Welington Muniz Ribeiro - Murito
Pelo espelho vejo os olhos de quem tenta descobrir-me enquanto procuro entender quem me entende.
Ao longe, nas profundezas de um silêncio, vejo um pequeno gigante crescendo, crescendo, querendo abraçar tudo aquilo que meus olhos estavam vendo. Se fosse verdade, saberíamos entender a realidade? E, se for mentira, o que verdadeiramente seria?
Nascem no ego consciente, coisas através de reações citoplasmáticas que fazem do homem um escravo daquilo que não saberá como começou.
Transversal momento ambíguo da revolta natural de um ser humano coligado, grudado nas entranhas da natureza bela, desgastados pela ação egoísta daqueles que querem apenas ser um pedestal.
Dançam na mente esquizofrênica as púrpuras. Manchas produzidas e desenhadas como a imagem explícita de uma convulsão espalhada pela sua proposta de viver.
Ali, no centro de uma tela embaçada, enxergando um ponto negro que mais a mais se transforma pouco a pouco em vermelho e, neste, surge a imagem do olhar que, no seu íntimo, entende o seu interior através das reflexões de um encontro.
Assim como uma torneira semiaberta começou a projetar, pingo a pingo, água corporal, até que jorrou abundantemente, forçada pela pressão da caixa cerebral que estava sendo alimentada pela bomba de sinapses ligadas pelos complexos neuronais, vencendo a uma determinada resistência, que procurava não resistir àquela tempestade de ideias que produziam pensamentos para o além espiritual.
Esgarçada no centro da tela, na torneira aberta, crescia lentamente a aberração de imagens distorcidas, gota a gota, pela inércia áspera dos comandos ineficientes sobre um futuro qualquer, espelhado nas páginas em branco como resultado do quadro-verde, rabiscado por cores amarelas, transfigurado numa paisagem estabelecida pelo estranho silêncio de vozes caladas.
Tudo se avivava. Um jardim onde exala o perfume de suas flores explode ao vento e se expande, e se estende espaço afora, procurando encontrar inalações de suas manifestações. Essas flores graciosas buscam espelhar o brilho que transcende na direção daqueles olhos que murcham com o tempo e, assim, também aquele gigante menino que nascia e abria os braços à espera de braços abertos, o aconchego do carinho expresso neste início da vida.
Não sei se são suas ou minhas essas crescentes e decrescentes operações mentais que surgem após a agonia e a dor de torturas reais ou fantasiosas.
Como explicar a distância entre o real e o imaginário quando tudo acontece ao mesmo tempo como fuga de um tempo que dói nas lembranças?
Um passado que muitos viveram e nele sofreram por acreditar no direito de pensar, de amar e sonhar.
Nascia o jovem ao despertar e encarar o direito inalienável de ser, de ser humano. Acreditava nas imagens espelhadas e desenhadas nas telas da vida. Ser possível brincar e correr recebendo os pingos, gotas de água que caíam durante as chuvas que desciam das nuvens.
Não poderiam deixar de acreditar na vida, em jardins, em flores e de ter sonhos. Mas, eis que, na realidade havia olhos que o espreitavam, espelhos sem brilhos, surtos psicóticos, gritos agonizantes, autoridades insanas que enxergavam inimigos no corpo inocente de quem despertava para as ideias e pensamentos de ser um dia gente.
Mas a vida continua num vai e vem como ondas do mar, crescendo como jardins de flores perfumadas, tentando espalhar-se por esse mundo afora, demonstrando que vale a pena romper o silêncio, pois as páginas em branco serão escritas e desenhos surgirão do belo espetáculo da vida que será mais do que uma peça de teatro cantada, sabendo a hora de seguir.
- Sem correção. Está como veio na imaginação de um ato.
#Welington Muniz Ribeiro - Murito ( Médico e escritor, autor do livro "Embrulhado entre vírgulas e outros e outros contos)