segunda-feira, 30 de maio de 2016

Crônicas de Whisner Fraga

                                   







                                    DUAS SÉRIES
Whisner Fraga 

A natureza dos relacionamentos humanos é essencialmente baseada em estruturas de poder, algumas consolidadas e outras em construção. Isso não é, aliás, exclusividade da espécie humana, mas não entrarei nesses meandros para não me alongar nessa discussão. Assim, o que ocorre hoje na política brasileira é somente um exemplo ou uma aplicação prática um pouco mais ampla e divulgada do que acontece num contexto menor na sociedade.
Traduzindo: essas intrigas, as trocas, os conchavos, as fofocas, as compras de votos, as traições, os vazamentos, permeiam toda a extensa fauna de conexões que construímos do nascimento à morte. Esses joguinhos quase intelectuais fazem a alegria de qualquer coletividade, desde a infância. Não existissem não seriam erigidas tantas filosofias e religiões e poderíamos focar na busca da felicidade e outros acasos.
Então, nesse contexto, eu tiver de manter o equilíbrio e parar de ler jornais e de acompanhar as notícias em geral sobre nosso país. Uma decisão razoável, embora tenha de lidar com a natural curiosidade sobre o que acontece no senado. Aí fui para o Netflix. Mais especificamente ao encontro de Houseofcards e de Orange isthe new black. Evidentemente para continuar com um pé na realidade.
Comparam o deputado de Houseofcards, Frank Underwood com o nosso Eduardo Cunha. Acho que foi a analogia mais comentada por aí. Não sei se é o caso. Underwood, sem dúvida, é muito mais carismático e os arranjos que ele tem de fazer bem mais complexos. A proximidade entre a mídia e a política é bem retratada na série, a menos de alguns eventuais exageros, que no frigir dos ovos fazem parte da ficção.
Orange isthe new black é mais ousada, mais inventiva. Não se prende a convenções. Quero dizer que bobagens que fazem os telespectadores das novelas brasileiras corarem não servem nem de introdução ao assunto por lá. Gosto dessa abordagem com toques surreais. Como em Houseofcards, há várias inovações narrativas.O trio clichê sexo-poder-grana marca presença o tempo todo em ambos os casos, mas não atrapalham o roteiro.
Acho que muitos brasileiros ainda não podem abandonar a TV aberta, infelizmente. E mesmo se pudessem, acho que sintonizariam as novelas em seus respectivos horários, normalmente. Uma questão cultural. Os mesmos telejornais de sempre, herdados dos avós. De minha parte, sempre recomendo a todos um passo além. É saudável. Amanhã retomo as leituras dos cadernos políticos. Mais leve, mais crítico ainda.

Whisner Fraga - ALAMI


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