O MUNDO DO CRIME
Os presídios brasileiros, reiterando o que é do conhecimento de todos,
são controlados pelos sindicatos do crime organizado. O Primeiro Comando da
Capital, o PCC, criado em São Paulo, se estendeu por todos os presídios do
País.
Os sindicatos estabelecem leis não escritas que regem a vida dos
presidiários, tem o domínio dos presídios e o poder de decisão sobre a vida e a
morte de qualquer pessoa, dentro e fora deles.
Se o preso for integrante do mundo do crime, ao chegar à cela é recebido
“na cordialidade”. Essa é uma das muitas leis não escritas que regem a vida dos
presidiários. Entretanto, se preso for novato, ele é recepcionado pelo
“piloto”, sempre escoltado por 4 presos leais a ele, a quem é dispensado o
tratamento de “senhor” por todos os presos e carcereiros. O “piloto” faz o
papel de juiz; decide as desavenças entre os presidiários.
Após a eleição do presidiário ao cargo de “piloto”, por voto direto dos
membros da organização, seu nome é levado ao líder do presídio, o único
autorizado a fazer contatos com a cúpula da organização. Na cúpula do PCC está
Marcos Herbas Camacho, o Marcola, e na cúpula do CV - Comando Vermelho,
Fernandinho Beira-Mar. Embora presos e incomunicáveis em presídios de segurança
máxima, seus assessores suprem suas ausências, fieis às estruturas das
organizações.
Primeira ordem ao novato: pagar R$500,00 pelo privilégio de dormir numa
parte menos fedorenta da cela e R$300,00 por um colchonete. A ele é entregue um
celular para fazer contato com a família e o número de uma conta poupança para
o depósito dos R$800,00. A conta é de laranjas que recebem aluguel para ceder
sua conta bancária para o crime. Para se livrar de assédio e estupro coletivo,
o “piloto” negocia com o novato uma quantia a mais a ser depositada.
Feito o depósito, o “piloto” transmite ao novato as leis não escritas
que disciplinam a vida nos presídios, momento em que se torna,
compulsoriamente, integrante do crime organizado, comprometido com o pagamento
de uma contribuição mensal, mesmo depois de solto.
Cresce, assim, o contingente da organização, sistematicamente, na
chegada de cada novato aos presídios. Em lucro, o crime organizado supera
muitos bancos e a tendência é emparelhar-se aos maiores num futuro muito
próximo.
Em virtude dessa folgada situação financeira, o crime organizado dispõe
de recursos para adquirir armamento sofisticado, patrocinar fugas mirabolantes,
subornar policiais e carcereiros, dominar o tráfico de drogas, financiar
assalto a banco, carro-forte, caminhões de carga, seqüestros, etc., e
o ex-presidiário que queira empreender um negócio dispõe de crédito
junto à organização a juros de 5% ao mês. Essa engrenagem assegura à
organização crescimento acelerado e ininterrupto.
Faltas imperdoáveis que são punidas com a pena de morte: não pagar
dívidas, caguetar companheiros ou desviar dinheiro da organização.
As celas são escritórios de trabalho. Ao telefone o dia todo, os
“pilotos” mandam matar, organizam sequestros e acertam o patrocínio de
assaltos. Um criminoso ligado ao crime organizado pode ligar para um “piloto” e
pedir liberação de dinheiro para a compra de armas, ou para o que for
necessário. Depois devolve a quantia emprestada e mais 10% do produto do
assalto. O PCC financiou famigerado assalto dos R$170 milhões do Banco Central
de Fortaleza.
Como se vê, temos nossas FARCs (Forças Armadas Colombianas) e seus
afiliados não estão mascarados e camuflados na selva; estão transitando entre
nós pelas ruas.
Jarbas W. Avelar
Advogado e Escritor