terça-feira, 15 de julho de 2014

Crônicas do Saavedra



 

O HOMEM PASSA E A HISTÓRIA FICA –
Saavedra Fontes        
                      
Nós, que alcançamos o século XXI e vivemos a parafernália de uma época globalizada, sentimos certa saudade do mundo menos conhecido do início do século passado. Havia o mistério, a magia do desconhecido, as notícias chegavam atrasadas, mas com impacto verdadeiro. Hoje não, a gente acompanha in loco e até mesmo na hora exata as coisas que estão acontecendo. Dramas e tragédias ficam banalizados pela variedade e quantidade de ocorrências a tal ponto, que ninguém mais se surpreende. . Já não há testemunha viva dos fatos ocorridos em 1900, claro que não. Ou há? Como deve ter sido a recepção dos leitores pelo livro “Os Sertões” de Euclides da Cunha, contando a saga de Antônio Conselheiro e a guerra de Canudos? Que confusão deve ter sido no Rio de Janeiro a política sanitarista de Oswaldo Cruz de combate à varíola e à febre amarela, gerando polêmica e incompreensão? E o voo de Santos Dumont com o seu 14-Bis, o que não deve ter dado o que falar? Mais ainda o alvoroço que deve ter causado Einstein com a sua Teoria da Relatividade, revolucionando as noções vigentes de tempo e espaço. E o pioneirismo e genialidade de  Henri Ford introduzindo a linha de produção industrial de seus carros ou o naufrágio do Titanic, matando mais de mil e quinhentas pessoas. Tudo isso e mais a guerra de 1914, a invenção do sutiã que substituiu o espartilho tradicional, a descoberta das ondas curtas que permitiram a radiodifusão internacional, a queda da bolsa de Nova Iorque gerando crise econômica internacional e pânico indescritível; a chegada dos antibióticos, todas essas coisas publicadas com entusiasmo e moderação para um público que começava a perceber que ainda veriam muito mais.
Era uma época de expansão extraordinária, tanto mais notável quanto menor era a nossa capacidade de imaginar o que estaria por vir. A aprovação do novo Código Eleitoral brasileiro, que instituía o voto secreto e o direito das mulheres votarem e serem votadas; os dias maravilhosos da organização da primeira Copa do Mundo de Futebol; o cinema de Mae West, a dança do Charlestown, a orquestra de Glen Miller, a Aquarela do Brasil de Ari Barroso, Pablo Picasso e as diabruras de Salvador Dali. Os horrores da Segunda Guerra Mundial com a invenção mais trágica do Homem, a bomba atômica, que arrasou as cidades japonesas de Nagasaki e Hiroshima, oferecendo à Humanidade uma síntese de sua crueldade.
O tempo é formador de notícias e estas fazem a história para a posteridade. O Homem foi à lua, inventou a minissaia e enquanto o ditador Franco morria na Espanha a ditadura era instaurada no Chile, na Argentina e no Brasil. E se dermos um salto maior chegamos a Bill Gates e Paul Allen que fundaram a Microsoft, a maior empresa de software do mundo. Nasce o primeiro bebê de proveta, cai o muro de Berlim e como pesadelo maior surge o vírus da AIDS. Isto é só o que o meu pobre cérebro pôde lembrar em algumas poucas horas de compromisso com os leitores. Poderíamos também falar da dengue, da gripe suína, das mudanças climáticas, mas trata-se de coisas mais recentes. O que pretendo mostrar é que o tempo passa rápido e com ele vamos nós, como participantes e testemunhas da História, a única coisa que sobrevive às nossas alegrias e tragédias.###




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