Minha primeira visão do mundo
Juarez M Avelar - ALAMI
- Membro da Sociedade
Brasileira de Médicos Escritores –
Quando nasci, a
humanidade já sofria há três anos as terríveis atrocidades da II Guerra
Mundial, período dos mais sangrentos de sua história. Naquela época, os meios
de comunicação eram rudimentares, precários e lentos. Com efeito, as
informações de que se dispunha nunca refletiam a situação do momento. Contudo,
a notícia do fim da Guerra, em agosto de 1945, com a assinatura da rendição
japonesa aos americanos, foi recebida por todos com alívio. Portanto, três anos
após minha chegada ao mundo, o anúncio do fim das hostilidades bélicas
repercutiu rapidamente em todos os cantos do país.
Quando me esforço para acessar informações sobre minha vida precoce,
deparo-me com alguns episódios marcantes. A II Guerra Mundial é um deles,
graças aos relatos de meus pais e familiares. No entanto, o primeiro registro
armazenado na memória é a maravilhosa imagem de minha mãe grávida, com o meu
irmão caçula, Jozimar, em seu volumoso ventre. Em minha visão ela parecia mais
“gorda” que as demais pessoas. Contudo, certo dia ela entrou em casa com um
bebê nos braços que foi nossa alegria de todos.
Ainda cedo foi embalada por sonhos de futuro. Cada um de nós sempre
demonstrou desejo de estudar e concluir cursos universitários. Para meus pais,
tais desejos ensejavam elucidativas conversas sobre atividades como Engenharia,
Medicina, Direito, Pedagogia, Economia, Veterinária e Agronomia, que eram as
profissões disponíveis aos jovens interessados na universidade. Essas
profissões eram temas de debate, e nós, crianças, anunciávamos que
escolheríamos esta ou aquela faculdade. No meu caso, ainda precocemente, cada
vez mais se acentuava o desejo de tornar-me médico.
Enquanto meus irmãos
mais velhos freqüentavam o grupo escolar, eu, em razão da pouca idade, ficava
em casa em companhia de mamãe, no desempenho das obrigações domésticas. Assim,
desde minha infância já me identifiquei com o trabalho razão pela qual sempre
envidei esforços para realizar as tarefas com dedicação e empenho. Essa
convivência com mamãe despertou em mim a curiosidade pela fita métrica,
instrumento valioso para o trabalho exercido por meus pais. Inicialmente
aprendi a ler os números da fita; em seguida, memorizei sua seqüência, e depois
aprendi a dobrá-la para obter a soma de suas metades e entender o significado
da multiplicação. O mesmo ocorreu com as operações de divisão e subtração.
Minha curiosidade e o desejo de ajudar mamãe levaram-me a tentar algumas
anotações, sendo alfabetizado por ela. Que alegria rememorar aqueles momentos
de aprendizado, de descobertas tão importantes em minha vida!
Meu vínculo formal
com a escola começou aos oito anos de idade e, graças às aulas de minha mãe,
pude ingressar no segundo ano do curso primário (hoje chamado Ensino
Fundamental). Durante os estudos um turbilhão de sentimentos, ao constatar que
freqüentar a escola me levaria, um dia, a cursar uma Faculdade de Medicina.
Como foi bom ser embalado por sonhos! O caloroso ambiente familiar era
orquestrado por meus pais, que não mediam esforços para alimentar nossos sonhos
infantis. Eles nos fizeram entender que para alcançar nossos projetos de vida
era necessária dedicação aos estudos. No meu caso em especial, percebi que
estudar com afinco era etapa indispensável para realizar o sonho de ser médico.
Felizmente, após mais de seis décadas, posso constatar que meus objetivos foram
alcançados. Melhor ainda é vivenciar a concretização de sonhos transformados em
realidade pelo meu trabalho, para levar uma mensagem de fé a meus semelhantes
que necessitam de meus conhecimentos, habilidade manual e arte para realizar a
transformação física e psicológica de que necessitam.
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