terça-feira, 26 de setembro de 2017

Crônicas de Ricardo Abalém














Ricardo Abalém


Saída Estratégica


O término das apurações marca o final de mais uma eleição. Em meio a muita festa, a vitória do novo governador é comemorada em todo o Estado das Minas Gerais. Os partidos e seus candidatos, vitoriosos e derrotados, depõem as “armas” e recolhem a vida normal, longe do mundo agitado da campanha. Enquanto o governo, no mando, prepara para passar o comando aos novos mandatários, que iniciam a árdua tarefa de compor uma nova administração. A escolha dos nomes de secretários e principais assessores, a composição do novo governo, é a mais difícil tarefa para o novo Mandatário. São tantos os companheiros e poucos cargos. Eis aí a dificuldade para acertar os acordos firmados.
E foi em um monumental comício de agradecimentos, realizado diante do Palácio da Liberdade, na capital mineira, que iniciou o sofrimento do governador eleito. Um companheiro do candidato vencedor, antes de seu discurso final, abraçou fraternalmente e lhe disse baixinho: “Doutor eu sou o Júlio da Zona da Mata. Lembra-se de mim? Eu lhe dei muitos votos em minha região e vou aguardar minha nomeação para uma das secretarias de seu governo. Afinal, como advogado, eu encaixo em qualquer pasta”. Vamos ver companheiro! Procura-me depois! Foi esta a saída do político ao impertinente companheiro! Não parou por aí. Todos os dias o Julio conseguia, não se sabe por que meios, falar ao telefone com o companheiro. E a história se repetia. Cobrava do novo governador o cargo de secretário em seu governo, apresentando sempre a mesma justificativa. Uma semana para a posse, o novo Governador anunciou o nome de 80% de seu secretariado. Como o nome do Júlio não apareceu, usando todo o seu prestígio, resolveu procurar a imprensa para uma coletiva. Para pressionar o governador ele afirmou que seria secretário de Estado do Novo Governo e que o novo Chefe do Executivo divulgaria a sua decisão, nas próximas 24 horas. Os principais órgãos de comunicação do Estado divulgaram a notícia com destaque. Passavam-se os dias e nada da indicação. Mas, o Júlio não desistiu de seu intento. Na porta da residência do novo mandatário mineiro, quando este saia para tomar posse, Julio reuniu todos os órgãos de imprensa e disse aos repórteres: “Um momento, amigos. Vamos ouvir o Doutor que tem uma importante declaração a fazer, com relação a minha nomeação! Pode falar Governador!”.
Pois não, disse o Governador. O meu grande amigo e correligionário Julio é uma pessoa da mais alta competência e de minha inteira confiança. Apesar dos meus constantes e reiterados apelos para que ele ocupasse uma Secretaria de Estado, em meu governo, este não aceitou. Melhores esclarecimentos, a respeito, vocês poderão colher com o meu companheiro Júlio, aqui ao lado. Um abraço a todos e os espero daqui a pouco em nossa posse.
Júlio perplexo com a resposta do futuro mandatário mineiro iniciou junto aos repórteres uma entrevista para explicar os fatos. Conclusão: “nunca se deve cutucar uma onça com vara curta e muito menos, uma raposa”.

27 de maio de 2010
Ricardo Abalem.


Casos de palanque político

Como coordenador e apresentador, em aproximadamente meio século, de comícios de acirradas campanhas políticas, em Ituiutaba, Pontal Mineiro, Triângulo e Alto Paranaíba, presenciei muitos acontecimentos hilários, que merecem ser registrados. A nossa função não era somente apresentar os candidatos, ajudava na montagem dos palanques e como jornalista e radialista, preparava os textos, que eram decorados pelos candidatos que não tinham muito contato com microfones. Muitos eram tímidos e precisavam de “incentivo” para comunicar com os eleitores. O número resumido de partidos tornava Ituiutaba, polo regional. E assim, o MDB, depois PMDB, ajudava todos os correligionários nas cidades da Região do Pontal, especialmente, na coordenação de suntuosos comícios, verdadeiras festas cívicas.
E foi assim, que em um comício animado, numa vizinha cidade da região, presenciamos o seguinte fato. Sempre que realizávamos um comício usávamos dois caminhões. Unindo as partes traseiras dos veículos fazíamos dois palcos: um para os candidatos discursarem e o outro, para os artistas, lideranças políticas e simpatizantes. Era costume, com os dois caminhões lotados, um público sempre recorde, deixarmos as grades laterais erguidas, onde os candidatos e demais oradores apoiavam os pés para comunicar com seus eleitores. O que não era bem visto pela coordenação. Neste dia, dado ao grande número de pessoas que se posicionavam a frente do palanque, resolvemos mudar. Baixamos as grades dos Caminhões. Como acontece em todos os comícios, em baixo, a frente do palanque, sempre aparecia um bêbado para perturbar. Esse dia apareceram dois. Com o comício em andamento, na hora de anunciar o pretendente a prefeito, me chegava um candidato a vereador. Era esta sua estratégia, sempre que estava para anunciar o orador principal ele aparecia. Chegava à frente, colocava um dos pés na grade. Eu anunciava seu nome, e ele levantava seus braços saudando o povo e saia de cena. Neste dia, ele chegou atrasado e eu não o vi. Abrindo caminho entre os seus colegas chegou à frente levantou os dois braços e quando levou o seu pé para apoiar na grade do caminhão, não a encontrou e caiu, literalmente, nos braços do povo. E a multidão caiu em gargalhada. E eu tinha que encontrar urgentemente uma saída que justificasse o incidente. E coloquei em prática a primeira ideia que me veio à cabeça: meus amigos! Vamos aplaudir o nosso candidato que tomado de Emoção, caiu nos braços de seus eleitores. E um dos bêbados! O mais falante! Gritou bem alto: seu Ricardo! Eu bebo há mais de 20 anos! Conheço todas as cachaças, mais esta tal de Emoção eu nunca vi falar. As risadas triplicaram em meio da multidão e eu não tive alternativa. Alterei a programação, anunciando uma atração artística.


Ricardo Abalem




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