OS FLINTSTONES
Saavedra Fontes
O norte americano tem o dom de criar fantasias incríveis no
cinema e o desenho animado de Willian Hanna e Joseph Barbera é uma delas. Há
mais de cinquenta anos o casal Fred e Wilma e seus amigos Barney e Beth vêm
divertindo o público de todas as idades, com suas aventuras em Bedrock na era
da pedra. Dino, o dinossauro de estimação dá o tom cômico e doméstico na vida
do casal. Tivéssemos aqui no Brasil gênios iguais a esses para criar
personagens semelhantes já os teríamos em profusão, porque modelos é que não
faltam.
Fico imaginando Brasília nesse clima de “impeachment” nas mãos de Hanna e
Barbera e de um estúdio cinematográfico competente. Ingredientes não faltam.
Brasília seria a cidade de Bedrock. Políticos estariam correndo por entre os
corredores de pedra maciça empunhando clavas e gritando impropérios, na luta
pelo seu voto ou na defesa de sua inocência. Esse recebeu de propina milhões de
lascas em negociatas fraudulentas, porque o mundo é o mesmo, só a era é que da
pedra. Um baixinho barbudo e empinado com cara de cachaceiro, passa gritando
entre os seus correligionários: -“habba-dabba-doo!”
Do lado de fora dos prédios onde rolam soltas as discussões, dois enormes
bispotes, um de boca pra baixo e outro virado para cima. Grandes dinossauros
esticam uma faixa de incitamento, sob as ordens Stealthy (*), rodeado de
comparsas armados e ameaçadores. No momento a insatisfação com o governo de
Bedrock era muito grande e facções se digladiavam para substituir o governo.
Havia os que gritavam e os fala-macio, os fala-besteiras e exibicionistas de
todos os tipos. Difícil é encontrar bom senso entre homens pré-históricos.
No palácio um casal discutia planos políticos para salvar o governo de derrota
iminente. Arrogante, ele dava as ordens que ela, arrogante e meio, não cumpria.
Acusavam-se mutuamente. Ela, afirmava haver descoberto a fórmula ideal para
recuperar a economia de Bedrock, com a estocagem de vento, energia de baixo
custo que poderia ser vendida para outras regiões. Ele a chamava de burra e
fazia gestos ameaçadores à sua integridade física. – Onde fui amarrar minha
égua? Ele se queixava”. Por fim, não conseguindo se entenderem, ela empina o
queixo, levanta as narinas e o abandona falando sozinho. Ele ainda corre atrás
gritando:
– DILMA!
E sua voz rouca e histérica percorreu todos os monumentos do planalto central,
naturais e artificiais, despertando o tamanduá no cerrado e o veado campineiro,
que alheios às ambições dos homens preferiam a proximidade dos cupinzeiros e da
grama verde e fresca. De passagem, quatro turistas norte-americanos, Fred e
Wilma, Barney e Beth, chegaram a comentar o atraso intelectual da dupla de
baderneiros.
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