Saavedra Fontes
É triste a constatação, perdemos
a confiança em nossos semelhantes e a crise geral é de honestidade. Para sermos
mais explícitos, já não existem mais ingênuos simples e otários, no mundo de
hoje. Mesmo sem talento todos querem passar por espertos, como se o termo
amenizasse a pecha de “desonesto”, que é a palavra correta.
O honesto nos dias atuais é visto
como um visionário, sonhador, idealista sem futuro, nefelibata sem
racionalidade e valor, visto com maus olhos pelos próximos e distantes que os
têm como tolos, covardes ou falsos, na melhor das hipóteses. A maioria dos
políticos é corrupta, não goza de bons conceitos, mas consegue sistematicamente
se reeleger, uma aberração aceita pelos eleitores. Os meios de comunicação
estão sempre nos revelando novos escândalos, que parecem se multiplicarem cada
vez mais. Cristo foi transformado num produto de mercado tão atraente, que
religiões se enfrentam na mídia como empresas de forte concorrência. E a nossa
fé se definha, martirizada e surpresa.
Se para fugirmos ao estresse de
uma vida cheia de trabalho e preocupações, escaparmos do tédio, torcermos por
um clube de futebol depositando nele toda a nossa emoção, ficamos sujeitos às decepções. Os acordos, arranjos e
desarranjos escusos dos chamados cartolas, que vêm nesse esporte mais do que
uma simples diversão do povo, são uma indústria de interesses particulares
ambiciosos e pouco elogiáveis.
As chamadas loterias que infestam
o país, nada mais são que estereótipos dos jogos de azar, oficializados pelo
governo que os aceita de forma legalizada e os proíbe nos meios privados. Mesmo
com sorteios ao ar livre e na presença de público numeroso são cercadas de
dúvidas e descrenças, tudo porque a honestidade não é levada a sério e o
espírito de corpo é ponto de honra entre a maioria dos parlamentares.
Por isso vinga entre nós a ideia
de que o mundo é dos velhacos, as pessoas corretas não passam de tolas e sem
ambição. Toda essa inversão de valores sempre existiu como parte de nossa
herança cultural, e foi sedimentando-se com o progresso dos meios de
comunicação, que provocam o sensacionalismo para angariar audiência sem o
devido cuidado com a influência das palavras e das imagens. O rádio e
principalmente a televisão, invadiram todos os lares, do mais humilde casebre a
mais luxuosa mansão, levando o deboche, a hipocrisia, a luxuria, os maus
exemplos, a falsa realidade que foi aceita como forma moderna e correta de
viver.
A violência, a pornografia, a
falta de escrúpulos de uma programação voltada para o baixo consumismo,
iludindo jovens incautos e sem estrutura educacional, vão se associando à
miséria do corpo e do espírito para transformar o Homem no lixo social. Por
isso a violência generalizada e a ausência de leis severas que a contenha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário