sábado, 15 de fevereiro de 2014

Crônicas da Neusa Marques Palis


Pai nosso…

…que estás no céu, ando um tanto ocupada demais e rezando um pouco de menos, é verdade, mas vou fazer um único pedido:
- Não daria para o Senhor voltar a passar outra temporada aqui na Terra?
Eu sei que aí é muito melhor; quer dizer, imagino, pois ainda prefiro ir ficando um pouco mais por aqui, tentando angariar bônus para tal merecimento, o Senhor sabe né. E vamos pensar, eu aí não devo fazer muita diferença, mas o Senhor aqui, faria toda.
Mas voltemos ao meu pedido, que eu disse que era único, e é, mas com um detalhe:
O Brasil não era do Seu tempo, mas era para cá que eu gostaria que o Senhor viesse. A paisagem é bonita, o problema é o povo.
Vou explicar: – a gente lá vinha vindo mais ou menos, entre trancos e barrancos, e até já ficamos famosos por desenvolver um tal jeitinho. Nada de pecado, era só muita criatividade e uma pitadinha de malícia pra “dar jeito” em tudo, porque desde sempre as coisas por aqui nunca foram fáceis.
Pois bem, perdemos o controle, e o tal jeitinho, que era até um charme, virou uma praga chamada corrupção, muito, muito mais devastadora do que a Praga dos Gafanhotos.
Inventaram uma tal Globalização, que acho que era isso mesmo que o Senhor queria, a mistura dos povos, com solidariedade, os mais ricos acudindo os mais pobres, mas deu tudo errado.
É tanta quinquilharia, gente falsa, serviços falsos, objetos falsos, que ninguém mais está sabendo separar o joio do trigo.
E aquilo que o Senhor disse que era mais fácil um camelo passar no buraco de uma agulha do que um rico adentrar o reino dos céus esqueça. Ou o povo não acredita nisso, ou resolveu fazer o céu por aqui mesmo, pois que é justamente para ficar cada vez mais rico, uns passando a perna nos outros, que a tal corrupção tomou conta.
Se vier, por favor, faça essa caridade, não chegue primeiro em Brasília, que é a nossa capital, pois não gostaria que o Senhor batesse em retirada imediatamente, nem que gastasse o tempo assistindo às infinidades de CPIs, que são as atividades que mais ocupam nossos políticos,  e nunca vão dar em nada. Quer dizer, dão: Notícias para os jornais e frisson nos nervos de um tantim de gente boa e crédula que ainda existe, e nem pergunte se esse tantim não tem vergonha na cara, pois que se tivéssemos, depois de um tal de Mensalão, a coisa já tinha tomado outro rumo.
Ah! Também pregar no Templo, já vou adiantar-lhe, não é mais como da outra vez não.
Templos é o que não nos faltam, aliás, a cada dia inaugura-se um, mas a intenção é outra, a única coisa que ainda permanece é usar o nome do Senhor, para… deixa o Senhor ver pessoalmente.
Também não pense que vai dando jeito separando as águas do mar para dar passagem a um povo escolhido, como fez da outra vez. Se as coisas continuarem do jeito que vão, vai ser muita trabalheira pra nada – só uns gatos pingados vão fazer a travessia; e de mais a mais, mar não vai resolver nada, as almas daqui estão indo de roldão é de Cachoeira em cachoeiras.

PS – Converse com Deus, insista para que ele lhe dê permissão, eu confio que o Senhor vai saber dar um jeitinho, (ops).
 
* Neusa Marques Palis
nmpalis@yahoo.com.br


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