Eu Não Sou Mágico, Sou Mago.
Dia desses eu estava passando pelo
detector de metais do aeroporto de Goiânia e a funcionária curiosa com minha
indumentária e cartola perguntou-me: - Você é um mágico? Respondi a ela sem
pestanejar: - Eu sou um mago! Ela olhou-me como quem não tinha entendido nada e
eu continue minha caminhada pegando mochila e cinto.
A concepção de magia é algo muito
controverso no contexto de nossa cultura completamente infestada por duas
polaridades de visão de mundo, uma totalmente materialista e cética, e a outra
monoteísta e preconceituosa. Nesse contexto um mago é visto como um idiota
ligado à ideia de “nova era”, um pseudo guru de autoajuda, ou um feiticeiro
malévolo com pactos obtusos com o demônio e realizador de rituais obscuros e
obscenos. Por outro lado, na era da hiperinformação em que vivemos a internet
está infestada de informações controversas e milhares de visões, proposições, e
conceitos do que seria ocultismo e magia, quase tudo mergulhado em um ar
obscurantista e recheado de um hermetismo que no final das contas mantém uma
aura de universo misterioso e proibido para a prática mágica. A consequência
direta disso é um sem número de espertalhões verborrágicos coordenando fóruns,
comunidades e páginas em redes sociais dizendo-se iniciados poderosos.
Infelizmente toda a cultura
ocidental está infestada pela praga da verborragia, as pessoas falam demais,
existem eruditos e conhecedores profundos de todos os assuntos, em todas as
áreas. Mas em sua esmagadora maioria esses eruditos são intelectualoides
frouxos e ineptos que nunca experienciaram nada. Portam-se como enciclopédias
ambulantes de assuntos e temas que nunca vivenciaram e subsistem de espalhar
essa verborragia inócua e enfastiante por aí. No âmbito do ocultismo e da magia
acontece a mesma coisa, temos inúmeros eruditos da magia, escrevendo tratados,
criando sites, azucrinando-nos em seus blogs e páginas de internet com um
pseudo conhecimento mágico que não lhes serve de absolutamente nada, a não ser
pelo fato de se sentirem respeitados por alguns idiotas pueris que admiram tal
conhecimento.
A única magia que me interessa é a
prática, aquela que eu posso utilizar e experienciar a transformação de minha
realidade. Todo o resto é lixo retórico desnecessário, a vida é breve e não
tenho tempo a perder com eruditismos inócuos. Não que eu desconheça a tradição
ocultista ocidental, já li demais, mas joguei praticamente tudo no lixo,
mantendo só aquilo que me serve, as práticas que incorporo em minha produção
artística, pois cada obra minha é uma ação ritualística de transmutação, uma
ação mágica. E em essência a magia não é nada mais, nada menos do que isso, a
capacidade de manipular símbolos e criar narrativas que podem transformar nossa
realidade ordinária. Revelo a vocês os 3 maiores segredos da efetividade
mágica, tão simples quanto profundos: O primeiro segredo para uma ação mágica
efetiva é a total pureza de intenções, e isso envolve respeito e amor
incondicional por todas as formas de vida e jamais conjurar o mal e a dor para
qualquer outro ser; o segundo segredo é a aceitação completa do que se é – ou o
completo autoperdão; finalmente um mago deve ter a capacidade de estar
completamente focado no agora, no momento presente, mesmo quando desejar
instaurar uma imagem em sua mente inconsciente que transmutará seu futuro.
Tenho praticado minha magia há cerca
de 25 anos, e sua efetividade é tanta que digo a vocês que tudo que sou hoje
devo à minha capacidade de realizar meus rituais mágicos de
autotransformação! Deixo aqui a minha
gratidão eterna ao Cosmos pelas chaves que encontrei e pelas que sei ainda
encontrarei, também o meu respeito a todas as formas genuínas de
transcendência, baseadas no amplo e irrestrito amor universal incondicional.
Edgar Franco é Ciberpajé, artista
transmídia, pós-doutor em artes pela UnB, doutor em artes pela USP,
mestre em multimeios pela Unicamp e professor do Programa de Doutorado
em Arte e Cultura Visual da UFG. Acadêmico da ALAMI, possui obras
premiadas nacionalmente nas áreas de arte e tecnologia e histórias em
quadrinhos. ciberpaje@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário