Fazia sempre
parte da sua rotina uma analise de como as relações entre as pessoas haviam
evoluído. E evolução não significa exatamente progredir, prosperar. Pode-se
também evoluir para algo que te faça desaparecer, evoluir para a extinção, por
exemplo.
Nesse sentido,
mesmo que sentido algum fizesse, esse pensamento lhe era recorrente. Ele que
sempre prezava por uma atitude positiva no sentido de contribuição para a sua
sociedade progressista, cheia de dedos e valores deturpados, ficava às vezes
exausto com sua até antiquada postura. Seus momentos de exaustão em meio a
buzinas, faixas de pedestre, filas e pilhas de folhas, o faziam correr. Correr
para refletir, a cada quilômetro, sobre a constante moléstia que se instalara e
que teimava em não cessar, não ceder. A exaustão dele não era, nem de longe,
física. Era uma exaustão sináptica, psíquica, humoral - na dualidade que o
termo permite, e ele se percebia então em um momento deveras importante do
processo histórico evolutivo de sua espécie.
Como exemplificar
isso? Simples: um ladrão está te perseguindo, vocês dois na corrida de
interesses: o ladrão querendo se dar bem em cima de você e você foge na
intenção de se proteger, claro. Você não sabe de onde vem esse fôlego e energia
para a fuga, mas a necessidade te faz seguir. Dobre a esquina a toda velocidade
e dê de cara com um beco: três paredes, e a única saída coloca você frente a
frente com seu algoz. É seu beco evolutivo, ele grita te convidando a entrar.
Essa analogia,
recorrente e latente, era uma parceira e perfazia um panorama rápido e de fácil
digestão para aquela ansiedade que às vezes batia. Imagine então a angustia de
estar preso. Esteja livre de seus arquétipos, nada de jaulas ou celas e imagine
algo logaritmicamente ampliado onde você não enxergue os limites, mas eles
existem e basta que você se movimente para que tome conhecimento de suas
amarras. Ele se percebeu assim e isso lhe servia de consolo, ao menos.
*Diogo Vilela
deeogoo@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário