sábado, 23 de julho de 2016




AS MARCAS DE NOSSOS PASSOS 
Saavedra Fontes

No solo que eu pisei em minhas andanças, deixei marcas difíceis de serem apagadas, pois tenho vivido muito. É tanto o caminhar, que às vezes penso como puderam meus pés sustentar o peso de meu corpo e de minhas preocupações. Ando com os olhos nas nuvens, por isso são tantos os tropeços. Mas após cada queda sempre surge um homem novo, reequilibrado, feliz e este homem sou eu. A vida é assim mesmo, o problema é que nem todo mundo a reconhece como mestra, sempre a têm como algoz. Costumo dizer que a palavra mais linda do dicionário é “felicidade”, termo que engloba tudo o que é bom, amor, carinho, compreensão, prazer e muito mais.
Certa vez acolhi uma cadelinha “basset”, que havia sido atropelada no meio da rua e morreria se alguém não a socorresse. Foi um presente que recebi inesperadamente. Descobri com ela que a gratidão no mundo animal é muito mais explícita do que no homem. Não sei que nome teria antes, mas passei a chama-la de “felicidade”, tamanha era a alegria que ela transmitia. Reinou na minha casa por um curto tempo e morreu. Felicidade tinha as pernas curtas e a idade avançada, eu não sabia. Porém fazendo jus ao nome corria demais, chegou rápido ao fim. É o destino de toda felicidade ser efêmera... Mas deixou uma saudade enorme e um exemplo extraordinário de boa convivência.
Agora reflitam se felicidade não é isso mesmo. Eliminem do coração a inveja e o orgulho, o simples fato de superá-los causa imensa sensação de alegria. É como se numa batalha mortal fôssemos os vencedores, saindo ilesos e com imensa experiência para continuar vivendo. Há quem vê a felicidade como algo distante e impossível de ser alcançada, mas se enganam. Às vezes as menores participações são as que que nos envolvem de verdadeiro contentamento. Ser feliz é antes de tudo um exercício constante de nosso espírito, que sabendo moldar nossa personalidade nos faz pleno de satisfação e paz. Certa vez, há muitos anos, li no Reader Digest, que se a alguém acordar e começar a sorrir nas primeiras horas da manhã, inevitavelmente vai sorrir o resto do dia. Utilizei o conselho e confirmei a veracidade do fato.
Já dizia o um conhecido meu, “Luiz Fogueira”, assíduo filósofo de botequim, ao ser informado de que cachaça causa a cirrose e mata, retrucou “que o que tira a vida das pessoas é o pensamento”. Seu optimismo o mantém vivo até hoje, apesar do vício. Bens materiais, dinheiro, poder, que nada! Felicidade é saúde e bem estar, é o prazer de uma boa companhia, é uma família unida. Felicidade são os valores morais conquistados e o respeito adquirido durante nossa existência. Essas são as verdadeiras marcas de nossa passagem pela vida. Para consegui-las é preciso que a gente suporte o peso de nossa consciência e que pise forte o suficiente para deixar marcas, que permanecerão indeléveis como exemplo. Felicidade é chegar ao fim da vida e recolher nos filhos, através do olhar e dos gestos a gratidão por tê-los ensinado a caminhar.




Um comentário:

  1. A minha admiração por Saavedra Fontes pela qualidade de seus trabalhos literários. Parabéns!

    Enio

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