Jair Humberto Rosa - ALAMI
As três eram irmãs:Maria da Fé, Maria
Esperança e Maria Caridade. As más
línguas diziam que quem mais fazia caridade era a Fé: costumava dar muito de si
para gente da cidade e, para não parecer preconceito ou pouco-caso, também para
alguns da roça. E sem qualquer interesse pecuniário. Entretanto era de pouca fé, não acreditava muito
que alguma coisa pudesse melhorar algum dia em sua vida.
Caridade, porém,
não era de fazer caridadese,
se alguma coisa concedia, era a troco de alguma compensação monetária. Dizia,
entre humor e sarcasmo:
- “Quem trabalha de
graça é relógio”.
Coerente e
assertiva era a moça.
Esperança, ainda que tivesse esperança de que algum dia as coisas
melhorassem, não tinha uma vida nada confortávele, ao casar-se com um moço da roça,em nada melhorou seu padrão de vida. Pelo
contrário, o trabalho, que já não era pouco na casa da família, teve expressivo
aumento ao assumir sua condição de dona-de-casa.
Cuidar de um lar não é incumbência nada fácil. Cozinhar, lavar e passar
roupas, limpar e arrumar a casa, cuidar de filhos e ainda ter de educar os pirralhos, deixa qualquer mulher
exausta em pouco tempo. Muitas, entretanto, como Esperança, aguentam firmes a
missão que lhes foi dada por Deus,
e fazem tudo sem reclamar. Comportam-se de forma conformada,
resignadamente.
Esperança, por seu turno, vivia dando demonstrações de alegriae era dada a contar piadas, embora com finais trágicos, quase sempre.
Esperança, por seu turno, vivia dando demonstrações de alegriae era dada a contar piadas, embora com finais trágicos, quase sempre.
Como cada uma
seguiu seu caminho, morando em lugares diferentes, pouco se viam na idade
adulta.
Caridade acabou por encontrar um
pretendente abastado, foram morar juntos, constituíram uma família, viveram
maritalmente até que o pobre homem, não muito jovem e já sem boa saúde, acabou por partirpara um mundo
melhor.
Caridade ainda
usufruiu de uma vida confortável por muitos anos.
Fé, cansada de
tanto ajudar as pessoas,sem reconhecimento nem gratidão, tornou-se uma
mulher triste, mesquinha, ensimesmada reclusa em sua casa lúgubre. Um dia
desapareceu, ninguém soube para onde fora, e parece não ter feito falta a
ninguém.
Esperança, por sua
vez, não suportou por muito tempo a vida triste que levava, sem sentir nenhum
prazer em vivere, mesmo
sentindo-se covarde em abandonar os filhos, arrumou a mala e na calada da noite
foi para a estrada pegar uma carona rumo à cidade grande.
Contrariando o dito
popular, soube-se depois de alguns anos, Esperança foi a primeira das irmãs a
deixar este mundo.
* Jair Humberto Rosa é autor, entre
outros, de "O
sujeito", contos, J. Scortecci, São Paulo, 2005;
Nenhum comentário:
Postar um comentário