Uma boa noticia: A
"zona" vai fechar
Wilter Furtado
wilter@com4.com.br
Ultimamente, tem sido
difícil selecionar boas noticias nos noticiários do Brasil e do mundo,
principalmente quando se fala de cultura e educação. Os espaços sociais que
serviam ao desenvolvimento da cultura e da formação do indivíduo estão cada vez
menores, pelo fechamento de salas de cinema e teatros; pelo desleixo político
com as bibliotecas e museus; pelos pífios investimentos em educação e em
incentivos à cultura, às artes e à literatura, e; pela mercantilização e
politização do ensino. Ocupando aqueles espaços aparecem outras formas de
manifestações sem nenhum compromisso com a formação do indivíduo, com a cultura
e com o desenvolvimento social. Ao contrário, são espaços ocupados pela mídia
dominante para massificar o que chamam de entretenimento, extremamente nefasto
à sociedade.
Na última semana
permeando o cenário consegui pinçar uma boa noticia que se for verdadeira, trará
um grande ganho para nossa cultura e para o resgate do respeito às nossas
famílias. Pelo o que li, em breve, será fechada uma das mais perigosas zonas anti-culturais
e de alienação do nosso País, representada por alguns programas de televisão. Segundo
a noticia, o reality show Big Brother acabará. Alias é brincadeira chamar aquilo
de realidade, e como diria o gaúcho, chamar aquele bando de insanos de
irmandade é escrachetar com a nossa inteligência. Só se for para encenar relações
incestuosas como parte de nossa cultura. Denominada
pelo programa de "a casa mais desejada e vigiada
do Brasil" fico a imaginar o que aconteceria no seu interior se não possuísse
tantas câmeras, estrategicamente colocadas para angariar audiência e faturar
alto, e; sem nenhuma preocupação com o estrago que tudo que lá acontece, provoca
nos lares brasileiros.
Oxalá possamos
assistir a ruína das paredes de uma casa cujo interior não retrata nada ou
quase nada de nossa realidade a não ser, a inconsequência de um bando de
desocupados, desestruturados e "filhinhos do sistema", buscando espaços
nos camarins "globais" ou nas páginas da playboy; além dos carros e
presentes que levam, pela "coragem" que demonstram para disputar um
prêmio de R$ 1,5 milhão. Para acumular esse valor um trabalhador braçal que
ganha um salário, gastaria um pouco mais de 200 anos trabalhando
ininterruptamente. Logo, aquilo não representa realidade nenhuma.
É
de indignar. Enquanto os "heróis", "anjos" e
"lideres" - personagens criadas pelo programa - vivem nababescamente,
milhões de brasileiros vivem em barracos construídos nas favelas empinadas nas escoras
dos morros; víveres agonizantes por falta de infra-estrutura, de saúde, de
escolas; sem dignidade, à margem do emprego, da cultura e subjugados ao comando
de marginais. Enquanto os "ídolos" criados pelas imbecilidades
discursadas no programa, enroscam-se debaixo de edredons e de mantas
riquíssimas e sobre lençóis de cetins, para a prática de bacanais e
promiscuidades, milhões de brasileiros não tem sequer uma cama para dormir. Dá
para imaginar o que R$ 1,5 milhão pode fazer para uma dessas comunidades?
Faltam adjetivos para
qualificar corretamente as (ir) realidades do programa e de seus participantes.
Participando de festas lindas pelo luxo e dantescas pela essência, comendo caviar
e bebendo champanhe francesa e whisk escocês, nus
ou seminus à beira de piscinas ou nos incontáveis aposentos da casa, colocam
diante dos olhos dos incautos, intermináveis seções de luxúria e pornografia,
sempre regadas por um linguajar chulo e aviltante. Paradoxalmente não faltam
ainda no dia a dia daqueles "herois" manifestações de intrigas,
violência e de outros delitos sociais.
Pode ser que os
adeptos de tudo aquilo digam que é falso moralismo criticar aquele programa, e
que tudo se resolve com o controle remoto da televisão. Realmente, é óbvio que
o programa se torna uma opção, para quem possuiu mesmo que o mínimo de formação
cultural. O que se questiona é exatamente a pressão que ele exerce sobre os
desaculturados, pela força substitutiva que a grande mídia exerce na socialização
de tanta coisa imprestável, criando zonas perigosas de anti-cultura e
deseducação.
wilter@com4.com.br