Campinho do Funil, em meu tempo de
criança
Esse fato se deu lá pelos idos de 1958, quando cheguei de
mudança nessa cidade. Fui morar na Avenida 13 com ruas 28 e 30, enfrente a casa
do saudoso amigo Janjão. Eu tinha apenas 11 anos de idade. Como todo garoto
nessa idade, eu também adorava futebol e toda a tarde, após me familiarizar com
a garotada da vizinhança, ia jogar bola num campinho que existia, logo abaixo
de minha casa, na 13 com 30 e 32, o Campinho do Funil, pois seu formato era de
um funil, largo em cima e ia se afunilando em baixo; onde mais tarde foi
construída a residência do meu amigo Ubiratan Martins. Ali toda tarde a
molecada se reunia para correr atrás de uma bola de borracha, e às vezes até
feita de meia de futebol. Era uma alegria, a garotada não ficava sem ir ao
Campinho do Funil bater uma bolinha. Eu me recordo o nome e apelido de alguns
garotos que brincavam naquele campinho. Bodim, Vasco (hoje médico), Carlo
Novais (engenheiro), Marco Aurélio (advogado), Cascão (piloto da TAM), Valdo
(agrônomo), Nivalcir (psicólogo), Mudinho, Oripão (Botânico), Cabaça (teatrólogo),
Bizerro (arquiteto), Gaguim e eu, Hairton (radialista e jornalista), dentre
outros.
Mudei pra cá no mês de junho, período de férias escolares,
porém com o início das aulas, meus pais me matricularam em uma escola que
funcionava no Centro Espírita Eurípedes de Barsanufo, que existe até hoje,
situado na Avenida 13 com 16 e 18, onde aprendi a ler e escrever. Fui estudar
no período matutino, porém, na parte da tarde, minha mãe arrumou serviço pra
mim na alfaiataria do Bolivar que era nosso primo. A alfaiataria dele
funcionava na esquina da Rua 22 com Avenida 11. Eu estudava cedo e trabalhava à
tarde, entregando as encomendas e buscando as calças e camisas da freguesia. Certo
dia, quando o meu primo Bolivar me mandou buscar umas calças que estavam sendo
feitas pela dona Maria Mélica moradora da Rua 32 com 3 e 3-A, no Bairro
Progresso, eu ao invés de ir buscar o que me mandara o primo, fui direto
para o Campinho do Funil, onde eu era goleiro de um dos times que naquele dia
disputava quem era o melhor da localidade. Era mês de agosto, além de ventar muito
tinha muita poeira. Todos os times queriam ser o melhor da rua, ninguém queria
perder. No jogo contra o meu time, Vaselina Esporte Clube, quando o adversário
(Arranca Toco F. Clube) chutava a bola no meu gol, eu pulava como um gato e defendia a bola, me esparramando todo na poeira. Nesse ínterim, o Bolivar que
tinha que entregar as calças para o freguês que havia encomendado, saiu atrás
de mim para ver o que tinha sucedido comigo que não chegava com as danadas das
calças. Dei tanto azar, o Bolívar ao se dirigir a casa da dona Maria Mélica,
onde eu devia estar, passou antes em sua residência que ficava na esquina, da
13 com a 30, para deixar uma encomenda.
De sua casa dava pra ver todo o campinho; a primeira pessoa que ele viu foi eu
dando um daqueles mergulhos na bola, rolando pelo chão. Ele saiu calado,
buscou as costuras e entregou para o freguês que estava esperando. Em seguida
foi até a minha casa e narrou para minha mãe Laura, o que estava acontecendo.
Muito aborrecida com o fato, ela mais que depressa se dirigiu ao campinho, onde
me encontrou todo sujo de terra. Fiquei pálido quando a vi chegar. Ela me
perguntou se eu não tinha que buscar algo para o primo Bolivar. Eu muito
desapontado disse já ia buscar, mas ela me impediu dizendo, que ele já havia
feito isso, e me mandou depressa ir pra casa, me chamando de moleque
irresponsável. Cheguei rápido. Em seguida ela chegou e me passou um senhor
sermão, e me obrigou a pedir desculpas ao primo, em seguida disse-me que
ficaria de castigo o resto do mês, sem falar na coça que levei. Mas o Campinho
do Funil ficou gravado como uma indelével recordação do tempo de criança. É bom
lembrar que nesse mesmo dia que fui surpreendido pela minha mãe querida, eu
havia destroncado o dedo minguinho com uma bolada, que em razão disso, até hoje
esta torto...
Hairton Dias
imprensahd@hotmail.com