DOMINGO
Jair Humberto Rosa
Domingo de manhã,
impreterivelmente às sete horas, ele estava na igreja assistindo à missa.
Metódico e pontual, ele chegava sempre dez minutos antes, para acomodar-se sem
incomodar ninguém.
Desde quando a mãe falecera, sentia-se
impelido a dedicar-se à prática religiosa; enquanto ela vivia, pouco
frequentava a igreja, limitando-se aos casamentos e batizados para os quais era
convidado e, de vez em quando, lembrado pela mãe, dava o ar de sua graça em uma
missa.
Não era um filho obediente, mas
quando ela fazia um pedido que podia atender, esforçava-se. Porém com o
falecimento daquela que tentara a vida toda fazer do único filho um praticante
dedicado à religião, um desejo quase incontrolável o conduzia para o
atendimento póstumo dessa exigência materna. Nunca se casou, nem teve filhos e
até os cinquenta anos era frequentador pouco assíduo de casas de prostituição.
Depois da morte da mãe, a apatia venceu o desejo, acomodou-se. A igreja, então,
passou a ter mais significado, sendo uma das poucas relações sociais que
exercia. Embora a missa de domingo de manhã sempre contasse com sua presença,
frequentava também outras, sem, entretanto, ter o mesmo compromisso que
assumira consigo mesmo em relação àquela que a mãe ensinara ser a principal
missa rezada na Matriz.
Muitas vezes ia também no
sábado à noite, aquela missa em que as mulheres compareciam mais bem vestidas,
desfilando elegância. Já no meio da semana, ele era menos frequente nas
celebrações religiosas.
Entregou-se à devoção e
depositou todas as suas esperanças em Deus, na certeza de que seus problemas
teriam uma rápida solução. Todo domingo ia à igreja para encontrar seu
salvador, saía de certa forma aliviado, embora acordasse na manhã de segunda
feira com a sensação de aperto na garganta, como se estivesse sendo asfixiado.
A sensação persistia até a manhã de domingo.
Assim levava a vida, esperando
a solução divina. Entretanto, à medida que o tempo ia passando, mais aumentava
a angústia, e suas forças iam sendo minadas.
Até que numa tarde de domingo,
a já frágil sensação de alívio conquistada na missa a que compareceu de manhã
tendo desaparecido, sentiu que não tinha mais forças para persistir.
Cansado de esperar que Deus
fosse livrá-lo da angústia, à tarde voltou à igreja, subiu as escadas da torre
até o topo, resolvido a ir ao encontro d’Ele.
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