segunda-feira, 30 de julho de 2012

Crônicas de Diogo Vilela







Contato divino





*Diogo Vilela
Vamos começar com a perspectiva de Deus sobre sua soberania legal, em entrevista exclusiva.
Em um belo dia, Deus estava cansado de inventar animais, plantas, aplicativos de “smartphone” e times de futebol. Ele queria inventar alguma coisa diferente, que mudaria realmente o premeditado futuro de seu mais prazeroso planeta (leia-se babilônia). O que lhe parecia era que, não importa o quanto ele se esforçasse, não havia para ele um sentido real em tudo aquilo que ele tomava como sendo a sua realidade, não havia nada que o confortasse na sua aceitação enquanto entidade suprema, o cara estava chateado com o fato de ser imbatível. Em tempos remotos ele inventara uma coisa interessante, pensou então: eu tenho que me afirmar supremamente em algo, para isso é preciso que me avaliem e me aprovem de alguma forma, e sendo positiva a avaliação (algo como um ENEM celestial), não devo ser contestado em hipótese alguma, por mais idiota que seja a minha vontade e reflexão moral. Deus chamou isso de “dogma”. Completada essa primeira parte, ele conseguiu colocar à sua disposição, por muitos e muitos anos, diversos camaradas loucos por uma “fanfarrice” para tomar conta desse negócio para ele. Com isso foi vivendo de renda e pode se entregar a outros afazeres onipotentes. Um desses afazeres era a propaganda! Ele inventou essa ferramenta no mesmo dia que a internet, mas por um extravio do correio divino essa última só chegou ao conhecimento mundano milhares de anos depois. Enfim, com a tal da propaganda ele fez-se materializar de diversas formas no cerne dos hologramas mentais: barbudo, careca, cabeludo, velho, gogo boy, almôndega com espaguete, e por aí vai. Como se isso não bastasse, já naquela época havia o efeito colateral (tendo em vista que adão já havia mordido a maçã, a desgraça estava feita) e ele foi sentido na forma de algumas interpretações pirateadas daquela supremacia harmoniosa, fina e nauseante, e uma das mais famosas era a do Deus com chifres. Algumas mentes, ao serem condicionadas a aceitarem e bolarem em suas mentes a imagem de um ser poderoso, invencível e tudo de bom, às vezes lhe adornavam com um chifre ao associá-lo a algum animal viril, de porte respeitoso: boi, bode, veado. Numa dessas, um senhor que estava passando por um momento no mínimo sensível de sua existência, imaginou um deus carrancudo e dotado de belos cornos. Ele disse aos rapazes que foram em sua casa, e gentilmente lhe arrancaram metade dos dentes da boca a fim de afirmarem sua fé, que ele aceitaria numa boa, obrigado. Revoltado, ele inventou o Diabo. Deus estava encrencado, no mínimo, e era só o início de uma saga milenar por entre sinapses nervosas e derrames cerebrais. Mesmo com a concorrência infernal, Deus estava gostando de sua epopéia que a ferro e fogo vinha sendo escrita no lombo de fiéis indignos de entrar em várias moradas. Bem, esse é só um ponto de vista.

*Diogo Vilela
deeogoo@gmail.com
 
;