sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Crônicas de Saavedra




HONESTIDADE                                                                              
Saavedra Fontes






É triste a constatação, perdemos a confiança em nossos semelhantes e a crise geral é de honestidade. Para sermos mais explícitos, já não existem mais ingênuos simples e otários, no mundo de hoje. Mesmo sem talento todos querem passar por espertos, como se o termo amenizasse a pecha de “desonesto”, que é a palavra correta.
O honesto nos dias atuais é visto como um visionário, sonhador, idealista sem futuro, nefelibata sem racionalidade e valor, visto com maus olhos pelos próximos e distantes que os têm como tolos, covardes ou falsos, na melhor das hipóteses. A maioria dos políticos é corrupta, não goza de bons conceitos, mas consegue sistematicamente se reeleger, uma aberração aceita pelos eleitores. Os meios de comunicação estão sempre nos revelando novos escândalos, que parecem se multiplicarem cada vez mais. Cristo foi transformado num produto de mercado tão atraente, que religiões se enfrentam na mídia como empresas de forte concorrência. E a nossa fé se definha, martirizada e surpresa.
Se para fugirmos ao estresse de uma vida cheia de trabalho e preocupações, escaparmos do tédio, torcermos por um clube de futebol depositando nele toda a nossa emoção, ficamos sujeitos  às decepções. Os acordos, arranjos e desarranjos escusos dos chamados cartolas, que vêm nesse esporte mais do que uma simples diversão do povo, são uma indústria de interesses particulares ambiciosos e pouco elogiáveis.
As chamadas loterias que infestam o país, nada mais são que estereótipos dos jogos de azar, oficializados pelo governo que os aceita de forma legalizada e os proíbe nos meios privados. Mesmo com sorteios ao ar livre e na presença de público numeroso são cercadas de dúvidas e descrenças, tudo porque a honestidade não é levada a sério e o espírito de corpo é ponto de honra entre a maioria dos parlamentares.
Por isso vinga entre nós a ideia de que o mundo é dos velhacos, as pessoas corretas não passam de tolas e sem ambição. Toda essa inversão de valores sempre existiu como parte de nossa herança cultural, e foi sedimentando-se com o progresso dos meios de comunicação, que provocam o sensacionalismo para angariar audiência sem o devido cuidado com a influência das palavras e das imagens. O rádio e principalmente a televisão, invadiram todos os lares, do mais humilde casebre a mais luxuosa mansão, levando o deboche, a hipocrisia, a luxuria, os maus exemplos, a falsa realidade que foi aceita como forma moderna e correta de viver.
A violência, a pornografia, a falta de escrúpulos de uma programação voltada para o baixo consumismo, iludindo jovens incautos e sem estrutura educacional, vão se associando à miséria do corpo e do espírito para transformar o Homem no lixo social. Por isso a violência generalizada e a ausência de leis severas que a contenha.





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