Enio Ferreira
* Dedico essa à Adelaide Pajuaba Nehme (importante cronista - acadêmica da ALAMI)
Na
viagem para as ÍNDIAS na qual Pedro Álvares Cabral, no ano de 1.500, acabou foi
descobrindo o Brasil, uma das suas treze caravelas recolheu uma senhora que
estava num pequeno barco à deriva em alto mar. Ela estava há muitos dias sem se
alimentar, com insolação, bem fraquinha, quase morrendo. Os marinheiros
cuidaram bem dela e já estava quase recuperada quando chegaram a terra firme. Na
alegria e na confusão da chegada ninguém se lembrou daquela senhora.
A
senhora desceu com dificuldades da caravela, se misturou aos índios, foi bem
aceita por eles e, recuperada, construiu uma casinha e ficou morando nessa
terra que se chamaria Brasil.
Ela,
muito esperta, ia se virando para viver, e de um abacateiro que havia na frente
da sua casinha colhia as frutas para se alimentar e trocar por outras coisas de
sua necessidade. Vivia sossegada esperando a vida melhorar, mas só uma coisa a
deixava nervosa: os indiozinhos subiam no abacateiro e lhe comiam os abacates. As
frutas serviam para serem negociadas, não gostava de ser roubada.
Uma
noite bateu-lhe à porta um velho índio em busca de socorro; fora picado por uma
cobra e estava mal. Pediu que ela corresse até um local determinado e colhesse
duas folhas de certa planta e fizesse um chá para cortar o efeito do veneno. A
senhora obedeceu e fez tudo o mais rápido possível para assim salvar o velho
índio. Ele acordou no dia seguinte curado. Despedindo-se, disse que era o Feiticeiro
da sua tribo e que ela lhe pedisse o que quisesse.
Só
peço que a pessoa que subir no meu abacateiro não possa descer sem a minha
ordem – respondeu a senhora.
-
Se esse é o seu desejo, assim será! – respondeu o índio-feiticeiro.
Na
manhã seguinte encontrou cinco indiozinhos em cima do abacateiro.
-
Oh! Senhora perdoe-nos! Salve-nos, nos deixando descer!
Ah! Pois vocês diziam que não eram ladrões dos
meus abacates! Por esta vez, vá! Se subirem aí de novo hão de ficar para
sempre! Os indiozinhos desceram e nunca mais voltaram ao abacateiro.
Um
dia de manhã entrou em sua casa uma mulher bem feia, nariguda, com uma foice na
mão, dizendo: - Sou a Morte e estou aqui para buscar-te!
Já?
Estou ainda muito nova e com saúde. Dá-me pelo menos mais um ano! – disse a
senhora.
Não
pode ser – respondeu a Morte.
Faça-me
ao menos um favor: suba no meu abacateiro e colha-me um abacate. Quero comê-lo
visto ser o último! – implorou a senhora.
A
Morte subiu no abacateiro e colheu a fruta, mas não pode descer, pôs-se a
chamar a senhora. Esta respondeu: “Não tenha pressa, aí ficarás para todos os
séculos. És má e tens feito a tristeza da humanidade...”
E
a Morte ficou em cima do abacateiro.
A
Morte, presa no alto do abacateiro, para conseguir a permissão para descer,
teve que fazer um trato com a senhora: Poupar-lhe a vida enquanto ela morasse
no Brasil, caso ela saia das terras brasileiras o trato poderá ser desfeito.
O
nome dessa senhora proprietária do abacateiro é Dona Corrupção e quanto mais o
tempo passa mais viçosa ela fica.
Por
isso enquanto não for colocada num barco à deriva no meio do mar, como fizeram com
ela antigamente algum país decente, Dona Corrupção viverá cada dia mais
saudável no nosso Brasil.
(Texto adaptado de Tia Miséria - antigo conto
português)
Nenhum comentário:
Postar um comentário