*Prof. Msc Wilter
Furtado
Procuro sempre, às vésperas de
qualquer eleição, fazer uma análise pessoal e silenciosa sobre o futuro do
nosso povo, a partir do perfil e dos discursos dos candidatos aos cargos
disputados. Confesso que a cada eleição que passa essa minha preocupação
aumenta, diante da degradação total e crescente que vem tomando conta do
cenário sociopolítico do Brasil. Nossa sociedade chegou a níveis intoleráveis
de corrupção, de falta de ética, de corporativismo, desumanização,
irresponsabilidade, imoralidade, peleguismo, paternalismo, descaramento e de
afronta à nossa inteligência.
Minhas
análises estão sempre frustrando as minhas esperanças. A cada dia me convenço
mais que a culpa de tudo o que vem acontecendo conosco, e que em contraponto, a
solução para tudo isso, está na educação. Tive o privilégio de fazer parte de
uma geração de jovens, iluminados. De jovens que participavam ativamente dos
movimentos sociais e políticos; que se inspiravam em ídolos e líderes - que
aliás existiam - verdadeiramente engajados com as causas sociais e políticas,
e; cuja educação, antes de pensar na formação profissional ancorava-se e
respeitava os valores, crenças e princípios de formação do homem, enquanto
indivíduo social. Uma educação em que a cultura e o conhecimento andavam
juntos. Uma educação em que os jovens e as instituições, não negavam suas
participações e responsabilidade em tudo e por todos.
Infelizmente,
hoje os discursos de toda sociedade são populistas, vazios, castradores,
inconsistentes, aéticos, para não dizer horripilantes. Sem nenhuma inspiração
filosófica, são apenas manifestações de
incompetência, acordos, conchavos e de jogos de interesses. As inspirações e
aspirações partidárias não saem do seio das laudas dos Estatutos dos partidos,
totalmente desfigurados pelo sistema político que por sinal, é construído pelo
sistema educacional.
Procuro
suporte e esperança, nos jovens. Busco sinais, líderes e ídolos para o jovem,
analisando o cenário educacional e sócio-profissional. Procuro vê-lo através de
suas participações nas salas de aula e no trabalho e a ingerência que poderia
exercer nos Grêmios das Escolas, nos Diretórios Acadêmicos e Empresas Júnior.
Olhando mais para fora busco o jovem também nas Associações Comunitárias,
Profissionais, Religiosas, na Mídia, nas Associações Culturais, no Teatro, na
Música, nas Empresas, e também não o encontro, na forma esperada. Não o
encontro porque estou buscando-o onde ele não está... Porque em todas as
manifestações socioeconômicas e culturais, como berço, fonte e meios de sua
formação política, profissional e cultural, faltam a educação e os exemplos.
Afinal, onde estão nossos jovens aos quais, atribuo a responsabilidade por
resgatar nossa educação política e cultura?
Sem
dúvida estão escondidos atrás da nuvem negra do nosso sistema educacional
caótico. Estão a ouvir e aceitar os "filósofos modernos" de que nossa
educação é excelente e que aumentamos o número de universidades - de qualidade
desejável -; que temos milhões de alfabetizados, sem se preocupar que sejam
alfabetizados funcionais - aqueles mal conseguem ler e escrever coisas do
gênero "o boi baba", "a menina é bonita"; que não sabem
voltar um troco a quem dá cinquenta reais para cobrar dezoito reais; não
conseguem pensar, nem ressignificar nada. Mesmo assim, estão aprovados! São
jovens felizes porque o discurso coaduna com a esdrúxula cultura que o ensino
no Brasil tem que ser assim mesmo, sem qualidade, rápido e superficial, porque
precisamos formar para o mercado de trabalho. Que mercado é esse que eu não
consigo vê-lo fixo e concreto, se a dinâmica socioeconômica está a todo minuto
mudando os serviços, os produtos, a mão-de-obra, os desejos e necessidades
sociais? - São jovens condicionados a aceitar e não discutir por exemplo, o
discurso de que surgiu no País uma nova classe média (40 milhões) que é a
salvação do nosso povo e capitalismo, atribuindo o fato, às migalhas
distribuídas pelos programas sociais; esquecendo-se de todos os fundamentos
socioeconômicos que movimentam o mundo a cada instante. Ao contrário, o
discurso ousa e abusa dos coitados desaculturados, e incautos, afirmando que as
coisas não estão melhores ainda, por conta de um tal neo-liberalismo e de uma
tal globalização.
Estou
certo que outro modelo de educação possa mostrar a nossos jovens que fazer
política não é apenas participar da política partidária, e conduzi-los a uma
participação mais efetiva e direta em todos os movimentos sociais. Mas precisam
saber que são eles que poderão mudar tudo, inclusive a política partidária. Por
isso, precisamos pensar e discutir mais, a educação nosso jovem. Precisamos
conscientizar que infelizmente nossos jovens estão inseridos num meio
sociocultural massificado e alienante, carente de ídolos e de líderes; um meio
no qual não conseguimos localizar muitos indivíduos cujos discursos e ações, se
aproximem dos fundamentos e das filosofias pregados por um Nelson Mandela,
Mahatma Ghandi, John Kenedy, Juscelino Kubitschek, Madre Tereza, Che Guevara
etc (poderia encher laudas). Sei que muitos não saberão do que e de quem estou
falando. É porque na nossa educação e cultura estamos acostumados a perder
muito tempo em discussões para explicar que o paternalismo, ainda justifica a
esmagadora popularidade de uma "presidenta" que está
"contenta" com tudo, desde que a educação oriente o povo para o
consumo. Quero ver até quando essas situações se sustentarão!
*Wilter Furtado
wilter@com4.com.br