terça-feira, 25 de julho de 2017

Crônicas de Jair Humberto Rosa


  







Penas

            Jair Humberto Rosa - ALAMI
Nestes tempos escuros e de finais imprevisíveis para os diversos agentes envolvidos, o que não está faltando é gente em polvorosa, com ataques de ansiedade e insônia, além de síndrome do medo. Especialmente medo de receber a visita indesejada do tal japonês. Ressalte-se que não temos nada contra os japoneses, muito pelo contrário, temos por eles respeito e admiração, mas tem um especificamente que está espalhando medo e apreensão que beira o desespero, razão de sua rejeição por parte de importantes figuras nacionais.
Muitos são os encrencados, e torcemos para que a lei e a justiça atinjam todos, embora não sejamos tão ingênuos a ponto de acreditarmos que isso ocorrerá. Mas pelo menos que os surubins sejam alcançados e fisgados, posto que bagres, traíras e, em maior quantidade lambaris, sejam difíceis de serem atingidos, devido à enorme quantidade de indivíduos nos cardumes. E tem cardumes em diversos segmentos, além do mais.
Sendo assim, resta-nos a resignação deconformarmo-nos com o aprisionamento desses espécimes mais avantajados.
Um desses escolhidos, por sua origem humilde, falta de escolaridade e sofrimento que teve na infância, penando por falta de condições mínimas de vida, poderia ser agraciado com um recolhimento em espaço limitado (pode ser chamado de cadeia) por um período de cento e vinte anos. Como em nosso país há uma grande compaixão com os malfeitores, ele ficaria um sexto desse tempo, ou mais precisamente vinte anos, saindo do retiro com pouco mais de noventa. Tendo uma vida saudável, sem cigarros nem charutos, e não sendo consumidor de rabo-de-galo nem uísque escocês nem paraguaio, ainda poderia voltar à vida política.  
Outra, mais jovem embora não tão jovem, tendo nível escolar superior, mas sem experiência nem competência nenhuma para o cargo em que foi colocada, poderia ficar bem justiçada com cento e cinquenta anos de pote; e da mesma forma cumprindo somente um sexto desse tempo, voltaria a ver a luz do sol com pouco mais de noventa, e ainda teria vitalidade para retomar a vida pública, onde poderia voltar a enganar muita gente e promover muito desarranjo social. Bastaria contratar um bom marqueteiro, já que por si mesma não consegue se expressar de forma convincente.
 Outro cuja punição certamente agradaria a maioria das pessoas de bem, experiente na política, nascido em berço de ouro e bem escolado, precisaria de um tempo maior de reclusão, até mesmo por ser mais jovem. Cento e oitenta anos, que significaria permanecer fora de combate por, pelo menos, trinta anos, parece razoável. Sairia ainda vigoroso, caso não se transformasse em pó.
Por último, levando em conta a imensa experiência, a perspicácia, a altíssima escolaridade e a capacidade de arregimentar seguidores, o outro que podemos destacar mereceria uns duzentos anos de pena, considerando até mesmo que muito sugou o sangue do nosso povo. Esse tempo de reclusão na realidade proporcionarianada mais do que trinta e três anos de isolamento social.

Sendo o menos jovem de todos, voltaria à liberdade com pouco mais de cem anos. Idade pouca para um vampiro. 


* Jair Humberto Rosa é autor, entre outros, de  "O sujeito", contos, J. Scortecci, São Paulo, 2005;


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