A GRAÇA DA GRAÇA
José Moreira Filho - ALAMI -
Existe uma música, um pouco antiga,
de um conterrâneo nosso que tem um verso assim: “vi que a graça nunca vem de
graça e os pecados eu paguei primeiro”. Ao ouvir esse poema talvez pela enésima
vez, percebi a realidade que o autor quer mostrar. Se minha reflexão estiver
correta, imagino que a graça é um dom, é verdade, e como tal não tem como buscá-la,
comprá-la ou inventá-la, mas nunca vem de graça. É preciso merecê-la. É preciso
estar aberto para recebê-la, é preciso um coração desarmado, sem armaduras, sem
trincheiras, sem barreiras e taramelas. Há pessoas que vivem assim,
ensimesmadas. Fazem segredos de tudo, se fecham em copas e seu coração fica insosso
e principalmente sem a graça. Torna-se um terreno árduo onde a semente da graça
não brota. É preciso o adubo da espontaneidade, a água da alegria e o sol do
riso para alimentar essa plantinha. É preciso graça para receber a graça. Daí,
devagar, ela vai brotando, crescendo e acaba se tornando um arbusto forte,
dando frutos que alimentam o espírito.
Assim, dependendo de nossa
disponibilidade, da propriedade do terreno, a graça pode ser de várias
espécies. Pode vir sob a forma de felicidade, de desapego, de solidariedade, de
amizade verdadeira, de fé ou de amor. O fruto mais doce dessa árvore é o amor.
Há pessoas que nunca receberam essa graça – não conseguem amar. Não se amam e
não amam ninguém. Talvez se apaixonem e até matem dizendo ser por amor. Ledo
engano! Quando se ama de verdade, só se quer o bem do ser amado. O coração fica
repleto dessa graça e, portanto, não há espaço para ervas daninhas como o ódio,
o ciúme, e o desrespeito. Quanta paixão tem torturado tantas mulheres nesse
país!
Importante ter em mente que toda planta requer cuidados, e quanto mais
nobre, maior deve ser a preocupação em lidar com ela. Há pessoas que não
conseguem cultivar orquídeas, nem tulipas ou nem mesmo bem-me-quer. O amor é a
mais nobre das graças recebidas. É preciso cultivá-lo para que possa crescer
infinitamente, pois Deus é amor e Deus é infinito. Outro aspecto de igual
importância é o reconhecimento dos dons recebidos, bem como da responsabilidade
que os acompanha. Um músico de renome deve saber que seu dom precisa prestar
serviços, precisa ser motivo de alegria, de felicidade para seus semelhantes.
Um orador que recebeu o dom da palavra, não pode enterrar esse talento, mas ser
um arauto do bem. Usar essa graça para difundir a verdade, a ética e a justiça.
Assim deve ser o escritor, o sacerdote, o médico, o engenheiro. O melhor de
tudo é que esse reconhecimento não exige necessariamente inteligência, mas sim
sabedoria. A sabedoria permite ao ser humano identificar seus erros,
corrigi-los e principalmente evitar sua reincidência. É
através da sabedoria que podemos ordenar hierarquicamente os valores humanos, e
assim poder apreciar sua utilidade em nossa vida, pois é com ela que
perscrutamos a essência dos fatos, sabendo até que ponto podemos permitir que
nos atinjam. E com certeza, vamos identificar aquela facilidade que temos, como
uma graça recebida e então explorá-la para o bem de todos. E para quem quiser
corroborar sua graça com a fé, encontra em Efésios
2:8-9: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é
dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. ”
José Moreira Filho
FAMÍLIA
É
sabido e constatado que a família tem sofrido, no decorrer dos tempos, toda
sorte de interferência, positiva e negativa, do mundo contemporâneo.
Influências que, queiramos ou não, tem modificado o comportamento das novas
gerações em muitos aspectos.
É
comum vermos pais desesperados, professores aflitos e policiais apavorados
diante, respectivamente, da reação dos filhos, dos alunos e dos adolescentes
malfeitores. Geração que é fruto de uma série de fatores sociais, que por
inovações aceleradas e acompanhamento lento e inadequado, possibilitou o
surgimento do descompromisso, da insegurança, da irresponsabilidade e
consequentemente da incompetência.
O
que procura a maioria de nossos jovens hoje? Não é o ser, mas o ter. E em
muitos casos, o que é pior, procura o parecer ter. Não foi sempre assim. No
decorrer dos tempos houve modificações importantes. Vejamos: em outros tempos
as funções na família eram bem delineadas. O pai era o provedor e, portanto,
era quem tinha o mando, era cultuado por respeito ou por receio. A mãe era a
matrona, respondia pela lida da casa, educação dos filhos e a satisfação do
marido. Seus sonhos e desejos eram secundários. E os filhos, aquela enorme
prole, seguia as orientações, e quase sempre a profissão do patriarca. A
mobilidade social era restrita e a família acabava sendo um bloco único formado
de pai, mãe, filhos, netos e agregados. Hoje, talvez, já não podemos falar em
um modelo único de família, pois várias configurações tem se formado, em função
das mudanças econômicas, políticas e religiosas. Pois, a manutenção do lar pode
ser feita pela mulher, que hoje já é uma profissional em pé de igualdade com o
homem. Há famílias sem a presença do pai, como também há aquelas sem a presença
da mãe, e inclusive, com a abertura legal, existe a família chamada homossexual.
O
que não podemos nos esquecer, é que, apesar de tudo isso, algumas funções
continuam sendo da família, principalmente no que se refere à educação. Pois
valores fundamentais devem ser plantados a partir do útero materno. É no seio
da família que se forma o caráter, o respeito por si e pelos os outros, a
solidariedade, a honradez, a religiosidade e o amor. Essa função, como tem
acontecido hoje, não pode ser delegada para a escola. A criança deve chegar à
escola já com as sementes desses valores, onde deverão, isso sim, serem
cultivadas. Nesse sentido presenciamos hoje uma polêmica: Quem deve orientar
sexualmente nossos jovens e adolescentes? Quem tem a responsabilidade, a
competência e o conhecimento para tal tarefa? Qual modelo de família é o mais
adequado para isso? Aos pais, na atual configuração social, falta a presença e
à escola ainda falta formação.
Enquanto
isso, é necessário que reflitamos bem para encontrarmos o caminho mais salutar.
Mais do que nunca, família e escola devem se dar as mãos, pois são os únicos
que diretamente tem acesso e influência sobre essa camada da sociedade.
Quem sabe
assim, muitos outros possam depois repetir com o padre Zezinho: “Das muitas
coisas Do meu tempo de criança Guardo vivo na lembrança O aconchego de meu
lar.” E como ele, possamos chamar a isso de paz e não de utopia.
Jose Moreira Filho
Nenhum comentário:
Postar um comentário