segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Crônicas de Diogo Vilela



Construindo uma ruína

*Diogo Vilela


Fazia sempre parte da sua rotina uma analise de como as relações entre as pessoas haviam evoluído. E evolução não significa exatamente progredir, prosperar. Pode-se também evoluir para algo que te faça desaparecer, evoluir para a extinção, por exemplo.
Nesse sentido, mesmo que sentido algum fizesse, esse pensamento lhe era recorrente. Ele que sempre prezava por uma atitude positiva no sentido de contribuição para a sua sociedade progressista, cheia de dedos e valores deturpados, ficava às vezes exausto com sua até antiquada postura. Seus momentos de exaustão em meio a buzinas, faixas de pedestre, filas e pilhas de folhas, o faziam correr. Correr para refletir, a cada quilômetro, sobre a constante moléstia que se instalara e que teimava em não cessar, não ceder. A exaustão dele não era, nem de longe, física. Era uma exaustão sináptica, psíquica, humoral - na dualidade que o termo permite, e ele se percebia então em um momento deveras importante do processo histórico evolutivo de sua espécie.
Como exemplificar isso? Simples: um ladrão está te perseguindo, vocês dois na corrida de interesses: o ladrão querendo se dar bem em cima de você e você foge na intenção de se proteger, claro. Você não sabe de onde vem esse fôlego e energia para a fuga, mas a necessidade te faz seguir. Dobre a esquina a toda velocidade e dê de cara com um beco: três paredes, e a única saída coloca você frente a frente com seu algoz. É seu beco evolutivo, ele grita te convidando a entrar.
Essa analogia, recorrente e latente, era uma parceira e perfazia um panorama rápido e de fácil digestão para aquela ansiedade que às vezes batia. Imagine então a angustia de estar preso. Esteja livre de seus arquétipos, nada de jaulas ou celas e imagine algo logaritmicamente ampliado onde você não enxergue os limites, mas eles existem e basta que você se movimente para que tome conhecimento de suas amarras. Ele se percebeu assim e isso lhe servia de consolo, ao menos.

*Diogo Vilela
deeogoo@gmail.com

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