A varredeira da cidade
Hairton Dias
Por muito e muitos anos, o povo desta
cidade teve a oportunidade de assistir a uma cena que a todos comovia e que se
repetia dezenas de vezes: Lurdinha, de vassoura em punho, ora na Rua 20, na 22,
na 15 ou na Av. 17. Na Praça da Prefeitura, não importa onde, sempre ali ela
estava, quem sabe, varrendo o que as pessoas passam e jogam, sujando a rua,
enfeando as calçadas, sujando a cidade, porém, Lurdinha ali estava limpando a
vereda que por certo, um dia lhe serviria de estrada, para ir ao encontro de
Deus, na sua outra morada. “Lurdinha”, assim era conhecida e por todos era
chamada. Pessoa simples, de família muito humilde, porém de uma generosidade
tamanha, com sua vassoura de coqueiro, cedo ou de madrugada, lá ia a Lurdinha
mais uma vez cumprir sua jornada, sem nada pedir em troca, naquela tarefa
danada.
Varria, varria, de cabeça sempre agachada, se alguém chamava seu nome,
ela não respondia nada, porém continuava sua sina, que era sua alegria, chegar
ao final da rua com mais uma tarefa cumprida. Voltar à noitinha para casa era o
que ela mais queria, e rezar para sua santinha, a nossa mãe Virgem Maria, para
que cuidasse dela e não há deixasse ao relento, para que tivesse força nos
braços e também no pensamento, que Jesus se lembrasse dela, nem que fosse por
um momento. - (Foi o que aconteceu na quinta-feira Santa, 20 de março de 2008),
Jesus veio buscar aquela que na terra soube os seus males limpar e a todos
perdoar.
Acometida por uma pneumonia e com essa explicação, teve uma parada
cardíaca que venceu o seu coração, partindo desse mundo de dor, sofrimento e
ilusão, mas foi ao encontro de Deus receber seu galardão. Lurdinha nasceu em
Ituiutaba em 1924, tinha mais três irmãos, inclusive um deles vive nesta
cidade, Mário, conhecido por Tigrilo; possui ainda sobrinhos e primos. No dia
24 de março de 2008, completaria 84 anos. Ela viveu seus últimos dias no Lar do
Idoso “Pe. Lino
José Correr”, onde era muito bem tratada.
Agora, a nossa Lurdinha, com sua
vassoura de “Luz” irá varrer as avenidas do céu, ao lado dos anjos e do nosso
mestre Jesus. – Aquela que em vida por ninguém foi esquecida, pelas pessoas,
pelas autoridades, foi uma exemplar trabalhadora, pois durante muitos anos, às
ruas dessa cidade varreu, sem receber um salário se quer, sem mover qualquer
ação trabalhista contra ninguém, sem reclamar de nada, ao contrário, nasceu,
viveu e morreu na simplicidade, como simples são as grandes almas, assim como
era a de Lurdinha.
Hairton Dias
imprensahd@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário