A BOLA
FUROU!
Enio
Ferreira - ALAMI
Com os
craques: Sarará, Loíso, Vilson Cascão, Chupinha, Galdino, Pancho, Neocir, Zé
Abadio, Índio, Francês, entre outros, fundamos o Bandeirante Futebol Clube,
usando um grande lote de terreno ali na Rua 22 com a Avenida 27 e 29.
O nome
foi uma homenagem à empresa “Móveis Bandeirantes”, que nos doou um novo jogo de
camisas. A bola, agora bem surrada, era a mesma que o Dudu nos deu nos tempos
do antigo time. Essa bola era a que tinha e ninguém reclamava.
Estreamos
as novas camisas num belo domingo de manhã contra um time do Bairro Progresso.
O jogo seguia bem e tinha tudo para ser uma bonita festa domingueira não fosse
o vexame do furo da bola. Foi isso mesmo! A bola furou! 20 minutos de jogo e a
bola furou. O time visitante esperando para continuar com o jogo e a nossa
vergonha era grande.
Domingo de
manhã comprar uma bola nova onde? Também ninguém tinha dinheiro ali naquela
hora. O jeito foi seguir uma sugestão de um torcedor que via a nossa aflição.
“Ali na
esquina mora o Antonio Almeida e ele treina um time de futebol e tem várias
bolas guardadas, talvez ele empreste uma!”
“O
sujeito é tenso pra caramba duvido que ele empreste uma bola para vocês!” -
comentou outro torcedor -.
O Pancho
(companheiro que resolvia tudo) disse que tinha coragem para ir lá ao vizinho e
pedir uma bola emprestada. Fui com ele pra dar força.
“E se o
cara me destratar lá na porta da casa dele? – ia dizendo o Pancho –”
“Aí
voltamos numa boa. Pelo menos tentamos, não é? – eu disse para animar.
“Se esse
Antonio Almeida é um cara tenso ele vai me destratar na porta da casa dele. Vai
dizer que se a gente quiser mesmo jogar futebol a primeira coisa a pensar é na
própria bola. Vamos dar outro jeito e esquecer esse cara...”
E eu
insistia: “Calma... Pancho! Vamos com fé! O pessoal está esperando para
continuar o jogo e o único jeito é pedir essa bola emprestada!”
E o
Pancho ia prejulgando: “Esse cara é tenso e vai me destratar, vai me destratar,
vai destratar...”
Chegamos
à casa, bati palmas, o senhor Antonio Almeida abriu a porta e, sem mais nem
menos, o atormentado Pancho apontou o dedo na cara do homem e disse exasperado:
“O Senhor enfie essas suas bolas lá fundo da última gaveta!” - deu meia volta e
voltou pisando duro -.
O homem
ficou lá na porta, com cara de espanto, sem entender nada. Então pedi desculpas
e expliquei sobre a nossa emergência. E não é que o cara era fino, educado e
prestativo? Entendeu o nosso caso, emprestou duas bolas e ainda foi pro campo
torcer por nós.