Penas
Jair
Humberto Rosa - ALAMI
Nestes
tempos escuros e de finais imprevisíveis para os diversos agentes envolvidos, o
que não está faltando é gente em polvorosa, com ataques de ansiedade e insônia,
além de síndrome do medo. Especialmente medo de receber a visita indesejada do
tal japonês. Ressalte-se que não temos nada contra os japoneses, muito pelo
contrário, temos por eles respeito e admiração, mas tem um especificamente que
está espalhando medo e apreensão que beira o desespero, razão de sua rejeição
por parte de importantes figuras nacionais.
Muitos
são os encrencados, e torcemos para que a lei e a justiça atinjam todos, embora
não sejamos tão ingênuos a ponto de acreditarmos que isso ocorrerá. Mas pelo menos
que os surubins sejam alcançados e fisgados, posto que bagres, traíras e, em
maior quantidade lambaris, sejam difíceis de serem atingidos, devido à enorme
quantidade de indivíduos nos cardumes. E tem cardumes em diversos segmentos,
além do mais.
Sendo
assim, resta-nos a resignação deconformarmo-nos com o aprisionamento desses espécimes
mais avantajados.
Um
desses escolhidos, por sua origem humilde, falta de escolaridade e sofrimento
que teve na infância, penando por falta de condições mínimas de vida, poderia
ser agraciado com um recolhimento em espaço limitado (pode ser chamado de
cadeia) por um período de cento e vinte anos. Como em nosso país há uma grande
compaixão com os malfeitores, ele ficaria um sexto desse tempo, ou mais
precisamente vinte anos, saindo do retiro com pouco mais de noventa. Tendo uma
vida saudável, sem cigarros nem charutos, e não sendo consumidor de
rabo-de-galo nem uísque escocês nem paraguaio, ainda poderia voltar à vida
política.
Outra,
mais jovem embora não tão jovem, tendo nível escolar superior, mas sem
experiência nem competência nenhuma para o cargo em que foi colocada, poderia
ficar bem justiçada com cento e cinquenta anos de pote; e da mesma forma
cumprindo somente um sexto desse tempo, voltaria a ver a luz do sol com pouco
mais de noventa, e ainda teria vitalidade para retomar a vida pública, onde
poderia voltar a enganar muita gente e promover muito desarranjo social.
Bastaria contratar um bom marqueteiro, já que por si mesma não consegue se
expressar de forma convincente.
Outro cuja punição certamente agradaria a
maioria das pessoas de bem, experiente na política,
nascido em berço de ouro e bem escolado, precisaria de um tempo maior de
reclusão, até mesmo por ser mais jovem. Cento e oitenta anos, que significaria
permanecer fora de combate por, pelo menos, trinta anos, parece razoável.
Sairia ainda vigoroso, caso não se transformasse em pó.
Por
último, levando em conta a imensa experiência, a perspicácia, a altíssima
escolaridade e a capacidade de arregimentar seguidores, o outro que podemos
destacar mereceria uns duzentos anos de pena, considerando até mesmo que muito
sugou o sangue do nosso povo. Esse tempo de reclusão na realidade
proporcionarianada mais do que trinta e três anos de isolamento social.
Sendo
o menos jovem de todos, voltaria à liberdade com pouco mais de cem anos. Idade
pouca para um vampiro.
* Jair Humberto Rosa é autor, entre outros, de "O sujeito", contos, J. Scortecci, São Paulo, 2005;
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