terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Crônicas do Marco Túlio



Crônicas do Marco Túlio
Marco Túlio Faissol Tannús

resumo.da.opera@hotmail.com
 

PRESTÍGIO

Nego Wirson era um senhor bem vestido, terno branco e chapéu quebrado, que, nos anos setenta, vivia pelos bares espalhando bom humor e ironia fina. Sessenta e poucos anos, mãos lisas de quem pouco trabalhou na vida, resolveu que precisava de um emprego para tratar de sua companheira a quem chamava carinhosamente de minha crioula. Fuçou aqui e ali e descobriu um posto vago de gari na Prefeitura. Conversando com o Nute, um fiscal seu amigo, ficou sabendo que precisava de um empurrãozinho e procurou o Samir. Telefone vai, telefone vem, tudo foi sendo ajeitado. Alguns dias depois, os dois se encontram no bar da esquina: "e aí Nego Wirson, deu tudo certo?" ao que o outro retrucou: "Eh! Samir. Seu prestígio é grande. É só falar seu nome naquela Prefeitura que porta vai abrindo e o povo vai batendo continência. Levei meus documentos, tirei foto por fora e por dentro, todo mundo me atendendo, mas na hora de assinar os papel, deram para trás. Me pediram desculpas quase chorando porque não atenderam seu pedido, mas eu não podia ser lixeiro com a minha idade". Fazendo cara de consternação, Samir retrucou: "Depois de tanto trabalho! Mas não fica chateado não!" A resposta veio rápida: "Chateado? Eu não! Mas você não acha esquisito que eu, com sessenta, não posso manobrar uma vassoura de gari, e o Geisel, com quase noventa, pode manobrar o Brasil? Mas uma coisa é certa: no dia em que o Geisel sair da Presidência e quiser ser lixeiro, pode tirar o cavalo da chuva porque aqui na Prefeitura de Ituiutaba não vai ter boca prá ele não!" ###





                              






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