sábado, 22 de março de 2014

A graça está na diferença - Arth Silva



A graça está na diferença
- Arth Silva -

O nosso maior erro é querer achar ALGUÉM PERFEITO. Alguém cujos gostos musicais, políticos, cinematográficos, sociais, futebolísticos, gastronômicos e filosóficos sejam idênticos aos nossos e por isso acreditamos que essa pessoa é a nossa “Alma gêmea”.

Quer alguém idêntico a você? Dê um beijo de língua no espelho.

Ao querer buscar uma personalidade igual a nossa no outro, deixamos de aprender com a diferença.
É a diferença que trás o novo; é diante do desconhecido e como lidamos com ele que surge nosso amadurecimento. 

O ideal é uma relação perfeitamente complementar. Em que você sobre onde nela falte, e ela supra todas as suas falhas, e, mesmo assim, os dois ainda tenham defeitos.

Sei que isso não é fácil, saber reconhecer a diferença de alguém e, o mais importante, aceitá-la, é ser um artista cotidiano. 

Antes de conseguir aceitar o próximo, é preciso aceitar a si mesmo. Uma pessoa que não aceita com facilidade diferentes opiniões ou estilos, é uma pessoa que ainda não se aceitou. É uma pessoa que teme mudar os próprios gostos se ficar próximo a alguém que tem atividades distintas das suas.  Em um relacionamento, quem tem certeza de si não declara ódio ou briga tentando provar o porquê sua própria ideologia, seja ela qual for, é superior às outras; apenas aceita a diferença ou é indiferente a ela, ou ainda, simplesmente se afasta discretamente. 

“Ah, mas meu namorado odeia filme romântico e eu adoro”. Ué, e os pontos bons que vocês têm em comum? Eles não deveriam contar mais do que um mero detalhe desses? Afinal, acho que uma relação não deveria se orientar apenas por gêneros de filmes, músicas e toda aquela lista que citei lá em cima.

Nessas horas devemos colocar tudo em uma balança e constatar se os pontos negativos são maiores que os positivos.  Muitas vezes vale a pena abrir mão de uma ideologia nossa pra ganharmos algo bem mais valioso.

“Ah, Arth, mas a diferença é grande, não iremos durar muito tempo”. Ai está outro erro grande: ter a utopia de que o amor é eterno e tem que durar pra sempre como nos contos de fadas. Acorda garota, você não é uma princesa Disney. E garotão, fica de boa, quando te beijarem você irá continuar sapo. Aquele papo de “E viveram felizes para sempre” é tão verdadeiro quanto as histórias que tem esses finais. 

Amores não tem data marcada. Já tive relações triviais que sobreviveram por anos e amores perpétuos que duraram a eternidade de alguns dias ou meses.

Mas pra saber aceitar o defeito alheio, pra saber sorrir diante dos heterogêneos é necessária certa experiência de erros e acertos que derrubem essas teorias utópicas do amor imortal e das pessoas “iguais” a nós.

Muitos dizem: “Nossa! Vocês eram um casal tão lindo, porque deu errado?”
Eu respondo: Não deu nada errado, deu tudo certo, foi perfeito, completo pelo tempo que durou. É claro que houve problemas, problemas sempre existiram e sempre existirão em todo relacionamento; Mas como lidamos com eles e aprendemos a fazer com que não se repitam, isso vale muito pra sua vida. Hoje sou um vitorioso por ter passado tanto tempo do lado de pessoas tão maravilhosas e com quem aprendi tanto.

Já notou o quanto amadurecemos com o passar do tempo? É isso! É a forma como lidamos com as diferenças, com os problemas do dia a dia que nos amadurece, nos caleja pra podermos enfrentar a vida. 

Só o coração calejado é capaz de amar.

Comece aos poucos, vá aprendendo e aceitando devagar os defeitos alheios, afinal você também é cheio de defeitos e muitos terão que aceitá-los.


Arth Silva é escritor, desenhista, designer e redator publicitário, especialista em perder canetas azuis.
Autor do livro "Contos à Queima Roupa" e da coletânea de memórias dos idosos de Ituiutaba "Gavetas da memória".
Seus trabalhos literários podem ser lidos na página "Sonhando a Deriva".
fsarthur@yahoo.com.br

3 comentários:

  1. Arth... muito bem!

    você parece que conhece a alma humana
    que sabe de sentimentos...

    abços
    enio

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  2. Obrigado Enio!!

    Ainda acho que eu falo apenas o obvio, porém fico contente quando pessoas concordam ou respeitam o que eu escrevi!!
    Valeu mesmo!!

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  3. Nunca quis,nem quero alguém semelhante a mim,seria mesmice.
    Mas também nunca quis ,nem quero um mico leão dourado cheio de gracinhas sem graça,nem um tigre que pode machucar-me.
    Mas sintetizando:"Semelhante atrai semelhante." isso é lei.

    Maria Adelina

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