quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Crônicas do Eugenio
















Quando a lua  brilha na cidade grande.
      Eugenio Franco
Acadêmico da ALAMI -  cadeira 99  

         Ele havia chegado do interior e sentiu-se perdido, no mundo selvagem da cidade grande; os sons lhe doíam os ouvidos, tantos prédios lhe bloqueavam a visão.
         Ele se sentia solitário em meio a tanta gente; gente que andava sem rumo, gente que não tinha tempo para viver.
Quando saía, perdia-se na confusão de tantas ruas e de tantos carros que zumbiam, urravam e buzinavam.
Seus pulmões clamavam por ar, sua visão se turvava e sua voz não se fazia ouvir.
         O sol parecia embaçado e à noite a lua era sem brilho no meio de tantas luzes. E quase não havia estrelas.
         Dentro de seu apartamento sentia-se enjaulado, inquieto e infeliz.
E ele sonhava poder voltar,  sonhava com sua casa ampla e arejada, onde nos finais de tarde podia deitar-se na rede à varanda e observar o por do sol.
         Assim, pensativo sentado em sua poltrona, próximo à sacada do terceiro andar, olhava para lugar nenhum, quando percebeu que havia um galho de árvore balançando, levado por uma brisa leve.
Observou mais um pouco e viu pousar um alegre casal de pássaros; havia um ninho e provavelmente alguns ovos.
         O homem ficou absorto e perdeu a noção do tempo. Já havia escurecido quando levantou os olhos; por trás de uma fila de imensos prédios de janelas cintilantes, ele percebeu que a lua brilhava na cidade grande. E sorriu.









POR TRÁS DAQUELA SERRA.
Eugenio Franco
Acadêmico da ALAMI - cadeira 99


Céu claro. Faz muito calor.
         Viajamos com os vidros abertos, o vento também está quente. Talvez eu devesse colocar um ar condicionado.
Meus óculos escuros, desses que se encontram em qualquer banca de camelô, amenizam a intensa claridade.
         Minha mulher me oferece água. Tiro o pé do acelerador, solto a mão direita do volante e pego o copo. A água está fria e eu sorvo devagar, apreciando cada gole, sem deixar de olhar para a estrada. Sinto que estou me refrescando por dentro.
Devolvo o copo e peço mais. A garrafa está quase vazia e recebo uma cota menor: dessa vez bebo depressa, pois um caminhão se aproxima de nós.
         A paisagem é nostálgica. Estamos descendo e à frente, podemos ver algumas árvores e uma ponte. Mais adiante estão as montanhas que crescem à medida que nos aproximamos.
 Algumas dezenas, talvez centenas de bois brancos pastam calmamente à nossa direita; o pasto está verde. Cada um de nós observa tudo.
         Por alguns décimos de segundo desvio o olhar da estrada, para o céu, onde algumas nuvens brancas, umas gordas e outras magras se formam e se deformam nas mais variadas figuras.  Volto os olhos para frente.
No banco traseiro as crianças também observam o céu e um dos irmãos descreve o que vê. Absorto  em meu silêncio interior, vagamente ouço o que o menino diz: cachorro! Elefante! Avião! Cavaleiro! Aquele é Deus!.. olha! tem até barba!
         As idéias daquela criança voam como as nuvens...
Distraído, piso no acelerador e o motor potente obedece, fazendo o velocímetro pular  para 140 km/h. Assustado, volto para 120 e tento manter assim; tenho certeza que é mais seguro.
Estamos subindo agora. O que se esconde por trás daquela serra?
Lá, em algum lugar, presumimos estar o oceano. Vamos nos instalar em uma casa de frente para a praia.
Já sinto cheiro do mar, ouço as ondas... quero ficar o dia todo sob uma sombra, tomando água de coco, bem gelada.
De vez em quando, uma cerveja e um espetinho de camarão. E gosto de ficar folheando um jornal.
Uma mulher bonita, pele queimada, em minúsculas roupas passa e chama a minha atenção...
Há quantas horas estamos viajando? Três horas? Quatro? Olho  para o relógio do painel e faço as contas. E sou senhor do meu tempo.
Estou tenso e sinto um pequeno desconforto nas pernas.
Uma curva à direita e o sol dá uma trégua. Preocupada com o filho, a mãe pede que ele troque de lugar. Daí a pouco uma nova curva e voltamos á esquerda; novamente o sol no meu rosto; novamente a mãe pede ao menino que troque de lugar. Ele resmunga antes de obedecer.
Uma placa anuncia que um quilômetro à frente, há um posto de gasolina e uma churrascaria: "a melhor da região". Lembro-me que estou com fome; tomara que a comida seja mesmo boa.
Nossa, que calor! quando voltarmos vou instalar um ar condicionado no carro. E um aparelho de som também; gosto de viajar ouvindo música  sertaneja. Mas isso vai depender do preço. Tenho algumas prioridades... mas acho também que posso alterar minhas prioridades.
Agora estou parando para almoçar...











 

 


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