão dos meus avós, próxima aos latões de leite.  Ele repetia os afagos e eu ficava espichando os olhinhos para a boléia, certa de que dessa vez, ali estaria a tão sonhada boneca.
Não suportando mais a frustração, contei à minha mãe, e falei que ia perguntar pelo presente, cobrar era inimaginável, eu pressentia, pela educação recebida. Fui terminantemente proibida. E ela ainda usou uma frase “era o dado por não dado”, ou seja, papo.
Esse ano, recortei dos jornais as promessas impressas feitas por todos os candidatos.
Mamãe, apesar do respeito que tenho, já não me impede mais que eu faça cobranças, e agora, já não é mais o dado por não dado, está escrito, é documento.

Neusa Marques Palis
nmpalis@yahoo.com.br

quinta-feira, 6 de março de 2014

Crônicas de Whisner Fraga



 

 

 

IN MEMORIAM >> 

Whisner Fraga


Para uma criança, presenciar aquele senhor oferecendo a sua mansão em troca de uma casa de classe média, recém-construída, está claro, mas ainda de classe média-baixa, era coisa séria. Moleque leva tudo a sério demais. Fato é que, quando ele me pediu a opinião, fui taxativo: não. Eu gostava de meu quarto, que dividia com dois irmãos e que devia ter uns três metros quadrados de área útil, descontados os espaços ocupados pelas camas e pelo guarda-roupa.

Mais tarde, na adolescência, me aproximei mais deste senhor: cheguei a trabalhar para seu filho, em uma vídeolocadora. Aos sábados, o estabelecimento funcionava o dia todo, até o final da tarde. Não eram raras as aparições do pai de meu patrão, que me pedia que colocasse um filme para a gente assistir. Como o movimento era fraco depois das quatro, era sempre possível.

Certa vez, estávamos a ver "Trocando as bolas", com Eddie Murphy, um blockbuster bem previsível dos anos oitenta, hoje quase um clássico, quando começaram a desfilar mulheres de seios de fora pela tela, o que nos assustou bastante. Daí que ele quis checar: você colocou um filme de sacanagem? E terminamos por rir do mal-entendido. Acho que ele sabia que a Dona Dagmar, sua esposa, não aprovaria a atitude e, é claro, tampouco alguém de minha família.

Para mim, ir à Agropecuária Vianna do Castelo era uma aventura. O escritório situado no Edifício Ituiutaba, tinha tudo que representava o sonho de um jovem que sonhava com a literatura: a assinatura da revista Visão, duas ou três máquinas de datilografia e papel à vontade. É claro que eu passava apressado pelas colunas políticas da Visão para chegar logo aos textos sobre cinema e cultura. Eu não sei se o Sr. Bete, como o chamávamos, se interessava por artes, mas atesto que ele era um leitor atento, a julgar pelos óculos que nunca abandonavam os olhos fixos no jornal do dia.

Minha família deve muito a ele e se eu deixo para contar a razão no final desta crônica, é porque sempre foi muito difícil falar sobre o assunto. Minha mãe precisava urgentemente de uma cirurgia no cérebro e, é claro, não tínhamos dinheiro o suficiente para bancar a intervenção. Veio o Sr. Bete em nosso auxílio: bancou hospital, viagem e tudo o que não tínhamos direito. E pagou, até onde sei, os melhores médicos do país, pois o trabalho foi tão bom, que minha mãe não ficou com nenhuma sequela.

Devemos muito ao Gilberto Cancella, mas, de minha parte, nunca poderei pagar, pois soube que ele faleceu no final do mês passado. Fiquei triste, como se fosse um amigo que partia. Durante muito tempo acalentei o desejo de voltar ao oitavo andar do Edifício Ituiutaba, para revisitar um pedaço da história deste senhor, mas acho que ela é muito mais bonita e interessante onde está: em minha memória.###


Whisner Fraga - ALAMI - Cadeira 58

 
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