Leíse Sanches
A
noite exalava um ar quente de verão. A lua parecia se encostar nas montanhas que
cercavam a pequena cidade. A criançada fazia barulho na rua, e Leíse estava lá,
agarrando todas as boladas que lhe atiravam. Ah, ela era boa nisso. Encarava as
brincadeiras com seriedade, dando sempre tudo de si. Depois da queimada, vinha a
bandeirinha e o pique-esconde. O suor escorria pelos rostinhos rosados e
felizes, mas uma voz firme e bem conhecida sempre se fazia ecoar naquelas noites
mágicas:
_
Leíse, hora de entrar!
Rapidamente,mas
não com muito gosto, Leíse corria, abria o portão e entrava em sua casa. Os
irmãos mais velhos, já a postos no quarto, esperavam sentados nas camas. A mãe,
com o Livro aberto, olhava para cada filho e começava a ler suas palavras de
vida. Aquelas palavras entravam nos ouvidos e na alma. Ali, Deus falava e Leíse
e seus irmãos se silenciavam para ouvir. A oração vinha em seguida, mas a
menina adormecia. Era a hora de Leíse dormir. Dormia enquanto sua mãe falava
com Deus. Mal fechava os olhos, os sonhos traziam as mais coloridas aventuras.
Uma delas se repetia noite após noite. Ela até já havia se acostumado com o
frio na barriga que os constantes saltos da ponte no rio lhe causavam durante o
sono. E, entre sonhos e sonhos, aquela voz firme e doce sempre se fazia ouvir
ao amanhecer:
-
Leíse, hora de acordar!
Assim,
sua mãe a acordava, enquanto abria a grande janela de madeira. O sol entrava no
quarto e a obrigava a despertar para enfrentar o dia, a escola, as tarefas e as
obrigações domésticas. Leíse se alegrava ao obedecer e se sentia grata, mas,
mesmo se esforçando, não conseguia entender o porquê de tanto amore tanta
felicidade. Era uma sensação de segurança infinita, como se nenhum mal pudesse
alcançá-la. Ela não tinha medo de nada, exceto de não ouvir mais aquela voz que,
com muita disciplina, lhe firmava os passos dia após dia.O tempo levou a mãe à
eternidade, mas trouxe a maternidade à menina que ainda ouve e perpetua a voz
que não se pode calar:
-
Leíse, hora de ser voz!
*Leíse Sanches é professora de Música no Conservatório Estadual de Música "Dr. José Zoccoli de Andrade" - Acadêmica da ALAMI.
Parabéns! Excelente texto.
ResponderExcluirAtt: Enio Ferreira
Muito obrigada por me incentivar, Enio!
ResponderExcluirObs: No último parágrafo faltou um s na frase "Leíse se alegrava ao obedecer"
Leíse
Leíse, o esse já está em seu lugar. E, a Internet tem bota de sete léguas, sua crônica já teve mais de cem leitores. Muito bem!
ResponderExcluirQue bom!!! E que expressão interessante essa "bota de sete léguas". Amei. Obrigada por tudo!
ExcluirParabéns amada sobrinha! Você me emocionou com o texto, e me fez recordar da minha amada irmã Nadir, que ajudou a minha mãe a cuidar de mim. Lembro-me das brincadeiras dos sobrinhos na rua em frente à casa de meus pais. Tive o prazer de participar desses momentos. Saudades!!!... Que Deus continue te abençoando, ao Marcos, André e Lucas.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirTio querido, você era muito amado por minha mãe. Sempre nos tratou com todo carinho e por isso continuada amado. Deus o abençoe! Obrigada por tudo!
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