quinta-feira, 24 de julho de 2014

Crônicas de Saavedra




FÉ, VIDA E MORTE             
Saavedra Fontes
                                                                                   
Vida e morte são os dois maiores mistérios que a humanidade tem que enfrentar. A não ser através da fé religiosa ninguém pode explicar porque nascemos e morremos ou de onde viemos e para onde vamos. Em algum momento, inconformado com o nosso destino, que nos leva inevitavelmente ao fim da vida depois de inúmeros transtornos, alguém entre os bárbaros da gênese, com o cérebro já evoluído, teve a brilhante ideia ou falsa convicção de criar a “fé”. E deveria ser uma coisa tão fortemente aguardada pelo homem, de forma intuitiva ou trágica, que acabou no decorrer dos tempos a fazer milhares e milhares de adeptos, que a introduziram na sua época cada um à sua maneira, para benefício próprio ou coletivo. E serviu para transformar em ilusões o medo, que transcende toda expectativa de conformismo e compreensão.
Os gregos, no ocidente, foram talvez os que melhores trataram do assunto, através de metáforas e símbolos mitológicos, impondo à superstição um ideal político, depois imitado por muitos outros povos. Se Hades reinava sobre os mortos, Tânatos era a personificação da morte, e como seu irmão gêmeo Hipnos, o sono, era filho de Érebo, as trevas e Nix, a noite. Morte, noite, sono e trevas eram figuras que se aproximavam do grande mistério sem explicá-lo.
Na opinião do cético uma simples equação matemática interpretaria melhor o fenômeno, que recusamos a entender: Nada = Vida + Morte = Nada. Todavia, toda e qualquer obra do pensamento é criação humana, permitindo que os termos da citada equação possam ser mudados, sem que isso venha a alterar sua incógnita fundamental. Nossa busca pela verdade, nosso anseio intuitivo pelos valores espirituais não nos permitem aceitar a morte como um fim, mas como um meio de prosseguir uma jornada rumo à evolução. È uma percepção natural de todos os homens, do mais inculto ao mais erudito, embora este por vaidade se rebele contra a idéia de submeter-se.
Daí o valor da FÉ. Fundamentá-la no poder histórico da Bíblia não é apenas uma ousadia, mas a consumação da nossa intrigante capacidade de busca eterna, que poderá um dia nos trazer a Verdade do jeito que ela é. Por que não crer com toda a disposição de nossa alma, se o contrário é triste, diminui nossa esperança, ameaça nossa paz de espírito e nos leva ao sarcasmo e à desilusão. Quantas vezes sentimos a presença daqueles que nos anteciparam no caminho de volta, mesmo sabendo da impossibilidade de que isso aconteça? Mas é uma sensação impossível de ser negada, que só não é corriqueira porque o nosso envolvimento com o mundo material nos absorve totalmente. Ao nascer abrimos os olhos para o mundo à nossa volta, só mais alguns poucos olham para dentro de si mesmos, para se surpreenderem ao descobrir impressa em nosso espírito a chama atávica da fé imorredoura. A vida é uma passagem, deixemo-la passar, mas continuemos na procura de sua origem. E a melhor ferramenta para tal é esta minúscula palavra de peso incalculável.###


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