quarta-feira, 16 de julho de 2014

Crônicas de Maria Adelina



NAQUELE TEMPO (1959)


Naquele tempo infância tinha conotação diferente, de hoje em dia.
Carrinhos feitos rusticamente de caixotões no fundo do quintal,
patinete, estilingue eram brinquedos escolhidos pelos meninos.
As meninas adoravam as bonecas de pano, o fogãozinho de barro,
feito pelo avô atencioso, para brincar de casinha.
O balanço improvisado, amarrado no galho da mangueira apinhada de frutos tão doces, alvo dos estilingues dos meninos que saboreavam sob a sombra generosa, o fruto de graça, com graça...
Depois do jantar frugal, assentávamos no alpendre para apreciar 
o parco movimento da rua, observando atentamente, a volta dos trabalhadores pedalando energicamente,
suas velhas bicicletas, suspirando pelo  jantar.
Não tardava chegar os vagalumes para cintilar a noite...
Naquele tempo a graça estava na simplicidade, na espontânea paisagem, no embalo do vento indo e vindo, correndo parelha com o tempo...
Naquele tempo as manhãs ficavam interessantes no  debruçar nas janelas para apreciar os meninos entregando jornais, o verdureiro vendilhão pesando abobrinhas, mandiocas e limões,
no meio da rua.
Naquele tempo ouvíamos extasiados pelo rádio, a narração das novelas.
Aquele tempo ficou guardado, as melhores lembranças, sem páreo para substitutas lembranças...
Naquele tempo portas e janelas estava sempre aberta a espera do sol, ou de algum parente ou amigo, para trocar conversa, tomar café com pão de queijo, comer goiabada cascão com  queijo flamengo fresquinho. Naquele tempo receber, e ser recebido eram dádiva de DEUS.
Naquele tempo sentar-se  ao redor da mesa, para compartilhar pão e queijo, era ideal de vida.
Hoje o tempo veloz apressa, empurra, emperra tudo, fecha portas e janelas de medo. Naquele tempo, agregação familiar, amizades solidificadas pelas décadas, eram bênçãos preferidas pela  vida, feito raro nos dias de hoje, infelizmente. Naquele tempo.
Rendo-me aquele tempo, à aquele tempo!...  


Maria Adelina Vieira Cardoso e Gomes

Acadêmica da ALAMI

Um comentário:

  1. Cara Maria Adelina

    Belíssimo texto. Mostra o seu talento inegável para a narrativa do nosso cotidiano. É claro que muita gente tem coisas importantes para contar e transmitir para todas as pessoas que apreciam uma boa leitura, mas não é uma coisa fácil passar do pensamento para para a escrita e isso é só para quem tem talento.
    Parabéns!

    abraços
    Enio.

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