Amor à camisa
Enio Ferreira – ALAMI
*Dedico
essa ao Arinos Luiz Carvalho (grande amigo!)
No meu tempo de jogador de futebol quem
não tinha cacife para jogar na Associação Ituiutabana ou no Ituiutaba Esporte
acabava indo para os times da periferia. Juntava-se uma turma de jovens
fominhas por bola limpava algum espaço de terreno desocupado, arrumava paus
para montar os gols, alguém sugeria um nome e pronto, aí já estava montado um
time. O meu era o Três Coqueiros Futebol Clube.
Nesse esquema os jogadores, além de
jogar, colaboravam com algo a mais. O Dudu, mais riquinho, doou a bola, o
Pancho com os irmãos doaram o jogo de camisas; eu era o secretário, fazia as
fichas.
Fazer as fichas era fácil, eu sabia o
nome de todos ali e, se não sabia escrevia o apelido mesmo. Não sei se isso é
coisa só de periferia, (onde sempre morei) mas o que não faltava era nome
difícil de falar ou de escrever, muito K, Y, W, que no fim acabava mesmo em
apelido: Kaká, Zoínho, Rebite, Galego, Trombinha, Carlim Neném, Bezerro, Tão,
Neneco, Pelé não, esse não tinha.
Um dia treinou com a gente dois
rapazinhos que chegaram da fazenda e o Jovino (ele era quem organizava as
coisas no time) os mandou falarem comigo e fazerem a ficha. Todos quiseram saber
o motivo deles mudarem para cidade numa época em que rapazes sonhavam com a
vida rural, essas coisas de nadar em rio, andar a cavalo, muita fruta, leite no
curral... (na enxada e no sol quente ninguém pensava). Disseram que vinham por
ser aqui uma cidade de ponto facultativo: Eu não devia, mas perguntei – ponto
facultativo? “É, meu pai falou que tá vindo muita faculdade pra
cá!”.
O primeiro rapaz se chamava Welklysson
e na hora de escrever na ficha avisei pra ele:
- Acho que vai ser difícil pra turma
grudar esse nome na memória, vai lhe pintar um baita apelido! - Apelido eu não
gosto! - ele me disse.
- Então é melhor você colocar uma
plaqueta com seu nome no peito! – lhe disse.
Contando ninguém acredita, mas não é que
o Welklysson no dia seguinte chegou ao treino com uma plaqueta no lado esquerdo
do peito em que o nome dele estava bem visível? (e a mãe dele devia ser boa no
artesanato, pois a plaqueta estava bem feitinha)
Mas ali, no meio daquela turma e ainda
com um nome complicado era difícil escapar do apelido: No domingo de manhã,
antes do jogo, nosso técnico ao distribuir as camisas gritou: - Plaqueta! Você
joga com a 8!
Daquela turma muitos eu não vi mais. O
Plaqueta sei que foi estudar fora. Muitos hoje são doutores, empresários,
fazendeiros e até políticos. Certa vez viajando de carro pelo sudoeste mineiro ouvi
pelo rádio, no horário político: - “Para vereador vote em Plaqueta!” Lembrei-me
do Welklysson.
(Num tempo em que se jogava por amor à
camisa, o “Três Coqueiros” não fez feio, chegando, inclusive, num torneio,
receber a Taça de Campeão. Já contei essa?)
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