Eugenio Franco
Acadêmico da ALAMI - cadeira 99
Ele havia chegado do interior e
sentiu-se perdido, no mundo selvagem da cidade grande; os sons lhe doíam os
ouvidos, tantos prédios lhe bloqueavam a visão.
Ele se
sentia solitário em meio a tanta gente; gente que andava sem rumo, gente que
não tinha tempo para viver.
Quando saía, perdia-se na
confusão de tantas ruas e de tantos carros que zumbiam, urravam e buzinavam.
Seus pulmões clamavam por
ar, sua visão se turvava e sua voz não se fazia ouvir.
O sol
parecia embaçado e à noite a lua era sem brilho no meio de tantas luzes. E
quase não havia estrelas.
Dentro
de seu apartamento sentia-se enjaulado, inquieto e infeliz.
E ele sonhava poder
voltar, sonhava com sua casa ampla e
arejada, onde nos finais de tarde podia deitar-se na rede à varanda e observar
o por do sol.
Assim,
pensativo sentado em sua poltrona, próximo à sacada do terceiro andar, olhava
para lugar nenhum, quando percebeu que havia um galho de árvore balançando,
levado por uma brisa leve.
Observou mais um pouco e viu
pousar um alegre casal de pássaros; havia um ninho e provavelmente alguns ovos.
O
homem ficou absorto e perdeu a noção do tempo. Já havia escurecido quando
levantou os olhos; por trás de uma fila de imensos prédios de janelas
cintilantes, ele percebeu que a lua brilhava na cidade grande. E sorriu.
POR TRÁS DAQUELA SERRA.
Eugenio Franco
Acadêmico da ALAMI - cadeira 99
Céu claro. Faz muito calor.
Viajamos
com os vidros abertos, o vento também está quente. Talvez eu devesse colocar um
ar condicionado.
Meus óculos escuros, desses
que se encontram em qualquer banca de camelô, amenizam a intensa claridade.
Minha
mulher me oferece água. Tiro o pé do acelerador, solto a mão direita do volante
e pego o copo. A água está fria e eu sorvo devagar, apreciando cada gole, sem
deixar de olhar para a estrada. Sinto que estou me refrescando por dentro.
Devolvo o copo e peço mais.
A garrafa está quase vazia e recebo uma cota menor: dessa vez bebo depressa,
pois um caminhão se aproxima de nós.
A
paisagem é nostálgica. Estamos descendo e à frente, podemos ver algumas árvores
e uma ponte. Mais adiante estão as montanhas que crescem à medida que nos
aproximamos.
Algumas dezenas, talvez centenas de bois
brancos pastam calmamente à nossa direita; o pasto está verde. Cada um de nós
observa tudo.
Por
alguns décimos de segundo desvio o olhar da estrada, para o céu, onde algumas
nuvens brancas, umas gordas e outras magras se formam e se deformam nas mais
variadas figuras. Volto os olhos para
frente.
No banco traseiro as
crianças também observam o céu e um dos irmãos descreve o que vê. Absorto em meu silêncio interior, vagamente ouço o
que o menino diz: cachorro! Elefante! Avião! Cavaleiro! Aquele é Deus!.. olha!
tem até barba!
As
idéias daquela criança voam como as nuvens...
Distraído, piso no
acelerador e o motor potente obedece, fazendo o velocímetro pular para 140 km/h. Assustado, volto para 120 e
tento manter assim; tenho certeza que é mais seguro.
Estamos subindo agora. O que
se esconde por trás daquela serra?
Lá, em algum lugar,
presumimos estar o oceano. Vamos nos instalar em uma casa de frente para a
praia.
Já sinto cheiro do mar, ouço
as ondas... quero ficar o dia todo sob uma sombra, tomando água de coco, bem
gelada.
De vez em quando, uma
cerveja e um espetinho de camarão. E gosto de ficar folheando um jornal.
Uma mulher bonita, pele
queimada, em minúsculas roupas passa e chama a minha atenção...
Há quantas horas estamos
viajando? Três horas? Quatro? Olho para
o relógio do painel e faço as contas. E sou senhor do meu tempo.
Estou tenso e sinto um
pequeno desconforto nas pernas.
Uma curva à direita e o sol
dá uma trégua. Preocupada com o filho, a mãe pede que ele troque de lugar. Daí
a pouco uma nova curva e voltamos á esquerda; novamente o sol no meu rosto;
novamente a mãe pede ao menino que troque de lugar. Ele resmunga antes de
obedecer.
Uma placa anuncia que um
quilômetro à frente, há um posto de gasolina e uma churrascaria: "a melhor
da região". Lembro-me que estou com fome; tomara que a comida seja mesmo
boa.
Nossa, que calor! quando
voltarmos vou instalar um ar condicionado no carro. E um aparelho de som
também; gosto de viajar ouvindo música
sertaneja. Mas isso vai depender do preço. Tenho algumas prioridades...
mas acho também que posso alterar minhas prioridades.
Agora estou parando para
almoçar...
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