sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A BOLA FUROU!

 









A BOLA FUROU!

Enio Ferreira - ALAMI
                     
Com os craques: Sarará, Loíso, Vilson Cascão, Chupinha, Galdino, Pancho, Neocir, Zé Abadio, Índio, Francês, entre outros, fundamos o Bandeirante Futebol Clube, usando um grande lote de terreno ali na Rua 22 com a Avenida 27 e 29.  
O nome foi uma homenagem à empresa “Móveis Bandeirantes”, que nos doou um novo jogo de camisas. A bola, agora bem surrada, era a mesma que o Dudu nos deu nos tempos do antigo time. Essa bola era a que tinha e ninguém reclamava.

Estreamos as novas camisas num belo domingo de manhã contra um time do Bairro Progresso. O jogo seguia bem e tinha tudo para ser uma bonita festa domingueira não fosse o vexame do furo da bola. Foi isso mesmo! A bola furou! 20 minutos de jogo e a bola furou. O time visitante esperando para continuar com o jogo e a nossa vergonha era grande.
Domingo de manhã comprar uma bola nova onde? Também ninguém tinha dinheiro ali naquela hora. O jeito foi seguir uma sugestão de um torcedor que via a nossa aflição.

“Ali na esquina mora o Antonio Almeida e ele treina um time de futebol e tem várias bolas guardadas, talvez ele empreste uma!”

“O sujeito é tenso pra caramba duvido que ele empreste uma bola para vocês!” - comentou outro torcedor -.

O Pancho (companheiro que resolvia tudo) disse que tinha coragem para ir lá ao vizinho e pedir uma bola emprestada. Fui com ele pra dar força.  

“E se o cara me destratar lá na porta da casa dele? – ia dizendo o Pancho –”

“Aí voltamos numa boa. Pelo menos tentamos, não é? – eu disse para animar.

“Se esse Antonio Almeida é um cara tenso ele vai me destratar na porta da casa dele. Vai dizer que se a gente quiser mesmo jogar futebol a primeira coisa a pensar é na própria bola. Vamos dar outro jeito e esquecer esse cara...”
                   
E eu insistia: “Calma... Pancho! Vamos com fé! O pessoal está esperando para continuar o jogo e o único jeito é pedir essa bola emprestada!”
 
E o Pancho ia prejulgando: “Esse cara é tenso e vai me destratar, vai me destratar, vai destratar...”

Chegamos à casa, bati palmas, o senhor Antonio Almeida abriu a porta e, sem mais nem menos, o atormentado Pancho apontou o dedo na cara do homem e disse exasperado: “O Senhor enfie essas suas bolas lá fundo da última gaveta!” - deu meia volta e voltou pisando duro -.

O homem ficou lá na porta, com cara de espanto, sem entender nada. Então pedi desculpas e expliquei sobre a nossa emergência. E não é que o cara era fino, educado e prestativo? Entendeu o nosso caso, emprestou duas bolas e ainda foi pro campo torcer por nós.        
    


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