terça-feira, 20 de maio de 2014

Crônicas de Hairton Dias

 Lurdinha – 
A varredeira da cidade
Hairton Dias

Por muito e muitos anos, o povo desta cidade teve a oportunidade de assistir a uma cena que a todos comovia e que se repetia dezenas de vezes: Lurdinha, de vassoura em punho, ora na Rua 20, na 22, na 15 ou na Av. 17. Na Praça da Prefeitura, não importa onde, sempre ali ela estava, quem sabe, varrendo o que as pessoas passam e jogam, sujando a rua, enfeando as calçadas, sujando a cidade, porém, Lurdinha ali estava limpando a vereda que por certo, um dia lhe serviria de estrada, para ir ao encontro de Deus, na sua outra morada. “Lurdinha”, assim era conhecida e por todos era chamada. Pessoa simples, de família muito humilde, porém de uma generosidade tamanha, com sua vassoura de coqueiro, cedo ou de madrugada, lá ia a Lurdinha mais uma vez cumprir sua jornada, sem nada pedir em troca, naquela tarefa danada. 

Varria, varria, de cabeça sempre agachada, se alguém chamava seu nome, ela não respondia nada, porém continuava sua sina, que era sua alegria, chegar ao final da rua com mais uma tarefa cumprida. Voltar à noitinha para casa era o que ela mais queria, e rezar para sua santinha, a nossa mãe Virgem Maria, para que cuidasse dela e não há deixasse ao relento, para que tivesse força nos braços e também no pensamento, que Jesus se lembrasse dela, nem que fosse por um momento. - (Foi o que aconteceu na quinta-feira Santa, 20 de março de 2008), Jesus veio buscar aquela que na terra soube os seus males limpar e a todos perdoar. 

Acometida por uma pneumonia e com essa explicação, teve uma parada cardíaca que venceu o seu coração, partindo desse mundo de dor, sofrimento e ilusão, mas foi ao encontro de Deus receber seu galardão. Lurdinha nasceu em Ituiutaba em 1924, tinha mais três irmãos, inclusive um deles vive nesta cidade, Mário, conhecido por Tigrilo; possui ainda sobrinhos e primos. No dia 24 de março de 2008, completaria 84 anos. Ela viveu seus últimos dias no Lar do Idoso “Pe. Lino José Correr”, onde era muito bem tratada.  


Agora, a nossa Lurdinha, com sua vassoura de “Luz” irá varrer as avenidas do céu, ao lado dos anjos e do nosso mestre Jesus. – Aquela que em vida por ninguém foi esquecida, pelas pessoas, pelas autoridades, foi uma exemplar trabalhadora, pois durante muitos anos, às ruas dessa cidade varreu, sem receber um salário se quer, sem mover qualquer ação trabalhista contra ninguém, sem reclamar de nada, ao contrário, nasceu, viveu e morreu na simplicidade, como simples são as grandes almas, assim como era a de Lurdinha.

Hairton Dias
imprensahd@gmail.com 

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