“Tenho sentido um prazer imenso em escutar os velhos discos.”
Whisner Fraga - ALAMI
Exumei alguns elepês e encaixei na vitrola, depois de décadas. Não é força de expressão, foram décadas mesmo. Interessante isso, de manusear o vinil, de ver o trabalho de arte em uma capa enorme, de ler os créditos da produção, de ler as letras das músicas. Havia ocorrido de me desinteressar razoavelmente por música. Ouvir uma faixa no celular ou no computador nunca me atraiu o suficiente. Mesmo em CD a coisa não andava bem. Não estou falando nem em qualidade sonora, porque não tenho o ouvido apurado o bastante para discutir esse assunto. É o fetiche mesmo, o objeto. Tenho sentido um prazer imenso em escutar os velhos discos. Parece que a música deixou de ser apenas pano de fundo para se tornar novamente protagonista aqui em casa.
Sem falar nas feiras. Porque no Brasil ainda é complicado achar discos novos, então temos de recorrer aos sebos, aos usados. O verbo “garimpar” nunca fez tanto sentido. Parece que nos anos 1970, 1980 só produziram música ruim. Isto é, ruim para o meu gosto. Ray Connif e Perla são figurinhas carimbadas nas lojas de segunda mão, mas não me interessam.
O que há de rock progressivo? Gótico? Muito pouco, o que significa que o que encontramos é caro. Se há três décadas esses long-plays eram raros, imaginem hoje! O que você tem aí de folk? Pouco, pouco. Industrial? Quase nada. Um ou dois elepês. Começou a parecer um hobby caro. Por que não aproveitar o spotify, muito mais em conta?
Então resolvi dar uma passeada pelos sebos de livros, que resolveram investir também nos vinis. Mas ainda está tudo incipiente. Não há muita organização, o que dificulta a procura, mas também a torna mais emocionante. Encontrar um tesouro no meio de tanto lixo é sempre desafiador. Horas e horas de garimpagem e… Nada.
Parece mais fácil correr atrás de livros raros. Clarice Lispector autografado. Guimarães Rosa assinado. Primeira edição de João Antônio. Pode ser que meus olhos estejam mais adestrados para a literatura. Ainda me considero iniciante na música. Acho que sempre serei.
O processo todo me parece mais emocionante. Você pensa em um álbum e vai atrás: grupos em redes sociais, sites especializados, lojas virtuais, sebos físicos e tenta encontrá-lo. Em casa, o disco deixa de ser tentativa e erro, ele se torna certeza. Ouço com mais paciência, faixa a faixa. Dou uma segunda, terceira chance. Entendo que o trabalho já não é tão descartável quanto no computador ou no celular. Não basta ouvir quinze segundos de uma música e julgar o disco, o artista.
A experiência musical agora é quase física.
Sinal de que você chegou na idade de rever as coisas boas do passado, como a música. e filmes.
ResponderExcluirA crônica, como sempre, texto de refinada maestria . Viva!